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Quinta-feira, Abril 18, 2024

O futuro chegou a Guimarães com o i4.0 – e “estamos todos convocados”

Economia

Portugal na rota de nova revolução industrial

O campus de Azurém da UM foi palco, no início do mês, para o lançamento da segunda fase do programa Indústria 4.0. O primeiro ministro esteve presente e ressalvou: “Temos de pedalar mais do que os outros.”

Em cada um dos stands que se estendiam pelo átrio da Escola de Engenharia da Universidade do Minho (UM) havia conhecimento materializado em inovações tecnológicas. Afinal, o campus de Azurém acolheu, no dia 9 de Abril, um dois em um: a Feira da Indústria do Futuro e a apresentação da segunda fase do projecto nacional Indústria 4.0 (i.40). O primeiro-ministro presidiu ao lançamento do programa e lançou, no final da sua intervenção, o repto: “Estamos todos convocados.”

Segundo António Costa, “esta é a primeira revolução industrial em que Portugal pode partir na linha da frente”, porque o desenvolvimento da indústria do futuro não depende da “localização geográfica” nem da “matéria-prima”, mas antes do “conhecimento”. Por isso, antes, o primeiro-ministro passou por todas as bancas das empresas presentes, ouviu as explicações dos seus representantes e experimentou as novidades que prometem acelerar a desenvolvimento das indústrias portuguesas.

Estes são exemplos que podem colocar Portugal “no pelotão da Europa” nesta corrida à digitalização da economia: é uma oportunidade para o país crescer “sustentadamente” ao longo da próxima década. “Temos de pedalar mais do que os outros”, disse António Costa.

Como? Através das 11 medidas, agrupadas em “três linhas orientadoras”: Generalizar, capacitar e assimilar. Estão previstos 600 milhões de euros para investimento nos próximos dois anos, que servirão para “alcançar e envolver” de mais de 20 mil empresas portuguesas, bem como a requalificação e formação de mais de 200 mil trabalhadores e o financiamento de mais de 350 “projectos transformadores”. Estas são linhas orientadoras que resultaram do trabalho do secretário de Estado da Indústria que lançou o programa i4.0, João Vasconcelos, que faleceu em Março passado. João Vasconcelos foi homenageado naquela tarde, tendo sido relembrado pelo “optimismo contagiante e energia inesgotável”, como referiu António Costa no início da sua intervenção.

É que Portugal não está, ainda, nesse pelotão. Segundo os dados apresentados por Jorge Portugal, director-geral da COTEC, só 25% das empresas portuguesas estão a acompanhar a revolução que a tecnologia impõe nas indústrias. Os números apontam para uma posição que se pretende melhorar: comparativamente com outros países da União Europeia, Portugal está a meio, já que 75% do “tecido empresarial” ainda precisa “de suporte no processo de digitalização”, referiu o director-geral da COTEC. Para inverter o cenário, é preciso “fazer isto de forma muito mais massificada”, afirmou Pedro Siza Vieira, ministro da economia. António Costa corroborou: “Temos de dar escala e replicar para tornar os 25% na regra.”

Oportunidades para a “geração mais qualificada de sempre”

Por todo o edifício da Escola de Engenharia da UM havia jovens curiosos que olhavam atentamente para cada um dos projectos dispostos nos stands. Outros escutavam atentamente cada uma das intervenções. O primeiro ministro falou para eles: o governo tem “o dever de criar oportunidades para esta geração”, a mais qualificada de sempre em Portugal. “Têm todo o direito de exigir de se realizarem profissional e pessoalmente em Portugal”, reforçou António Costa. Joana Coelho, 24 anos, e Diogo Constâncio, 23, são dois exemplos de jovens à espera de “agarrar esta oportunidade”.

Ambos apresentavam um demonstrador de visão computacional e de realidade aumentada a quem estivesse interessado (como o próprio primeiro ministro) e explicavam, detalhadamente, o trabalho desenvolvido pelo Centro de Computação Gráfica (CCG). A associação de investigação, desenvolvimento e consultoria foi fundada em 1993 e está instalada no campus de Azurém da UM.

O produto apresentado permite simplificar “todo o processo de fabricação de moldes”. Ou seja, os “óculos” 4D de realidade aumentada detectam toda e qualquer falha no molde em causa, com “alta precisão”. E este é só um exemplo. Para Diogo, estudante no Mestrado em Engenharia Informática, as medidas apontadas pelo programa i4.0 podem “ajudar a fixar jovens” não só em Portugal, como também “em Guimarães”. Para além disso, e no caso da CCG, “permite colaborar com empresas”. Já Joana, engenheira técnica de desenvolvimento na empresa, acredita que o projecto i4.0 “possibilita inovar mais”, mas a jovem considera que, por cá, “a revolução digital ainda não é tão grande” como em outros pontos do globo.

Uma academia para a indústria vimaranense

Guimarães quer fazer a sua parte neste processo. Foi acordada a parceria entre a Câmara Municipal de Guimarães, o Governo e a UM, que resulta no projecto I9G, que visa propulsionar a indústria 4.0 através de planos de inovação desenhados para as empresas do concelho. Essa mudança também passa pela transferência de conhecimento da universidade para as empresas – o que pode “atrair e fixar” talentos. O projecto conta em facilitar a logística e dinâmica de formação nas empresas através da Academia Industrial, que ficará situada em Pevidém. A sua criação representa um investimento de 200 milhões de euros.

Ainda assim, ambos reconhecem que a requalificação e formação de trabalhadores mais antigos das empresas portuguesas mostram “interesse”, para além de não existir “muita disparidade” entre conhecimentos. Os jovens ajudam, os mais velhos assimilam e reúnem conhecimentos: afinal, a passagem para a economia digital também se faz assim.

Nesse processo de transição, o Shift 4.0 pode prestar uma preciosa ajuda. Desenvolvida pelo ISQ e promovida pelo IAPMEI, a ferramenta proporciona um autodiagnóstico às empresas “de forma simples e automática”. Assim, avalia-se o “estado de maturidade digital” do negócio e, de acordo com o resultado final, obtém-se “um relatório com linhas orientadoras para melhorar o caminho a seguir rumo à indústria 4.0”.

Um estado “2.0”?

Na apresentação da segunda fase do i4.0, três empresários que colocaram as suas empresas no patamar de “maturidade digital” nos últimos anos, houve uma frase que gerou algum barulho de fundo e risos contidos. Para Sónia Calado, administradora da DRT, uma empresa de Leiria que actua na área dos moldes, “devíamos ter um Estado 4.0 e não 2.0, que é aquilo que temos”. As intervenções dos membros do governo presentes só viriam depois, mas a empresária insistiu que, no que toca a decisões, o processo “é muito lento”. E isso pode comprometer o desenvolvimento de certos projectos das empresas: “Quando se está um ano à espera da decisão, aquilo que era verdade no momento da candidatura já não o é no momento da implementação”. Para Sónia Calado não existe uma política de proximidade do estado para com os empresários. “Os órgãos de decisão deviam visitar as empresas e não avaliar as candidaturas só com base no que fica escrito”, defendeu. Jorge Castro, da Artnovion, que participou no mesmo painel, concordou com a administradora da DRT.

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