Num cenário de dúvidas e perplexidade, o Arcebispo Primaz de Braga, indicou a fraternidade universal, como meio de fazer da Humanidade uma só família, e com alegria de viver em todos os cantos da Terra.
“Maria, cuidar, com amor” tema da Peregrinação à Penha, de 2021, foi o mote para D. Jorge Ortiga falar sobre o programa cuidar permanentemente.
Lembrando que a pandemia ainda anda por aí e que não podemos ficar indiferentes “ou ignorar que a crise económica e social por ela gerada se agravou” sem que ainda percebamos os seus contornos no presente e no futuro, D. Jorge Ortiga falou com “realismo” sobre o que se passa à nossa volta.
Não para lançar dramatismo nem anunciar más notícias. Porém, “o realismo deve incomodar-nos e fazer-nos pensar”.
Na situação ambiental do planeta e nas ocorrências climatéricas que lançam desafios “que não podemos negligenciar”; os conflitos do globo, sem sentido e incompreensíveis, que mostram um cenário de dúvidas e de perplexidades.
O que devemos fazer enquanto pessoas e comunidades? O Arcebispo Primaz admite que “a resposta é fácil de dar numa dimensão teórica”. Ou seja, “só uma fraternidade universal, procurando fazer da Humanidade uma só família, permitirá que haja alegria de viver em todos os cantos da Terra”.
Falando para para as gentes da Arquidiocese de Braga, acentuou que “os cristãos de Braga têm obrigação de o saber, pois, temos um Programa Pastoral que nos aponta o caminho a seguir”.
Esse caminho de acção pastoral foi iniciado com três anos “dedicados à fé” e nos converte “em discípulos missionários”, passou, depois, para “os caminhos da esperança, com o compromisso de viver intensamente a caridade”, nas comunidades paroquiais, de modo a “darmos à Igreja um rosto sinodal e samaritano”.
“Do amor nascem gestos, sem gestos, atitudes, realizações é o amor, mesmo que o chamemos cristão, é platónico e nunca pode identificar-nos. Para sintetizar projectos, pessoais e comunitários, escolhemos um verbo: cuidar”.
É com este “compromisso com a caridade samaritana” que D. Jorge Ortiga exorta os cristãos de Braga “a mergulhar nos problemas concretos que passam ao lado das nossas vidas e das iniciativas pastorais”.
“Vamos cuidar das feridas da fraternidade, das feridas das comunidades, das feridas da casa comum, das feridas das relações fraternas e das feridas dos jovens.”
Referindo-se ao tema da peregrinação, “com Maria, cuidar, com amor”, esclareceu que há “muitas feridas” que procuram resposta. E incitou: “vamos cuidar das feridas da fraternidade, das feridas das comunidades, das feridas da casa comum, das feridas das relações fraternas e das feridas dos jovens”.
Este universo exige dedicação e imaginação e o Arcebispo de Braga quer que “o compromisso de cuidar dos outros, em todas as ocasiões e em todas as nuances que a vida lhes proporcione” vá para além dos “cuidados sociais de dar de comer, de beber, de vestir, de encontrar trabalho”.
Deseja o representante da igreja no distrito que esta “aventura nos fará fugir dos esquemas rotineiros” e “sejamos capazes de reconhecer tantos rostos de sofrimento mesmo sem a visibilidade das lágrimas”.
“Pegar nas cruzes dos outros e da sociedade é o caminho a percorrer e é o modo para dizermos ao mundo quem é Cristo para nós. Teremos de calar muito as palavras ou fazer com que estas motivem a coragem para tornar o mundo uma única família de pessoas que se amam” – salientou.
Mais à frente, referiu que “a fé sem obras está completamente morta e só pelas obras mostraremos a nossa fé”.
📸 Município de Guimarães
Contudo, acentuou que “Cristo tornou a salvação uma graça acolhida mas que no coração do crente se transforma em semente transformadora das relações dos homens entre si e com a natureza”. Como construtores de “uma sociedade não dominada pelo interesse, muitas vezes por processos corruptos, mas pela alegria de colocar os outros no primeiro lugar”, D. Jorge Ortiga defendeu que “somos um único corpo”, pois, “não há raças, nem credos, muito menos partidos”.
Sobre a presença da Virgem Peregrina que a Irmandade da Penha quis ter presente para celebrar os 70 anos em que a mesma imagem esteve aqui no Santuário, disse que “chegou a muitos corações numa diversidade muito grande de situações”.
“Com Nossa Senhora de Fátima deveríamos peregrinar pelos caminhos das nossas aldeias, pelas avenidas das nossas cidades, pelos bairros sociais, por apartamentos onde a solidão se instalou, pelas cozinhas de muitos sem o necessário para a alimentação, pela necessidade de medicamentos a comprar, pelo drama de pagar rendas, luz e água” – sublinhou.
E disse rezar, diante da imagem da Senhora de Fátima para que “os nossos católicos abandonem a passividade e tornem o seu cristianismo um estilo de vida com opções concretas através de uma caridade interventiva e pro-activa que se torna visível em gestos policromados de harmonia com as necessidades”.
📸 DACS
“O cristão não é um teórico – admite – não vive de declarações de amor ou compromissos jornalísticos”. Mas “nas pegadas de Cristo assume o Seu sonho de uma Humanidade fraterna e igual”.
Defendendo gestos comunitários discernidos em comum numa Igreja que se quer sinodal e samaritana, D, Jorge Ortiga indicou que “há caminhos novos a percorrer e necessitamos de iniciativas que mostrem na caridade a vitalidade da fé”.
“O nosso caminhar é com todos. Teremos de reaprender a gramática da colaboração, da parceria para interpretarmos aventuras com pessoas de boa vontade.”
A terminar: “Peço à Senhora da Penha, a Nossa Senhora de Fátima que nos inspire na descoberta de gestos para cuidar. Temos a nossa responsabilidade pessoal e comunitária. Também não queremos ser uma Igreja fechada nas suas iniciativas que deveriam ter sempre a etiqueta de católicos. O nosso caminhar é com todos. Teremos de reaprender a gramática da colaboração, da parceria para interpretarmos aventuras com pessoas de boa vontade”.
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