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Quarta-feira, Abril 24, 2024
Carlos Fonseca
Carlos Fonseca
Fundador do atelier de arquitectura biológica Arquitectura Sensível, onde desenvolve projectos e productos ecológicos e saudáveis no campo da saúde na habitação. Há mais de vinte anos estuda e desenvolve competências na área da radiestesia e da geobiologia com profissionais de todo o mundo, aplicando os seus conhecimentos e métodos nas suas áreas de trabalho.

Uma Cultura para o Futuro

“De forma delicada, podes abanar o mundo” Mahatma Ghandi

A Cultura, construção estrutural de cada cidadão e um bem de inestimável valor para qualquer sociedade, deverá cumprir-se ao serviço de uma comunidade maior. A participação individual na construção de uma cultura universal, começa na identificação de cada um com a comunidade à qual pertence, pela integração e manutenção da identidade dos sítios, das comunidades, pela criação de qualidade de vida em ligação à natureza, de forma integrada e harmoniosa tanto com o construído, como com a paisagem e as memórias individuais e colectivas a estas associadas. Neste processo, a importância da participação das comunidades é fundamental para a manutenção da qualidade e identidade do territórios … E começa na nossa casa, no nosso bairro, na comunidade onde habitamos!

Nesta linha de pensamento e acção, em 1983 foi criada em Inglaterra a Organização Commonground (https://www.commonground.co.uk) com o principal objectivo de reconectar as pessoas com a natureza, inspirando as comunidades na responsabilização pelo ambiente onde habitam. Commonground como o nome indica – é o território comum a todos nós, por isso é uma questão que a todos diz respeito, e não só aos especialistas e profissionais. É também uma causa que pode ser acerca do comum e do próximo, como também sobre o raro e excepcional – estando sempre subjacente a ideia de proximidade e de acções locais ao alcance de todos – onde tudo parte da forma como observamos e definimos o território que partilhamos, para melhor dele cuidarmos e nele vivermos.

Em Commonground, é fundamental o trabalho desenvolvido em parceria com artistas, poetas, escritores, músicos, artesãos, ecologistas, arquitectos, historiadores, etc. em várias e estruturadas acções locais desenhadas com o objectivo de inspirar construções imaginativas e artísticas acerca do território. A promoção da importância das plantas e dos animais, a especificidade local e as ligações com o passado, explorando e desenvolvendo o valor emocional destes aspectos e as ligações praticas e e filosóficas entre as artes, assim como a conservação da natureza e da paisagem. Para este conhecimento de proximidade, tem vindo a desenvolver várias acções das quais destacarei algumas:

  • A implementação de residências artísticas das quais resultam projectos que em muito valorizam o território (de uma destas acções resultou uma peça de land art do internacionalmente conhecido artista Andy Goldsworthy);
  • A construção de mapas – Parish Maps – com sinalização de locais e elementos que são valorizados localmente enquanto objectos de sentimento de pertença física ou emocional;
  • O conhecimento das Árvores – Living with Trees -, dos Rios e dos ecossistemas a estes associados, sensibilizando para a importância da sua manutenção, limpeza e respeito;
  • Celebração dos Campos – Field Days – explorando os seus múltiplos significados e memórias assim como da fauna e flora que neles habitam, sensibilizando para a importância da sua salubridade e o despertar da consciência dos efeitos nefastos que advêm da utilização de pesticidas e outros tóxicos;
  • A realização de tarefas de acordo com o calendário, a celebração das estações, dos ciclos de plantação e colheita, para um entendimento mais profundo da importância vital dos ciclos da natureza e dos ritmos da vida;
  • O estudo das arquitecturas vernaculares locais, dos materiais, a sua ligação com a paisagem, a cultura e as comunidades onde se implantam e por fim, a organização de palestras e a edição de brochuras e livros como corolário, síntese, arquivo e divulgação destes projectos;

Acções que procuram a valorização das pequenas coisas que nos rodeiam, e não a celebração dos grandes e espectaculares eventos. Ou seja, do que verdadeiramente importa e, acima de tudo, está ao alcance de todos nós.

Estruturas como Commonground são importantes não só por levantarem questões essenciais em volta da natureza, da paisagem e da conservação, instruindo sobre o território em que habitamos, mas também pelo contributo na construção de um novo pensamento informado pela consciência da tradição, da pertença na comunidade e da paisagem (natural e construída) que nos rodeia – para conscientemente planear e construir um melhor e mais próspero futuro para as novas gerações.

Uma Cultura para o Futuro informada pelas tradições locais e alicerçada num sólido sentido de comunidade – que muito urge nestes tempos, em que os valores globais tão aceleradamente se sobrepõem às identidades locais….

© 2019 Guimarães, agora!

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