Ainda sem casos dramáticos, a segunda urgência do HSO, instalada numa tenda, tem condições – pessoal e equipamentos – para tratar os pacientes de Covid19, mesmo reconhecendo que o vírus
seja um Cavalo de Tróia instalado em qualquer paciente.
O HSO preparou-se para uma afluência de doentes, superior ao normal. Com uma rotina diária, de atendimento a chegar às 500 pessoas, o serviço de urgência tornou-se exclusivo de casos urgentes comuns e para os suspeitos do Covid19.
Tudo o que era passível de adiamento foi protelado: consultas externas, tratamentos, visitas. Os serviços do hospital passaram a servir quem deles realmente precisa. Mesmo depois da reestruturação e ampliação da urgência, e da chegada de novos equipamentos.
Houve um investimento num segundo hospital – temporário e amovível – instalado numa tenda, por onde entram os doentes suspeitos de Covid19, o que constitui uma segunda urgência, operacionalizada convenientemente com pessoal e equipamentos. E com segurança bastante para doentes e pessoal. O bloco operatório foi “mobilizado” como área de cuidados intensivos, face à redução das intervenções cirúrgicas. E a ordem é fazer apenas cirurgias urgentes – do foro oncológico, de estados infecciosos, vasculares – por problemas de circulação – e de ortopedia.
Ainda no capítulo de investimentos, para além do hospital tenda, a administração deu atenção à compra de material novo, adaptou outro, e com os contributos da sociedade civil, das doações de empresários, empresas e cidadãos, reuniu o que era necessário para uma resposta adequada ao que pode ser uma solicitação anormal dos serviços hospitalares por causa da pandemia do vírus Corona.
Para Carlos Alpoim, as medidas de isolamento também funcionaram como uma arma contra o vírus. Esse confinamento explica os números de atendimento e de casos registados por infecção do Corona. Apesar de continuar a crescer o número de casos, em Guimarães, a situação mantém-se controlada, também pela dedicação dos profissionais, dos meios existentes, e da afluência à urgência. O hospital segue a regra geral de que só os casos mais complicados são internados, podendo o tratamento do vírus ser feito em casa de cada suspeito, mesmo enquanto se aguardam os resultados dos testes.
“Alguns entram pelo seu próprio pé, outros entram pela sala de emergência, como noutras situações. Nós estamos preparados.…”
“Há casos melhores e há casos piores”, é assim que o director do serviço de urgência do HSO responde quando lhe perguntamos se há casos dramáticos a registar. “Alguns – sublinha – entram pelo seu próprio pé, outros entram pela sala de emergência, como noutras situações. Nós estamos preparados. O HSO sempre teve condições para receber e continua a ter” – confirma, deixando no ar a satisfação de que “haveremos de ficar melhor quando as obras acabarem, em termos de infra-estruturas, de equipamentos”.
Porém, Carlos Alpoim, aceita que doentes com patologias de risco – cardíaca ou respiratória – possam sujeitar-se a complicações quando suspeitos de Covid19, o que eleva o estado de alerta do hospital. “Mas isso é a vida de um serviço de urgência” – esclarece sem drama.
Sobre números, o director do serviço de urgência não esclarece, nem informa. Nem sobre óbitos – um, em Guimarães, ao momento em que o entrevistávamos.
Em tom de desdramatizar, as consequências por este vírus desconhecido, Carlos Alpoim acredita que tal como aconteceu com a gripe, tudo será diferente quando houver uma vacina. “Se assim não fosse as mortes, por causa da gripe seriam muito maiores, todos os anos” – atalha, encarando a situação com naturalidade porque, afinal, o que é mesmo grave nesta pandemia é o alastramento do vírus que se espalha fortemente entre a população se não forem tomados os cuidados necessários.
Com a vacina, a mortalidade associada ao vírus Corona será controlada e só as pessoas com mais debilidade ficarão sujeitas a um tratamento hospitalar, sempre com o risco inerente a cada pessoa.
Carlos Alpoim não enjeita falar do drama humano que é ver gente a morrer por esta infecção. Mas encara este combate com naturalidade, defendendo a ideia de que “isto é como a história do Cavalo de Tróia. Não sabemos se o inimigo está à nossa frente ou, às vezes, dentro de nós”.
Encara esta luta com racionalidade e afectividade, o que nem sempre é possível, em situações de emergência. Mas sabe que quem está em medicina ou na enfermagem, é por vocação. “Não há ninguém que escolha a profissão de médico ou de enfermeiro que não deseje tratar do outro: o paciente. É nesse momento de dificuldade, de quem cuidamos, que temos de deixar tudo de lado. E sinto isso, em todos os que fazem parte da equipa fantástica com quem tenho trabalhado. E alargo, o conceito de equipa à administração que faz o que é possível fazer, à direcção clínica, a toda a gente que quer ultrapassar e vencer as dificuldades quando elas aparecem”.
Na campanha contra o vírus, tudo muda rapidamente. As normas da DGS, a afluência de doentes. “E vamo-nos adaptando” – confessa o médico. “No início de Março – revela – por muito que nos tivéssemos prevenido – e o nosso hospital fê-lo – com quase um mês de trabalho, tudo está a correr de acordo com a previsão estabelecida. Mas sempre com o inesperado a acontecer”.
Por isso, quando todos dizem que “o pior ainda está para vir”, a pergunta é: como será o pior? Carlos Alpoim, afirma sem dúvidas: “nós estamos preparados para o pior”.
“Eu acredito que por muitos bons resultados que venhamos a ter, vamos ter de continuar a prestar cuidados deste tipo. É por isso que acho importante que a população continue a ter um comportamento exemplar, não apenas em Portugal, como em Guimarães…”
“Eu acredito – continua – que por muitos bons resultados que venhamos a ter, vamos ter de continuar a prestar cuidados deste tipo. É por isso que acho importante que a população continue a ter um comportamento exemplar, não apenas em Portugal, como em Guimarães” – revela.
Esta pandemia tem exigido muitos dos profissionais de saúde. O director do serviço de urgência, não foge à sua missão, nem responsabilidade. “Todos os dias, de manhã à noite, estou no hospital, já não sei – desde o primeiro fim de semana de Março – quando é Domingo, Segunda ou Terça-feira. Antes, logo de manhã via, perto do Castelo, muitos turistas, agora só um ou dois, o que é sinal de que as pessoas têm cumprido com o recolhimento, evitando assim inundar os serviços do hospital, que só podem prestar um bom serviço, se não houver aglomerações. Não tenhamos dúvidas de que nenhum hospital aguenta lidar com todos ao mesmo tempo, seja aqui ou na Itália, em França ou na América” – afiança o médico.
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