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Sexta-feira, Abril 26, 2024

Na Mercearia do Zé cabe todo o “Portugal biológico”

Economia

Espaço bonito, de qualidade e de diversidade

O Programa da Incubadora de Base Rural já deu frutos – e hortícolas, compotas e outros produtos “cem por cento portugueses”, todos presentes na loja de Carla Lemos. O estabelecimento abriu no início de Abril.

Quem por ali passa só não repara na Mercearia do Zé se não quiser. Há muitas cores por detrás da larga janela, que aguça a curiosidade, e onde também se lê o nome da loja. O melhor é entrar. Ao balcão espera-nos Carla Lemos, a proprietária da nova mercearia vimaranense, situada na Rua D. João I, nº 210. Há estantes onde as compotas de vários sabores, cujos jarros são coloridos e bem artesanais, assumem protagonismo. Os rebuçados e pirolitos envoltos em tons pastel também roubam o olhar, assim como os cestos com pão escuro e as cervejas em garrafas gordas. Depende do gosto. Mas os reis da loja são as frutas e os legumes. Carla assegura: “É tudo cem por cento português, de pequenos produtores.”

Antes de abrir a Mercearia do Zé, a vimaranense de 46 anos trabalhava como administrativa. “Já tinha ideias de fazer alguma coisa diferente, mas faltava a parte do conhecimento”, explica. Surgindo a oportunidade, alavancou-se a vontade: “Decidi mudar um pouco a minha vida.” É que Carla foi uma das participantes da Oficina do Empreendedor e Elaboração do Plano de Negócio, um projecto da Incubadora de Base Rural (IBR), um projecto destinado “a jovens agricultores e empreendedores, residentes do concelho, desempregados e agricultores que se dediquem ao modo de produção biológico”.

A sua mercearia colorida foi a primeira, entre todos os projectos, a saltar dos papéis para a realidade. Pelo caminho, foi aprendendo mais sobre o que a terra dá, os negócios que dela se geram e conhecendo as realidades dos pequenos produtores agrícolas (e não só) portugueses. “Isto foi óptimo porque possibilitou-me perceber o fundo da questão, de perceber os produtos à parte biológica, para além de outros assuntos, como as certificações”, resume. À teoria, juntou a prática. “A IBR mostrou a realidade no terreno. Foi um trabalho de pesquisa muito intenso e deu para perceber as dificuldades que os produtores sentem, por exemplo.”

A “pesquisa intensa”, que refere mais do que uma vez durante a conversa com o Guimarães, agora!, reflecte-se um pouco por toda a loja. Há produtos de diversas regiões à espera de desafiar o palato de quem entra loja adentro. No balcão, uma pequena caixa da “Pedaços de Cacau”, marca de chocolate artesanal, representa Vila Nova de Gaia. A viagem de sabores pode levar-nos ainda ao pão de Penha Garcia, que traz a Beira Baixa a Guimarães, ou então a uma cerveja que é “Mesmo Boa”, de Melgaço (porque de lá já não vem só o Alvarinho). Mais? O azeite da Quinta da Fornalha leva-nos até Castro Marim, em Faro. Nos primeiros passos de um novo projecto de vida, Carla diz-se “confiante”: “Tem tudo para correr bem!” E os turistas já começam a aparecer e a comprar, bem como os portugueses, vimaranenses ou não. “Se as pessoas disserem que a loja tem produtos diferentes, fico muito contente”, diz.

Regressar às origens

Apesar da “novidade” inerente a alguns dos produtos expostos na Mercearia do Zé, Carla reconhece que, no fundo, existe um processo de redescoberta: “É voltar às origens, aos sabores de antigamente.” Como o caso dos pêssegos “que, hoje em dia, sabem tudo menos a pêssego”. O mesmo acontece com a disponibilização de sacos em pano, feitos pela CERCIGUI (que também ficou encarregue dos aventais), para voltar a fazer lembrar o consumidor dos tempos anteriores à chegada em massa dos sacos de plástico aos mercados, pequenos ou grandes. “Aviso sempre para voltarem a trazer o saco, porque não há necessidade de deixar de usá-lo.”

No meio de produtos biológicos e/ ou artesanais, e com clientes que falam outras línguas, há lembranças doces e com toque vimaranense para dar a provar o que é feito por cá: as passarinhas, em diferentes formas, que carregam anos de memórias açucaradas e uma tradição antiga. “Quem as fornece é a Dona Cidália”, conta Carla, que assegura já as ter apresentado ao seu filho. “E já passou uma senhora por cá que levou algumas para as netas provarem”, aponta, orgulhosa.

Porque importa conquistar as gerações mais novas: “Os millennials são o nosso maior mercado, claramente.” Considera que “os jovens estão a tentar” adoptar modos de vida ambientalmente sustentáveis “por todos os meios”, e vê isso em todos os que visitam a mercearia: “Se não for o português, é o estrangeiro, e ambos com a preocupação de comprarem biológico.” À consciência ecológica (uma moda que espera “ter vindo para ficar”) junta-se a necessidade de consumir “alimentos saudáveis”, que acabam por conquistar quem os prova pela primeira vez. Sim, porque se há coisa que podemos fazer na Mercearia do Zé é “provar e depois decidir” se queremos levar – para acabar com “incertezas” no acto de compra, como acontece nos supermercados.

Pelas grandes superfícies também existem corredores recheados de produtos saudáveis e “mais verdes”, havendo também espaço para hortícolas e frutas biológicas. São mais caros, tais como os que existem na Mercearia do Zé, e não são para todos os bolsos. Mas podem vir a ser? “Dificilmente. Se formos uma grande superfície, há muito mais produtos estrangeiros do que portugueses”, afirma. Por isso, e porque na loja só entra o que é totalmente português, “há obstáculos que podem jogar” contra negócios como este. Contudo, a concorrência não desmotiva Carla. Quer continuar a dizer às pessoas que “biológico não é a mesma coisa que ‘caseirinho’”, a abrir a porta a quem quiser descobrir, repetir a experiência ou voltar uma e outra vez mais. Ao seu lado tem a cunhada Manuela Lemos, “o braço direito”, que também trabalha na loja. Juntas, já levam para as suas casas alguns produtos da loja – “e os mais novos gostam”.

Para os próximos tempos, Carla pretende investir em workshops de alimentação e beleza, com base no que vai tendo pela sua loja, de acordo com a estação. A organização de lanches e outras refeições vegetarianas não estão fora das apostas. Para já, importa “fazer crescer a loja” e passar à mensagem à cidade.

Há uma viagem gastronómica bem guardada na Mercearia do Zé – e nem é preciso sair de Guimarães para a fazer. “São todos bem-vindos.”

© 2019 Guimarães, agora!

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