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Sábado, Outubro 5, 2024
Jorge Pinto
Jorge Pinto
27 anos, gestor de eventos, dirigente do Núcleo Territorial de Guimarães da Iniciativa Liberal.

Os recursos da Vimágua

Num mundo cada vez mais consciente das interações delicadas entre o homem e o meio ambiente, a sustentabilidade torna-se não apenas uma escolha, mas uma necessidade. No cerne desta discussão global encontra-se a questão vital da água potável. A água, esse líquido precioso que sustenta a vida em todas as suas formas, é um recurso cuja gestão responsável se torna imperativa. Enquanto nos deparamos com desafios climáticos e fenómenos extremos, como a seca que assola o Algarve, a importância da sustentabilidade hídrica atinge um novo patamar de urgência.

Em Guimarães e Vizela, a empresa responsável pelo abastecimento de água e gestão de resíduos é a Vimágua. A Vimágua é uma empresa pública de capitais públicos. O Relatório e Contas de 2023 da Vimágua afirma que houve um desperdício, ou como eles chamam “Água não faturada”, de quase um terço da água que a empresa capta (29,42%).

Este é um sinal claro de que a gestão eficiente dos recursos hídricos ainda está longe de ser uma realidade em algumas regiões.

A Vimágua, como entidade gestora, tem a responsabilidade vital de garantir um abastecimento de água eficiente e sustentável para as comunidades que serve. Desperdiçar um terço da água captada é mais do que uma falha operacional, é um ato de irresponsabilidade ambiental e uma afronta às crescentes preocupações com a escassez de água.

Enquanto a região do Algarve enfrenta uma fase de seca severa, a situação ganha contornos mais preocupantes. A água é um recurso precioso e escasso, e o desperdício não pode ser tolerado, especialmente quando outras partes do país enfrentam desafios hídricos significativos.

A quantidade de água desperdiçada equivale aproximadamente ao consumo anual conjunto dos habitantes dessas localidades.

A empresa em questão é uma empresa que tem lucro. E a partir desta informação cresce a minha curiosidade. Se considerarmos a significativa porção de água desperdiçada anualmente – cerca de 30%, conforme indicado nos relatórios recentes da Vimágua desde, pelo menos, 2020 – surge uma série de questões intrigantes: Se esses volumes de água fossem utilizados de maneira eficiente, poderia a empresa potencialmente aumentar os seus lucros? Em caso afirmativo, dada a natureza pública da empresa, poderíamos antecipar uma redução nas taxas impostas aos residentes de Guimarães e Vizela para serviços de água e resíduos? Este cenário ganha ainda mais destaque quando percebemos que nos anos de 2021, 2022 e 2023, a quantidade de água desperdiçada equivale aproximadamente ao consumo anual conjunto dos habitantes dessas localidades. Este paradoxo levanta questões cruciais sobre o impacto financeiro, ético e ambiental das práticas de gestão de recursos hídricos, assim como a gestão de recursos públicos por entidades públicas.

A relação entre o desperdício de água pela Vimágua e a seca no Algarve pode não parecer direta, mas há uma preocupação assente na importância da água desperdiçada para o futuro.

Em tempos de escassez, cada gota de água conta, e as entidades responsáveis pelo seu fornecimento devem assumir um papel proativo na preservação desse recurso vital.

Urge que a Vimágua reavalie e otimize os seus processos de gestão hídrica. Isso inclui a identificação e correção das razões que levam a estes desperdícios. Como pode haver promoção de uma cultura de responsabilidade hídrica para os consumidores quando são as próprias entidades que têm os piores comportamentos?

O desperdício de água pela Vimágua não é apenas um problema local, é uma advertência para todos nós sobre a urgência de repensar e reformar os nossos métodos de gestão hídrica.

Num mundo onde a água é um recurso tão valioso, a ineficiência no seu uso não pode ser tolerada, especialmente quando outras regiões enfrentam as consequências da seca.

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