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Segunda-feira, Abril 29, 2024

Pode um olhar imenso…

Economia

  • Discurso do presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança.
  • Campo de São Mamede, 24 de junho de 2023.

Permitam-me que me dirija a todos vós, inspirado pelo sábio da Igreja Santo Agostinho, e pelos três tempos por ele identificados: o presente das coisas passadas, o presente das coisas presentes e o presente das coisas futuras.

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O PRESENTE DAS COISAS PASSADAS É A MEMÓRIA. A memória de uma batalha que deu início à história de um povo e de um país milenar. A memória de uma batalha, a de S. Mamede, que nos traz aos alvores dos 900 anos do Dia Um de Portugal, para hoje aqui celebrarmos a nação portuguesa, e, dessa forma, preservar a memória coletiva.

O PRESENTE DAS COISAS PRESENTES É A VIDA. A vida que nos coloca perante uma cidade que tem como base do seu desenvolvimento a educação e a cultura, pilares dos pilares da matéria que deverá ser a dos homens do nosso tempo. Educação e cultura que, cremos, nos conduzem a um maior respeito pelos demais, a uma maior benevolência, e, consequentemente, a mais coesão social. Mas que também nos empoderam, nos qualificam, nos proporcionam mais e melhor conhecimento, fundamental para o equilíbrio que pretendemos estabelecer entre uma forte consciência ecológica e um crescimento sustentável do tecido económico, gerador de riqueza e de bem-estar social.

Uma cidade que, para tal, conta com os seus empreendedores ousados e inovadores, e com os seus cidadãos esclarecidos.

Uma cidade que vê na eco-cidadania coletiva, uma consciência que nos eleva enquanto comunidade responsável e atenta aos constantes desafios, independentemente do seu grau de dificuldade.

Uma cidade que sabe que uma forte economia depende de um robusto sistema de conhecimento, que Guimarães possui e do qual se orgulha, e que é constituído pelas suas universidades, politécnicos e centros de investigação.

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Uma cidade que vê na reunião entre empresas e centros de saber, o caminho para a descoberta de soluções que não dependam de visões repetidas e gastas, mas da criatividade.

Criatividade que não é apenas nova criação, é também a procura de novas formas de resolver velhos problemas, através da cooperação, da partilha de saberes, de uma nova postura que se liberte das amarras de um solipsismo que nos conduziu a um abismo solitário de certezas, e de um receio de nos abrirmos aos outros.

Hoje, o sucesso da economia depende do conhecimento, da investigação, do avanço tecnológico. Mas depende também do homem, enquanto ser relacional, que aprende, mas também sente, que reflete, mas também se emociona e empolga, que olha para o horizonte e caminha na construção de uma boa sociedade: inclusiva, de paz, de bem-estar, ambientalmente sustentável e de liberdade.

O presente das coisas presentes revela-nos ainda uma cidade que se desenvolve balizada pelas premissas dos desígnios maiores, como o que representa um título de Capital Verde Europeia, que Guimarães persegue, sem que de tal dependa, e uma cidade que despontou aos olhos da União Europeia como cidade-piloto para a neutralidade climática, porque soube merecê-lo.

Neutralidade climática que é meta para 2030, mas que para nós se torna uma meta que urge alcançar tão cedo quanto possível, para que Guimarães possa afirmar-se como ponto de referência, como uma espécie de “laboratório de inteligência coletiva”, para que a uma cidade possa corresponder um planeta, o nosso planeta, aquele em que queremos viver confortavelmente.

Pode o desenvolvimento humano ser completo sem o reconhecimento do papel da cultura, em ligação estreita com a educação e a formação, com a investigação e a ciência?

O PRESENTE DAS COISAS FUTURAS É A ESPERA. Vou chamar a esta espera, a esperança. A mesma esperança que, em 24 de Junho de 1128, alimentava o espírito de Afonso Henrique e suas tropas.

Um presente das coisas futuras que, a partir dos pressupostos da educação e da cultura, do conhecimento e da ciência, antevê Guimarães como um lugar de bem-estar, de conhecimento, de ciência, de inovação, de criatividade, de sabedoria coletiva. Um lugar onde se vive bem em comunidade.

Um presente das coisas futuras que prepara a emergência de uma “cidade suave”, possuidora de um sistema científico robusto e aberto à sociedade. Uma “cidade inteligente e inclusiva”, com cidadãos conscientes da necessidade de novas práticas e modos de viver.

Com este objetivo em vista, pretendemos, com a revisão em curso do Plano Diretor Municipal, abrir como possibilidade um novo desenho do território que privilegie a vizinhança e a colaboração, que acomode uma certa densidade de diversidade, que faça “acontecer”, numa lógica de resposta coletiva de proximidade. Um PDM que fomente núcleos de desenvolvimento competitivos e integrados: na economia – mais solo urbano industrial – e na habitação – mais solo urbano para habitação acessível ao nível dos rendimentos das pessoas, na base de um urbanismo ecológico e humanizado.

Um presente das coisas futuras que: acrescente cidade à cidade, dando-lhe uma escala mais robusta, sem que se perca a sua suavidade (para o que concorrem a instalação da Escola-Hotel do IPCA, na antiga Quinta do Costeado, e a candidatura da Zona de Couros a Património Cultural da Humanidade, aumentando a nossa área classificada em cerca de 20 hectares); reforce a coesão e unidade de todo o território do concelho, afirmando a centralidade das nossas nove vilas e qualificando as nossas freguesias; estruture a mobilidade para que esta possa permitir a convergência para a cidade, contrariando o processo inverso de fragmentação; fomente uma mobilidade urbana sustentável, por via dedicada ou sítio próprio, que acomode um sistema de transporte por BRT ou Metro Ligeiro de Superfície, e que acomode o transporte público de passageiros descarbonizado, já definido, na sua primeira fase, através do seu principal eixo – Sul-Norte: Lordelo-Moreira de Cónegos – Cidade – Ponte – Taipas; abra caminho para nova via do Avepark e para a interconectividade com a rede ferroviária de alta velocidade, cujos projetos, já financiados pelo Ministério do Ambiente e da Ação Climática, se integram no nosso compromisso coletivo para a sustentabilidade ambiental. Um compromisso coletivo que coloca Guimarães como Capital Verde Europeia, de facto, e que é reconhecido pela nossa condição de Cidade-Piloto para a Neutralidade Climática, bem como desafiado pela ambiciosa meta de uma Guimarães Cidade Carbono Zero.

Um presente das coisas futuras que se pretende alinhado com o domínio prioritário da Indústria e Sistemas Avançados de Fabrico, integrado na Estratégia de Especialização Inteligente da Região Norte da CCDR-N, nesta bem fundamentada Plataforma Regional de Inovação, em Guimarães, e para a qual se revela primordial o papel que terá a futura Academia de Transformação Digital, o DTX- Colab, a Associação Fibrenamics, o PIEP, os Cursos de Engenharia Aeroespacial e da Ciência dos Dados, da Universidade do Minho, e outras das suas Escolas e Centros de Investigação.

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Esta estratégia terá na Fábrica do Futuro um projeto que inspirará os nossos milhares de empresas, cujo “chão de fábrica” consolida o território como um território de forte identidade e raízes industriais, e que contribuirá decisivamente para a reindustrialização de Portugal.

E terá também no supercomputador da Rede de Computação Europeia de Alto Desempenho, instalado na Universidade do Minho, podendo, sequentemente, instalar-se o Centro de Competência em Cibersegurança, infraestruturas decisivas para as novas veredas da inteligência artificial e machine learning.

Estes são desígnios que não prescindem do concurso do Avepark – Parque de Ciência e Tecnologia, e do crescimento da Escola de Investigação em medicina regenerativa e biomateriais aí instalada. Escola de Investigação que, no seu novo edifício, o Instituto Cidade de Guimarães, poderá vir a beneficiar da criação de um HUB para a saúde, que se entende como um cometimento emergente e fundamental.

É este presente das coisas futuras – Senhor Ministro da Economia e do Mar, ilustres personalidades e convidados – que nos coloca perante uma escolha decisiva para o que será o futuro dos territórios, enquanto espaços vivos, provocada pela necessidade de dar resposta às alterações climáticas, às assimetrias de desenvolvimento, à eficiência energética, à digitalização da economia. Respostas que carecem de um desenho de modelo territorial coerente, que se alimente sinergicamente através de redes de cooperação intermunicipal.

Um modelo capaz de promover a igualdade de respeito e de uma vida digna e decente para todos, a salvaguarda do ambiente, e, ao mesmo tempo, capaz de incentivar um inovador crescimento económico, criador de riqueza e de bem- estar.

Um modelo de cidade que continue a promover a abertura de Guimarães ao Mundo. Uma abertura ao mundo comprovada pela presença dos dignos representantes de algumas das cidades geminadas com Guimarães, que nos deram a honra da sua presença nestas comemorações do 24 de Junho de 1128.

Estão representadas nesta sessão solene as cidades de Kaiserslautern (Alemanha), Londrina (Brasil), Ribeira Grande (Cabo Verde), Igualada (Espanha), Brive, Compiègne, Dijon, Montluçon e Tourcoin (França), e Mé-Zóchi (São Tomé e Príncipe). A troca de experiências com uma tão alargada geografia de cidades é fundamental para uma amplitude de horizontes e partilha de experiências que nos enriquece e nos inspira.

Falo-vos agora das ilustres personalidades que hoje homenageamos.

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A proposta de atribuição de Medalhas de Mérito Municipal a António Monteiro de Castro (Mérito Social), Manuela Alcântara e António Amaro das Neves (Mérito Cultural), José Neves (Mérito Empresarial) e Maria de Jesus Carvalho (Mérito Educativo), no âmbito das Comemorações do 24 de Junho – Dia Um de Portugal, foi deliberada por unanimidade na passada reunião do Executivo Municipal, de 22 de junho.

Caros homenageados,

Com esta atribuição, reconhecemos os relevantes serviços por vós prestados à comunidade vimaranense. Premiamos o vosso empenho e saber, assim como a vossa entrega altruísta e despretensiosa, virtudes que reconhecemos como fundamentais para o desenvolvimento de uma comunidade assente em valores de partilha e solidariedade. Virtudes que soubemos reconhecer em cada um de vós, em cada uma das vossas áreas de atuação e competência, e que tornam esta homenagem inteiramente justa.

Guimarães está-vos agradecida.

Termino a minha intervenção, dirigindo-me a Vossa Excelência, Senhor Ministro da Economia e do Mar.

E socorro-me de um artigo recentemente publicado, num jornal online de Guimarães, por um dos nossos homenageados, António Amaro das Neves:

O verdadeiro autor [da] expressão [“Aqui Nasceu Portugal”], que reúne os fundamentos da identidade vimaranense, é Agostinho de Campos. (…) A sua revelação foi testemunhada pela “escolhida e ciosa” assistência da conferência que fez na Sociedade Martins Sarmento, no dia 28 de novembro de 1927, intitulada “As pedras falam — Portugal visto de Guimarães”, onde disse:
“Quantas brisas, quantas ventanias, quantas tempestades não têm bafejado ou chicoteado as pedras do vosso castelo, e vede se a linguagem delas se calou, ou se, pelo contrário, não é cada vez mais forte, cada vez mais retumbante, cada vez mais solene, a voz com que essas pedras vos dizem e nos dizem: Aqui nasceu Portugal!”

Ainda que a memória possa ser utilizada para reconstruir os fatos históricos a partir de leituras individuais, não prescindimos da ideia de que “Aqui Nasceu Portugal”, e de que o 24 de Junho é o seu Primeiro Dia. Um pulsar coletivo que queremos ver estendido a todo o país. Um pulsar que se fez ouvir com a apresentação da Comissão Artística e da Comissão Científica dos 900 anos da Batalha de São Mamede, que teve lugar na passada reunião do Executivo Municipal.

Pode um olhar imenso, caber no peito tanto, que veja na “Primeira Tarde Portuguesa” não apenas o início dos inícios, mas o passado das coisas futuras?

Contamos com Vossa Excelência para nos ajudar a fazer de Guimarães, e de Portugal, lugares desta nova esperança, imprescindíveis para o futuro de todos nós.

Viva o 24 de Junho de 1128, Dia UM de Portugal, dia do passado das coisas futuras.

Viva Guimarães, Viva Portugal.

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