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Guimarães
Sábado, Abril 27, 2024
Paulo Branco
Paulo Branco
Mergulhado mais de duas décadas no urbanismo e arquitectura, acostumou-se a reflectir sobre a organização humana e os seus efeitos em muitos sítios e cidades, alguns Países, e num único planeta que reclama uma mudança profunda de comportamentos. Amante da leitura e da música, acredita (ingenuamente) que o progresso assenta no desenvolvimento cultural e espiritual do indivíduo e das sociedades esperando que um dia o trabalho seja verdadeiramente libertador e a harmonização entre pessoas e o meio artificial e natural constituam a maior fonte de equilíbrio e felicidade.

Arquitetura e Moralidade

A moralidade aprofunda o conteúdo da experiência arquitetónica. Mas a arquitetura, por sua vez, amplia o escopo da nossa moralidade”. Geoffrey Scott, A Arquitetura do Humanismo (1914).

Uma “enfase historicista no progresso e na superioridade da novidade chegou perto de minar, por um lado, a nossa apreciação do génio imaginativo do indivíduo e, por outro, a importância da tradição artística” disse o historiador David Watkin no seu Morality and Architecture em 1977, no estertor de um modernismo decadente.

Hoje, a complexidade e os rápidos avanços e recuos do processo histórico, colocam a responsabilidade do indivíduo, do arquitecto, no rigor intelectual da sua obra e na autoconsciência das suas insuficiências – ele não é mais o redentor da sociedade (como entre as duas Grandes Guerras), nem o promotor do frio funcionalismo; a História, enquanto manancial de conhecimento e convulsões dramáticas, coloca-o numa encruzilhada entre cultura local e influências internacionais globalizadas (ou da moda) ou, se preferirmos, entre uma certa tradição encantatória (efabulada) e uma determinada novidade glamorosa – um proto futurismo.

Numa vertigem relativista, aparentemente paradoxal (em que a dimensão economicista não é irrelevante), onde reside a quintessência do ser arquiteto? Na cultura, no espírito critico, na liberdade responsável?

O que clama a sociedade?

Algumas obras tem um valor estético e urbanístico notáveis – veja-se o caso de museus e auditórios superlativos à dimensão utilitária – o Guggenheim, promotor da própria regeneração urbana de Bilbau, a casa da Música, redentora da Boavista no Porto ou, mais perto, o Centro Internacional das Artes José de Guimarães que deu um luminoso folego ao antigo Mercado Municipal…todos estes edifícios, como muitos outros, libertos dos cânones ortodoxos, elevam-se pela novidade que resulta de uma aprofundada busca intelectual, no método e na criatividade. Estas novidades são progresso!

Ao mesmo tempo, as nossas cidades históricas, tão apetecíveis à gula do mercado, mascaram-se literalmente num fachadismo de pseudo-reabilitação que ofende os elementares Princípios tão bem sintetizados pelo filósofo Karsten Harries – “Desde o início, a arquitetura tinha uma função ética, ajudando a articular e até mesmo estabelecer o ethos do homem – o nosso uso da palavra “edificar” ainda sugere a relação entre construção e ética”.

Talvez a “verdade” de antanho fosse património de apenas alguns mas, o verdadeiro conhecimento tende hoje a fazer substituir-se por uma discutível informação subordinando a Ética a frias e desajustadas regras…

Afirma Norberg-Schulz: a preparação dos arquitetos é insatisfatória! Não ousando contrariar o grande teórico/arquitecto, acrescento apenas que a essa insuficiência podemos adicionar o comportamento de uma sociedade pouco preparada que, amiúde, usa a arquitetura apenas para construir e não para “edificar”. Outras vezes, amplia o escopo da nossa moralidade e promove o próprio sonho!

© 2019 Guimarães, agora!

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