“À mulher de César não basta ser séria, tem de parecer séria”. Se nos debruçarmos sobre esta expressão podemos de forma clara associá-la a inação política, destacando a importância não apenas de boas intenções ou integridade moral, mas da perceção pública de que essas intenções se traduzem em ações concretas. Na política, o que está em causa não é apenas o que os governantes “são”, mas sobretudo o que “fazem” e como isso é “percebido”. Quando falta ação, mesmo que existam boas razões, no seu entender, por trás dessa paralisia, as pessoas rapidamente perdem a confiança e o respeito pelos seus líderes.
Em tempos de crise ou incerteza, a inação política é especialmente perigosa. Esperam-se respostas rápidas e eficazes aos problemas do dia a dia, desde questões económicas até temas sociais. No entanto, quando um político adia decisões ou evita enfrentar desafios difíceis, a perceção pública é de imobilismo, falta de liderança ou, pior, de incompetência. Mesmo que tenham intenções sérias e éticas, se essas não se materializarem em ações claras, a confiança desmorona-se.
Este fenómeno é especialmente visível em momentos de crise. Se se optar por uma postura passiva ou demorada a reagir, a sensação de abandono instala-se. Aparece um sentimento de que os seus representantes estão desconectados da realidade e, pior, que não têm vontade ou capacidade de resolver os problemas que realmente importam. Assim, a inação transforma-se num catalisador de desilusão e desconfiança.
A inação política não significa apenas a ausência de grandes reformas ou decisões estratégicas. Pode manifestar-se na lentidão burocrática, na falta de comunicação eficaz ou na incapacidade de tomar decisões. Muitas vezes, os governantes preferem evitar o desgaste político associado a medidas difíceis, optando por uma postura de “deixar andar”. No entanto, essa falta de coragem para agir, mesmo que motivada por um desejo de evitar conflitos, acaba por minar a confiança em si depositada.
A verdade é que, em política, não basta “querer fazer”; é preciso “fazer” e, mais importante, “demonstrar que se está a fazer”. A perceção de inércia é tão prejudicial quanto a inércia em si. Quando os eleitores sentem que os seus governantes estão inativos ou não estão à altura dos desafios, a confiança nas instituições começa a desmoronar-se, levando à apatia e ao cinismo. E, nesse vácuo, prospera o desgaste.
Se a História nos ensina algo, é que a falta de ação política é um dos maiores responsáveis pela erosão da democracia. Governos que se mostram ineficazes, ou mesmo que apenas “parecem” ser ineficazes, criam terreno fértil para o descontentamento. É por isso, imperativo que os líderes políticos entendam que, tal como a mulher de César, não basta “serem” sérios e comprometidos; é preciso “demonstrarem” ser sérios e, acima de tudo, “agir” com seriedade e eficácia.
Num mundo onde a confiança nas instituições é cada vez mais frágil, a inação não é uma opção. Governar exige mais do que boas intenções ou ética irrepreensível – exige ação, transparência e uma capacidade constante de mostrar resultados. Caso contrário, os governantes arriscam-se a perder a confiança do povo, o bem mais precioso de qualquer democracia.
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