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Guimarães
Domingo, Novembro 24, 2024
Filipa Leite
Filipa Leite
Advogada. Vimaranense born and raised. "Deixar o mundo melhor que o encontramos" é o seu modelo de vida. Uma boa conversa, um bom livro e um passeio ao ar livre são a sua terapia. Participar ativamente na sociedade, contribuindo para o seu desenvolvimento é um dever.

“Fratelli tutti”

Ou “Todos Irmãos”, numa tradução livre, é o título da nova encíclica do Papa Francisco, onde, mais uma vez inspirado pela vida e obra de S. Francisco de Assis (já tinha sido a sua inspiração na última encíclica “Laudato Si” em 2016) veio falar-nos de fraternidade e amizade social, trazendo a lume vários temas fraturantes da nossa sociedade civil, como o racismo e as perseguições religiosas, o direito de igualdade entre homens e mulheres, o flagelo das migrações e dos refugiados no mediterrâneo, a atual pandemia e o seu combate, com o princípio da dignidade da pessoa humana como pilar dessa basta reflexão.

Ao longo da carta, o líder da igreja católica tece considerações sobre as decisões e respostas dadas a estes problemas pelos diferentes países e os seus governos, dizendo que «a sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos». Faz, assim, uma análise do mundo do nossos dias, dos seu problemas sociais estruturantes, realizando um paralelismo entre o comportamento humano atual e a parábola do bom samaritano, dizendo que «a inclusão ou exclusão da pessoa que sofre na margem da estrada define todos os projetos económicos, políticos, sociais e religiosos. Dia a dia enfrentamos a opção de ser bons samaritanos ou viandantes indiferentes que passam ao largo» e que «a história do bom samaritano repete-se: torna-se cada vez mais evidente que a incúria social e política faz de muitos lugares do mundo estradas desoladas, onde as disputas internas e internacionais e o saque de oportunidades deixam tantos marginalizados, atirados para a margem da estrada».

Esta reflexão é desconcertante por tão verdadeira que é, leva-nos a um exame de consciência sobre a nossa responsabilidade sobre todos esses temas, sim, porque desengane-se quem pensa que cada um de nós, individualmente, não tem culpa porque numa qualquer parte do mundo são praticados crimes de ódio, desigualdades, pobreza, perseguições…

Somos responsáveis pelos líderes políticos que escolhemos, somos responsáveis pelas nossas escolhas ou pela falta delas, a nossa maior ou menor participação cívica…

Todos somos responsáveis, todos nós carregamos a nossa quota de culpa, seja ela por acção ou por omissão. Somos responsáveis pelos líderes políticos que escolhemos, somos responsáveis pelas nossas escolhas ou pela falta delas, a nossa maior ou menor participação cívica, as coisas que escrevemos ou partilhamos nas redes sociais, a passividade com que por vezes aceitamos a injustiça e a corrupção, que praticamos a indiferença perante as necessidades dos outros, tudo isso nos torna individualmente responsáveis pelo rumo que a nossa sociedade está a levar.

Um egocentrismo cego muitas vezes incentivado pelos decisores políticos, por movimentos que se formam nas redes sociais e que cobardemente incitam a virar-nos exclusivamente para dentro de nós, para dentro dos nossos países, das nossas economias, esquecendo que todos dependemos uns dos outros, todos precisamos uns do outros, como aliás, as grandes guerras do século passado nos ensinaram, mas que alguns teimam em tentar esquecer.

© 2020 Guimarães, agora!

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