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Sábado, Abril 20, 2024
Álvaro Oliveira
Álvaro Oliveira
Sou alguém que escreve por gostar de escrever. Quem escreve não pode censurar o que cria e não pode pensar que alguém o fará. Mesmo que o pense não pode deixar que esse limite o condicione. Senão: Nada feito. Como dizia Alves Redol “A diferença entre um escritor e um aprendiz, ou um medíocre, é que naquele nunca a paixão se faz retórica.” Sou alguém que gosta de descobrir e gosta de se descobrir. E pensar. E refletir. E escrever aquilo que penso e aquilo que reflito.

Comunicação social portuguesa

Quando andava na faculdade, nos finais dos anos 80 e princípios dos anos noventa, li um interessante artigo de Opinião no jornal espanhol El País, sobre Portugal. No início dos anos 80, Portugal e Espanha eram países em vias de desenvolvimento. Tínhamos uma rentabilidade per capita inferior aos cinco mil dólares. Mas, para além de sermos países de emigração, vivíamos de costas um para o outro. Para Portugal, Espanha mal representava 5% do comércio exterior e, as trocas comerciais eram maiores com França, Alemanha, Reino Unido, Itália e Estados Unidos. No fundo, esse artigo de opinião era mais um demonstrar como os dois países vizinhos que entraram juntos para a então Comunidade Económica Europeia (C.E.E.) evoluíram. Por altura da adesão à Comunidade Europeia, Espanha era a quinta maior economia e Portugal a décima. Entre os diversos problemas que afetavam estruturalmente Portugal e Espanha, houve 2 que se destacavam: no lado da Espanha, a elevada taxa de desemprego; do lado de Portugal, a falta de infra-estruturas. Mas da análise dos vários pontos críticos feita por aqueles jornalistas espanhóis sobre a evolução de Portugal nos 5 anos de Comunidade Europeia, houve um que achei particular piada pela forma assertiva como foi dito e que me obrigou a estar atento e a dar razão a esses jornalistas. E o ponto foi este: Portugal demonstra ainda ser um país atrasado, quando as manchetes dos jornais generalistas portuguesas são sobre futebol. Adiantavam aqueles jornalistas que, era impensável, ainda nos anos 90, o El País, o Le Figaro, o Le Monde, o Guardian, o Times, o Bild, etc., destacarem na sua capa um jogador de futebol. Aliás, iam mais longe: era impensável dar sequer destaque a uma notícia de desporto (naturalmente, com a exceção de um grande feito, do género a seleção tornar-se campeã do Mundo, ou uma medalha de ouro olímpica), ficando a secção desportiva relegada para as últimas páginas. Curiosamente, comecei a prestar atenção a esse ponto, e verifiquei que tal correspondia à verdade: Eram assim todos os jornais da época: o Jornal de Notícias, o Diário de Notícias, o Comércio do Porto, O Primeiro de Janeiro, o Correio da Manhã, o Público, etc. Na altura, em conversa com amigo meu sobre este fenómeno disse-me que o seu irmão tinha estado um ano nos Estados Unidos a fazer um curso de televisão, andando por várias estações de televisão e rádio a estudar os mais variados programas. Contudo, quando chegou a Portugal sentiu que estava em Portugal quando chegou a casa, ligou o televisor e no Telejornal estava a ser entrevistado o Sousa Cintra. Na verdade, hoje como naqueles idos dos anos 90 do século passado, tirando os jornais já extintos e o Público, nada mudou. Os jornais portugueses continuam a ter a mesma filosofia de 1991, dando demasiado relevo às notícias sobre futebol e menos à vida política atualizada. Os telejornais continuam a dar relevo exagerado ao futebol. Ainda hoje, como disseram os jornalistas espanhóis, as nossas comunicações sociais mantêm o seu atraso em relação aos restantes países europeus, nada mudou. Em Espanha também não: continuam a ter uma taxa de desemprego elevada.

© 2019 Guimarães, agora!

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