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Sexta-feira, Maio 9, 2025
Sebastião Morais
Sebastião Morais
Advogado na QUOR, dedica-se a aproximar o Direito à sociedade civil, promovendo a literacia jurídica. À frente da QUOR Advogados, combina experiência técnica com prática empresarial, oferecendo uma abordagem clara e acessível sobre temas legais. É formado em Direito e pós-graduado em Direito e Informática.

Chegou Abril à Liberdade de Pensamento?

Estamos na véspera de mais um 25 de Abril. Comemoram-se 51 anos de liberdade e, por tradição, fala-se muito daquilo que já podemos dizer. Já ninguém nos cala, repete-se com orgulho. Se a liberdade de expressão é um direito conquistado, talvez valha a pena perguntar: e a liberdade de pensamento? Está garantida? Ou será que já nem notamos o quanto está condicionada?

Hoje, somos livres para falar, sim. Mas será que pensamos com liberdade? Quantas das nossas opiniões são verdadeiramente nossas? Quantas são reflexo de impulsos, de indignações instantâneas, de frases feitas que lemos, ouvimos, partilhámos – sem nunca as questionar? Vivemos mergulhados em estímulos constantes: notificações, slogans, comentários, indignações do dia. 

Pensar, nesse cenário, deixou de ser um exercício de autonomia – passou a ser uma reação condicionada.

As redes sociais criaram novos arautos da verdade imediata – sempre prontos a opinar, julgar, simplificar. Os algoritmos entregam-nos, todos os dias, o que já pensávamos ontem. Mostram-nos o que nos conforta, confirmam o que acreditamos e afastam tudo o que possa desafiar-nos. Sem confronto, sem contradição, sem silêncio. Pensar, nesse cenário, deixou de ser um exercício de autonomia – passou a ser uma reação condicionada.

A liberdade de expressão corre o risco de se tornar um simulacro se vier desacompanhada da coragem de pensar com profundidade. Não há Abril sem pensamento livre. E não há pensamento livre quando temos medo de discordar, vergonha de hesitar ou preguiça de ir além do primeiro impulso.

Celebrar o 25 de Abril é também recuperar o espaço interior onde se formam ideias, se mudam convicções, se acolhem dúvidas. É resistir à pressão para responder sempre, ter opinião sobre tudo e alinhar com todos. Porque há momentos em que o maior ato de liberdade não é falar – é ousar pensar por conta própria.

Como disse Salgueiro Maia, “há momentos em que é preciso desobedecer”. Talvez hoje, o maior ato de desobediência seja esse: pensar diferente. Sem medo. Sem guião. Em liberdade.

© 2025 Guimarães, agora!


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