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Terça-feira, Abril 23, 2024

Encontro “Fora da Caixa”

Economia

“Vila Flor” cheio de empresários

A CGD trouxe os Encontros “Fora da Caixa” até ao CCVF e encheu a plateia com empresários da região do vale do Ave, durante uma manhã de Terça-feira.

Um painel de empresários, constituído pelo trio Vítor Abreu (Endutex), Luís Guimarães (Polopique) e José Fernandes (Frezite), animou os Encontros “Fora da Caixa” que se realizaram em Guimarães, no Centro Cultural Vila Flor.

Foi um encontro informal e descontraído que serviu à CGD para auscultar, ao vivo, o pensamento dos empresários não apenas sobre a CGD em si mas também sobre alguns assuntos que afastam o norte de Lisboa, colocando os centros de decisão longe do coração do tecido económico do país.

Até que ponto os empresários sentem que a distância com Lisboa é um problema?” O mote foi lançado pelo moderador do encontro, José Manuel Fernandes, director do jornal “Observador”.

Vítor Abreu, administrador da Endutex, salientou que o problema não era o da distância mas perceber “qual é o enquadramento” das empresas na economia. Reconhecendo que ser empresário e ter empresas em Portugal, “não é fácil”, Vítor Abreu defendeu que “o ambiente que se vive à volta das empresas é o de que estas são um dado adquirido”, o que não é totalmente verdade. Quando se fala da “precariedade” no mundo do trabalho também se devia “falar na precariedade das empresas“. E as duas duas coisas estão ligadas.

O empresário classificou os “empresários” como barrigas de aluguer: “devemos criar as empresas, depois de criadas vem o Estado nas suas várias vertentes a dizer que o bébé é meu, os sindicatos também e o empresário pergunta, afinal o bébé não é meu? E no final, ouve há sim você vai ficar com a pensão de alimentos…”

A plateia sorriu, mas não pela última vez, porque os oradores haveriam de contar histórias e estórias, da sua vida diária a que pouca gente dá atenção e importância mas que influenciam a vida real das empresas.

Sobre a distância… dos centros de decisão, Vítor Abreu já não sabe se é a de Lisboa, ou Bruxelas e Estrasburgo, uma vez que Portugal faz parte da União Europeia. E admitiu não senti-la, esclarecendo que “nunca trocaria a localização actual da Endutex para ter uma fábrica mais perto de Lisboa”.

Deu o mote sobre como a distância entre as empresas e a administração pode ser diluída: as nossas associações sabem que o lobby se faz em Lisboa, em Bruxelas e em Estrasburgo não para as questões do dia-a-dia mas para os problemas que o sector enfrenta. E elencou o ambiente regulatório “doentio” que a administração portuguesa e europeia estabelece para as empresas, sem “a noção do que a sua aplicação pode ter nas empresas ou mesmo o que estão a regular com esta ou aquela norma”. Diz o empresário que “ninguém quer saber das consequências dos regulamentos e das vantagens e desvantagens para as empresas se as aplicarem”. Citou exemplos, como a aplicação do SAFT – o sistema de reporte fiscal sobre a facturação – que permite que o historial das empresas, de clientes, fornecedores, preços de produtos, possa estar acessível, sem qualquer segurança, pondo a nú, o que devia ser apenas um segredo de cada empresa. Vítor Abreu disse que não querer fugir à responsabilidade de prestar contas e fornecer informação, reconhecendo que a estatística é importante, e considerou que “a informação a prestar no âmbito da facturação devia ser mais filtrada”, de modo a evitar que o que é vital para cada empresa possa cair nas mãos de outrem – e não apenas com o fim de combater a evasão fiscal.

José Fernandes, administrador da Frezite, por sua vez, foi crítico em relação “dar e dar” do Estado, por políticos e partidos que desconhecem “a origem do dinheiro e do rendimento”, sem cuidar de perceber o que se passa na economia real.

“Há uma dinâmica de acontecimentos na economia global que não é bem acompanhada pela administração. E que exigem uma rápida atenção de quem governa, num diálogo permanente com as empresas e empresários” – defende José Fernandes evidenciando a necessidade de a comunicação entre quem governa e legisla ou decide e quem executa e gera riqueza, ter uma margem mais estreita e mais próxima, para salvaguarda dos activos mais importantes do país.

“Essa ligação não existe e é tão importante e necessária” – disse o administrador da Frezite que quer combater o isolamento das empresas e a desinformação que se revela nos órgãos da administração. “Na Alemanha – o motor da economia Europeia – estão a passar-se situações que a indústria nacional já devia saber e adoptar. Há certos inputs de legislação que se conhecem já, de modo a prever o impacto do abrandamento da economia mundial que já se sente e para o qual não se preparam medidas”. É essa falta de proximidade, de comunicação e de conhecimento que a serem efectivos trariam mais benefícios à economia nacional. O administrador da Frezite citou casos de candidaturas ao Portugal 2020 que foram excluídas só porque a economia abranda e os incentivos orientados para elas deixaram de ser atribuídos. “Não podemos culpar os empresários por este abrandamento, por vezes sectorial, pôr em causa investimentos programados apenas porque há sinais de que a conjuntura pode mudar” – criticou. E justificou que é nestes casos que o governo deve ter uma orientação, de saber quais os sectores estratégicos e motores da economia nacional que podem arrastar outros sectores e subsectores. Citou exemplos, de princípios que ainda não chegaram a Portugal mas que já se praticam nos USA, Alemanha, Israel e França e que mostram como é bom estar próximo dos empresários quando há sobressaltos na conjunta económica, para tomar decisões.

Luís Guimarães (Polopique) reconheceu que “a distância faz sempre mossa” e lembrou que a CIP – Confederação da Indústria Portuguesa – raramente está no Norte porque só ouve os empresários da raia de Lisboa. “Ora, como é no norte que está o motor da economia, somos nós que trabalhamos e mais sentidos os problemas, só por isso se justificaria uma ligação e proximidade com os centros de decisão” – defendeu.

Outro exemplo, de como o diálogo permanente e a proximidade poderia resolver e atenuar problemas tem a ver com a classificação das empresas no âmbito das candidaturas do Portugal 2020. “O norte é formado por muitas pequenas e médias empresas, uma média empresa, em Portugal, que empregue mais de 250 trabalhadores já é para a União Europeia, uma grande empresa. Mas um grande empresa portuguesa confrontada com uma grande empresa da França, de Espanha e outros países não é a mesma coisa” – sustentou Luís Guimarães que defendeu que neste contexto os regulamentos dos fundos deviam ser revistos, sob “pena de penalização forte das empresas nacionais”.

Informou que há associações que estão a fazer lobby na Europa e criticou os governantes por nada quererem saber. “Somos considerados grandes em Portugal mas na Europa não passamos de uma pequena ou média empresa” – concluiu.

© 2019 Guimarães, agora!

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