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Quarta-feira, Maio 8, 2024

Needle: uma balada de rock progressivo no underground vimaranense

Economia

Os Needle são uma banda vimaranense de rock progressivo com influências do metal. Formaram-se em 2017, após a saída da vocalista e do baixista do grupo anterior, e, desde então, têm feito o percurso enquanto “banda de garagem”. Este ano, lançaram o álbum “Fall”, a 4 de Abril, que descrevem ser “um retrato de muito trabalho, exaustão, resiliência, perda e, acima de tudo, amor pela arte”.

Ao contrário da maioria das bandas com inícios semelhantes, os Needle têm vindo a tocar músicas originais desde os seus primórdios, ainda que com alguns covers à mistura. Quando começaram a actuar juntos, já tinham um EP que podiam apresentar em palco e, daí em diante, têm vindo a aumentar o espólio de criações originais.

O nome Needle, ainda que tenha surgido de anteriores projectos, acabou cimentado aquando de um dos momentos mais marcantes do início de carreira da banda. O UMplugged, um concurso da Universidade do Minho que dá oportunidade a bandas de garagem de actuarem no Enterro da Gata, exigia que os inscritos tivessem um nome oficial. O grupo acabou por vencer, em 2018, e tiveram a sua primeira actuação em frente a um público de dimensão profissional.

Direitos Reservados

“Tanto tens um inferno a arder como tens um jardim cheio de flores e unicórnios.”

A banda descreve que a música que fazem “nem é rock, nem é metal, mas de alguma maneira encontra-se no mundo do progressivo”. Explicam que nunca impuseram limites no que toca à criatividade e ao género, estando sempre dispostos a experimentar novos arranjos e misturas. “No fundo, eu vejo um bocado o progressivo como um choque de paisagens. Tanto tens um inferno a arder como tens um jardim cheio de flores e unicórnios”, nota o guitarrista, Luís Costa.

No novo álbum, em particular, a banda admite que as letras são “um bocado negras”, tendo em conta que parte das canções foram escritas e inspiradas pelo período de pandemia, destacando-se “Greed”. Ainda assim, é possível notar diferenças no tom das músicas pelo facto de algumas delas terem sido escritas com uma diferença de dois anos. O processo de composição foi inspirado, em parte, por filmes ou jogos, tendo a banda revelado que uma das músicas em “Fall” foi baseada no jogo The Last of Us. O dia-a-dia, as situações da vida e aquilo que os rodeia são também influências para a criação de novas obras. “Acho que passa muito, numa primeira fase principalmente, pela descrição de cenários que imaginamos que possam acontecer, seja na vida real ou não. Por exemplo, se pegarmos na Castle que fala sobre um libertar da pessoa, ou seja, são cenários pelos quais se calhar nós não passamos, mas que dá para imaginar que há pessoas que tenham essa experiência”, explica o baixista, Kevin Mota.

Direitos Reservados

A criação do álbum foi “intensa”: “Eu acho que foi o processo mais complicado que nós tivemos, em todos os aspectos”, revela Tiago Sousa, guitarrista. Luís concorda, acrescentando que “foi muito desgastante a nível pessoal, profissional, musical”. A banda acredita que a dificuldade esteve relacionada com “timings”, “imaturidade” e “não saber gerir expectativas”, especialmente porque ansiavam lançar o álbum antes da pandemia. “Tu às vezes tens aquela visão de que agora pegas em quatro músicas e arrumas isto em dois meses. Não, arrumas num ano, mas só vais perceber quando estiveres a passar por ela”, relata Tiago. É de realçar que nenhum dos membros vive apenas dos Needle, todos têm uma vida profissional ou académica fora da banda, o que, segundo os músicos, limita o tempo que podem dedicar à arte. “Às vezes tens só um dia por semana que consegues dedicar a isto e esse dia por semana são três a quatro horas e tornou-se muito demorado”, completa Luís.

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A reacção ao álbum tem sido “espectacular” e banda destaca as compras em pré-venda, uma semana antes do lançamento, as encomendas de merch e mesmo a recepção online. As duas apresentações do LP, a primeira no dia 12 de Maio no Café Concerto, no Centro Cultural Vila Flor, e a segunda no dia 20 do mesmo mês, na Casa do Artista, em Famalicão, também se mostraram um sucesso, pelo volume de público e vendas. O número de ouvintes no spotify cresceu significativamente aquando do lançamento do álbum, mas, para os Needle, a plataforma preferencial é o bandcamp. Segundo a banda, este não é apenas um serviço de streaming, mas permite também a venda de merchandising, tornando-se mais lucrativo para os artistas.

O lançamento de “Fall” é tido pela banda como um dos momentos “mais marcantes, mais sentimentais” do seu percurso. Destacam ainda as actuações, em 2019 e 2022, no festival Comendatio, realizado no Paço da Comenda, em Tomar, um dos festivais nacionais mais relevantes de música progressiva. “É um festival que traz as nossas bandas de referência e nós fomos tocar no mesmo palco que eles”, explica Tiago Sousa. Tocar no Art Club foi mais um marco importante no caminho da banda, sendo esta “uma sala de referência no norte”. Revelam que gostavam de alargar horizontes mais a sul do país, mas é “um bocadinho mais complicado”. “Sempre que nós conseguimos fazer um pequeno passo nesse aspecto, de abrir novas portas, de tocar em palcos maiores e mais conhecidos, essa marca vai ficando”, refere Tiago.

O grupo revela que está “mais complicado” encontrar espaços onde possam actuar, especialmente para bandas ainda em ascensão. “Antes tinhas mais bares com mais condições para fazerem este tipo de espectáculos. Agora está muito mais reduzido e é mais difícil o acesso”, desabafam. O problema passa, em parte, pelos estabelecimentos não aceitarem o valor dos músicos: “As pessoas ainda acham que 150€ ou 200€ para um grupo de cinco músicos que, em média a nível pessoal, investe dois ou leva quatro ou cinco mil euros em material a dividir por todos para um espectáculo, é muito dinheiro”, justifica Luís.

“Há muita gente a tocar em Guimarães e já houve muitos mais projectos que o que há agora.”

A solidariedade entre os artistas de música é, no entanto, um dos pontos fortes que destacam neste meio, em particular na cidade berço. “No fundo é um meio tão pequeno, mas ao mesmo tempo grande porque vais para uma cidade como Aveiro e não há esta cena no sentido de grupo de pessoas. Há muita gente a tocar em Guimarães e já houve muitos mais projectos que o que há agora, mas ainda assim há muitas bandas, muitos grupos e sente-se, pelo menos neste nicho do underground, sente-se muito que o pessoal se conhece todo e que se ajuda e vai a concertos uns dos outros e apoia e partilha as coisas”.

Relativamente aos apoios públicos, em particular fornecidos pela Câmara Municipal de Guimarães, a opinião dos Needle vai de encontro à de outros artistas que entrevistamos: “Apoios suficientes eu acho que eles têm, agora, se os dão a um nicho grande de pessoas? Não, ou a um nicho variado de pessoas? Acho que isso não acontece, mas, efectivamente, eles apoiam”, refere a vocalista, Soraia Silva. Reconhecem, no entanto, que não é um problema exclusivo de Guimarães, “é geral, é o país todo”. A burocracia é um dos entraves ao acesso a apoios: “Tudo que envolve a literacia financeira, etc, está tudo muito complicado, não é? Tu olhas e vês um formulário em que tens de fazer scroll durante uma hora e que 50% dos campos tu não sabes o que é que aquilo é”, argumenta Tiago. A solução passa, acreditam, por uma distribuição mais abrangente que, mesmo não cobrindo todos os custos, ajude a aliviar o esforço financeiro que lhes sai dos próprios bolsos.

O futuro dos Needle passa por aperfeiçoar os espectáculos ao vivo não se limitando a tocar as músicas, mas envolvendo mais produção visual, seja através das luzes, da interacção com o público e transmitir sensações. Alargar horizontes é outro dos objectivos, sair de Guimarães e percorrer palcos nacionais de norte a sul.

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