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Segunda-feira, Abril 29, 2024

São Torcato: as origens… remontam ao século X e são tema de conferências

Economia

‘Olhares sobre São Torcato’, fizeram recuar às suas origens medievais; o propósito da Irmandade com uma conferência que juntou especialistas nacionais.

A oportunidade serviu para se saber mais sobre os 750 anos da Irmandade de São Torcato e os 850 anos da carta de Couto de D. Afonso Henriques.

Estes ‘Olhares sobre São Torcato’ evocam “um culto milenar” e “um património imaterial”, conforme sublinhou Paulo Novais, juiz da Irmandade.

Por isso, revisitar “o conhecimento existente sobre o Santo Torcato” e não cuidar de o ir transmitindo de geração em geração, pode ficar no esquecido e no desconhecido.

Ora, se já havia evidências do Santo que dá nome à freguesia, desde o corpo, ao Mosteiro e à Basílica, factores que diferenciam quando se quer evocar São Torcato, juntam-se agora o conhecimento plasmado em livro, alinhando a literatura e o culto às outras evidências.

Mesmo com as naturais divergências de saber quem é quem, naquele período de mais de sete séculos, de versões diferentes sobre onde São Torcato está ou foi sepultado, a verdade é que foi possível chegar à baixa idade média para ali encontrar referências e indícios da existência do Santo.

São essas relíquias que deixam evidentes um Mosteiro (primeiro na igreja paroquial) e depois no outro Mosteiro, hoje, Basílica, e mostram um lastro de antiguidade que começa no século X – vestígios que também são arqueológicos. Aires Fernandes, investigador doutorado da Universidade de Coimbra, não tem dúvidas deste passado muito remoto de São Torcato.

Aliás, João Durães, mestre da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, defende que “há vestígios da igreja do século X” e onde “com probabilidade o culto a São Torcato aconteceu naquele local”.

Há evidências “do ponto de vista material”, como são as caixas de relicário, a juntar aos elementos arquitectónicos dos frisos de calcário, do antigo Mosteiro – hoje igreja paroquial. Estes são apenas alguns exemplos em que se pode confirmar haver “vestígios” que defendem a existência de São Torcato.

“Converge a ideia, de que com os frisos calcários, semelhantes a outras igrejas, do mesmo período, há uma associação a São Torcato, no século X” – sustenta João Durães.

© GA!

“Precisar uma data concreta de quando se deu a ocupação deste sítio” é um exercício que João Durães não faz porque também “nada nos garante que não haja ali vestígios anteriores da idade do ferro”.

Sabe-se que “este período corresponde com a expansão da Corte” e até as semelhanças entre São Torcato (em Guimarães) e São Frutuoso (em Braga) existem porque “são os santos da era espano-asturiana-leonesa”.

No debate sobre as origens de São Torcato, também interveio, embora como moderadora Inês Mineiro Abreu, doutora em história de arte medieval da Universidade Nova de Lisboa.

Interrogou porque é que na terra do granito, havia evidências de calcário, um material existente no centro país?

O calcário também se vê na igreja de São Frutuoso, em sucessivas camadas, identificando mais os usos funerários destes monumentos. João Durães regista que sendo São Torcato e São Frutuoso referidos no volume do período suevo-visigodo e moçárabe, e como a arqueologia e a arquitectura, em todos os tempos, guardam nos edifícios as modas de cada época, estes sinais são os que permitem situar – e esclarecer – que São Frutuoso é do período visigodo de 665 e aqui nada se encontra do período do século X.

Outra justificação para a existência de calcário no Minho, terra de granito, é simples, no entender do professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto: “a economia sempre sobreviveu às guerras, com as trocas comerciais que continuam a existir”, para além dos conflitos.

E “como as pedras falam…se perguntarmos às pedras”, as dúvidas deixam de existir. Um argumento mais para olhar para a frente “onde está o passado, que nós vemos e conhecemos”, acrescentando que “o futuro está nas nossas costas, não o vemos” – concluiu.

Também Aires Fernandes, nota que “a fase românica, vê-se nas paredes… da igreja românica onde estão os frisos”

Simplificando, “a história dos edifícios também nos permite compreender os contextos, locais, regionais e nacionais”, segundo Aires Fernandes que consegue perceber como “o mosteiro medieval de São Torcato – a igreja da paróquia actual – tem feições românicas”, o que o torna o primeiro exemplar com esta feição.

Aqui, Inês Mineiro acrescenta à discussão o facto de o crescimento do Mosteiro estar associado à Ordem de Santo Agostinho, e se tal, tem algum significado?

Aires Fernandes lembra que D. Afonso Henriques está muito associado aos congregantes de Santo Agostinho, por uma relação com os cónegos regrantes, mesmo quando estava em Coimbra.

Ora, São Torcato vai ter a sua carta de Couto e adere à ordem de Santo Agostinho, como nos diz explicitamente naquele documento, na tradução do latim para o português.

Rui Faria, doutorando em história acrescenta que o Mosteiro começa a definhar por influência das igrejas vizinhas que “alimentavam a à época o Mosteiro de São Torcato”. Então São Torcato já era local de culto no século XIII/XIV, sabendo-se que aqui havia um albergue para os peregrinos, o que alimenta a tese de que o sítio tinha já uma projecção forte na Idade Média.

Quando é que há uma referência directa ao corpo de São Torcato que a lenda conta ter sido descoberto num silvado?

Inês Mineiro coloca a questão e João Durães esclarece que as referências da carta régia de 1501, de D. Manuel I ordena que o corpo seja trasladado para a Colegiada de Guimarães. Mas não se sabe se foi feita.

Os especialistas defendem que “o corporal de São Torcato é como um panteão”. E já em 1726 quando se descreve o Mosteiro “se faz referência ao corpo de São Torcato como se estivesse em Santa Maria de Riba d’Ave” – diz o mestre da Faculdade de Letras.

São Torcato como local de peregrinação também parece não oferecer dúvidas, “uma vez que a veneração do corpo pode ter surgido como resposta à devoção de Santa Maria da Oliveira”.

Quando se procedeu à abertura do túmulo no Mosteiro (hoje, igreja paroquial), no século XVI “houve um religioso que veio pregar à Senhora da Oliveira, onde estavam os peregrinos para ver o corpo de São Torcato…dizia-se que o corpo estava em Celanova (Espanha).

Porém, persiste a tese que “vieram a São Torcato para abrir o túmulo onde estava o Santo Torcato” – conclui João Durães.

Sobre a questão se o túmulo já havia sido objecto de estudo, para se perceber melhor a sua origem, Aires Fernandes certifica que “a primeira referência que existe sobre este facto é de 1637” e acrescenta que “nunca houve estudo sobre este sarcófago, semelhante ao de São Frutuoso”.

A próxima conferência será em 27 de Janeiro de 2024 sobre o tema ‘Arquitectura e Arte’.

© 2023 Guimarães, agora!


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