Desde o início da pandemia que se sabe que o vírus é sobretudo mortífero para os mais velhos, e para quem padece de outras patologias, e que se propaga facilmente em áreas fechadas e densamente povoadas, como no caso dos lares de idosos e nas residências pequenas e mal ventiladas.
É também do conhecimento comum que com base nesses pressupostos, o governo estabeleceu como “prioridade a protecção dos grupos vulneráveis”. Como? Proibindo as visitas a utentes integrados em respostas sociais residenciais e ordenando aos idosos com mais de 70 anos a permanência no domicílio.
Os velhos – sim, vamos chamá-los assim e não “idosos”, um termo neutro, hoje politicamente correcto – foram, deste modo, enclausurados em casa ou nos lares, sem que se conhecessem quaisquer dados sobre as condições em que viviam e sem que se soubesse se os lares cumpriam ou não com o plano de contingência obrigatório por lei. Sabemos apenas que verdadeiros massacres ocorreram nos seus lares e residências.
Sabemos também que os massacres não ocorreram porque os velhos ignoraram as restrições impostas pelo Governo que prometeu protegê-los. Pelo contrário: ninguém cumpriu escrupulosamente as regras restritivas como eles.
O que matou milhares de velhos foram os espaços superlotados, as residências mal ventiladas as infecções contraídas nos hospitais e através de equipas médicas e paramédicas, familiares e funcionários, a solidão e um Governo que mostrou o mais absoluto desinteresse em proteger a sua saúde.
Desde Abril que os velhos residentes em lares representam cerca de 40% das mortes por covid-19 nos hospitais, segundo afirmou a ministra Marta Temido. Outros óbitos de velhos para além destes nem sequer eram dignos de registo.
Só em Janeiro é que ficamos a saber pelo INE que entre Março de 2020 e o dia 5 de Janeiro morreram em Portugal 123.409 pessoas, (mais 11.118 do que no ano anterior). Salientou o INE que 70% dos óbitos foram de pessoas com idades iguais ou superiores a 75 anos. E onde morreram os velhos? O INE esclarece: dos 123.409 óbitos registados, 74.966 ocorreram em hospitais e 48.443 fora destas unidades. Ou seja, em 2020 morreram 86.386 velhos. Repito. 86.386 velhos.
Quando questionada sobre o elevado número de óbitos, a responsável máxima da DGS, Graças Freitas, teve o cuidado de especificar, com espantosa facilidade, que a maioria dos idosos que morreram sofriam de outras patologias.
Visto assim, a mensagem da directora da DGS, repetida ad nauseam, parece dotada do mais elementar bom senso, tipo: os velhos estão condenados a morrer e se a covid-19 acelerou essa morte, não é nada de grave, eles já estavam destinados a morrer num futuro próximo. A culpa é deles por serem velhos e doentes. Não soframos por eles. São corpos inúteis que só servem para ocupar camas que são necessárias para outros doentes mais jovens. Pensando bem, o vírus veio libertá-los de mais sofrimento. Devemos ficar gratos ao vírus. Há muito que deixaram de essenciais para o esforço produtivo do país. Pelo contrário. São um fardo para a sustentabilidade da nossa Segurança Social.
Esta ausência de empatia e de compaixão explica porque razão os velhos com mais de 80 anos foram, deliberadamente, excluídos na primeira fase do vergonhoso plano de vacinação contra a covid-19. Foi preciso um dilúvio de indignação nas redes sociais e a pressão da Comissão Europeia para António Costa admitir a sua inclusão na lista prioritária para vacinação.
Isto num país onde há 153 idosos para cada 100 jovens, chega a ser ultrajante manter em situação de prisão perpétua os velhos que querem apenas ser lembrados e ajudados para não morrerem de solidão.
É, por isso, inadmissível que um ano depois do início da pandemia os velhos continuem a morrer aos magotes nos lares e fora deles, sem que o Governo assuma a inteira responsabilidade pelo que decretou ser a sua “prioridade total”.
É criminoso tratar a geração com mais de 80 anos como um resíduo humano. Assim como é igualmente criminoso um governo que diz publica e literalmente que quem vai para o hospital e corre o risco de morrer é um segmento específico da população.
E é uma vergonha que não exista uma voz em Portugal que fale em nome das vítimas deste massacre, e que pondere denunciar António Costa por crimes contra a humanidade, no Tribunal Penal Internacional em Haia.
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O artigo é mais do mesmo. Denotando aparente preocupação pelo velhos e mostrando a relação populacional entre eles e os jovens, resta perguntar á autora, aparentemente preocupada com a sociedade: tem filhos? -Está preocupada com a reposição geracional, em combater o Inverno demográfico que ameaça suicidar Portugal (e a Europa!), uma das heranças de Abril, crimes mil? Ou não passa da arte do discurso “enche sacos”?