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Sábado, Dezembro 7, 2024
Paulo Branco
Paulo Branco
Mergulhado mais de duas décadas no urbanismo e arquitectura, acostumou-se a reflectir sobre a organização humana e os seus efeitos em muitos sítios e cidades, alguns Países, e num único planeta que reclama uma mudança profunda de comportamentos. Amante da leitura e da música, acredita (ingenuamente) que o progresso assenta no desenvolvimento cultural e espiritual do indivíduo e das sociedades esperando que um dia o trabalho seja verdadeiramente libertador e a harmonização entre pessoas e o meio artificial e natural constituam a maior fonte de equilíbrio e felicidade.

Os dias em que a Terra parou

Confinado ao recolhimento doméstico (…), ponderei sobre a utilidade de lançar aos leitores redundâncias sobre o momento parecendo-me que, a visão de um arquitecto, muito pouco acrescentaria ao já amplamente divulgado – sobretudo quando não é sobre cidades e paisagens, mas sobre um Planeta em sofrimento, que urge ponderar. Perante o presente desafio torna-se-me obrigatório escrever como pessoa de pessoas simples ou poderosas e da sua condição individual e colectiva perante uma pandemia cujas causas e efeitos são tudo menos claros.

Iremos ultrapassar este momento mas não é nada cedo para reflectir sobre esses “Cisnes Negros da Modernidade” – imagem usada por António Costa Dias aludindo a Karl Popper – que irão assolar mais vezes as águas, as terras e os céus dos pobres ou ricos, solidários ou egoístas, com fogos incontroláveis, fome, doenças e guerras… se nada mudar. O tipo de vida contemporâneo, paradoxalmente individualista e massificado, desequilibrou um planeta sobrepovoado confinando a riqueza a menos de 1% da população. O sistema neoliberal cultua o Ter, inventa necessidades, desmata florestas, polui o mar e o ar, origina guetos de indignidade sanitária.

Os Poderes, concentrados em oligarquias e corporações situacionistas – das quais não nos libertamos – vão abrindo portas a reacções populistas que dividem sociedades, erigem muros, negam evidências ambientais e até o problema que vivemos. Parece pois estar-se numa encruzilhada, num colete-de-forças economicista, tecnocrático, fiscalista e legalista em que uma ínfima infração ao Código da Estrada é Crime perante uma Justiça corrompida, uma Bolsa omnipotente, uma Indústria de Armamento promotora de guerras ou Farmacêuticas suspeitas de serem parte do problema…

Inúmeras vão sendo as teorias da conspiração atribuindo este pesadelo a esta ou aquela Potência, multiplicando-se as acusações – há até livros, filmes e conferências onde se previa tudo isto e mesmo o nome da coisa… Sem demérito para os “visionários”, quedo-me por citar parte de um artigo de Rui Pedro Antunes no Observador de 20 de Março –“Especialistas ouvidos pela CNN explicam que foram as mudanças no comportamento humano – a destruição dos habitats naturais acompanhada de um grande fluxo de pessoas que existe no mundo –  que permitiram que chegassem aos humanos doenças que antes se ficavam pela natureza e que atingiam apenas animais.”

“Urge, celeremente, repensar a forma como
gerimos o nosso ecosistema económico, social e natural e como deverá ser a Vida…”

Talvez isto seja parte de uma verdade que, julgo, se resume numa simples frase – fragilização da biosfera. Fustigados pela insolidariedade internacional, pelas assimetrias generalizadas, maus hábitos alimentares, baixos níveis de educação e sentido critico, vivemos desencantados uma crise de Valores que nos fez esquecer o Ser e cujos efeitos vamos pagando caro. Urge, celeremente, repensar a forma como gerimos o nosso ecosistema económico, social e natural e como deverá ser a Vida, nos seus delicados e complexos contornos, depois destes desencantados dias em que a Terra parou.

© 2020 Guimarães, agora!

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