Uma fotografia, de um espectáculo, no Multiusos, provocou uma situação de alarme político e social, na gestão municipal, com reacções a quente, inusitadas, que espelham o nervosismo que vai por Santa Clara, face à impotência de lidar com a pandemia em todas as áreas.
Qual é a diferença entre um espectáculo do Nilton no Multiusos… e uma actuação da Orquestra de Guimarães, no CC Vila Flor?
A resposta é bem simples: uma fotografia que não distorcendo a realidade apenas a mostra de um ângulo diferente. Se alguém tivesse fotografado, de um ângulo esquisito a presença de público no Vila Flor o efeito seria o mesmo? E se a fotografia fosse logo publicada no Facebook, suscitaria as mesmas reacções, de ira, repulsa e indignação?
Porém, para além, de uma única diferença – fatal – há muitas coisas “iguais” entre os dois espectáculos, em tempos de Covid-19 – que se acumulam mais no centro de espectáculos e palco de cultura de Guimarães do que na “enorme” e multidisciplinar nave, pois ao lado do Palácio Vila Flor têm-se realizado mais episódios culturais do que na veiga de Creixomil. O público adere e tanto gosta de música clássica como de humor, de teatro como desporto. Com as infra-estruturas que construiu ao longo de décadas, Guimarães habituou os seus cidadãos a viver, de uma forma diferente, com mais qualidade de vida.
Ambos os espectáculos realizaram-se segundo as normas definidas na Resolução de Conselho de Ministros n.º 70-A/2020 (que declara a situação de emergência no âmbito da Covid-19) e com as regras da DGS publicadas para servirem de orientação, recomendação e procedimento. E foram-no do conhecimento público que aderiu com aceitação natural das regras existentes.
Para o espectáculo do Multiusos, foram emitidos 1003 bilhetes (de lugares sentados) quando a sua lotação é de quase cinco mil; no Vila Flor a capacidade é de 800 lugares sentados e a assistência foi de 400.
A Tempo Livre comunicou, por email, a realização do espectáculo à Unidade de Saúde Pública, à ARS Norte, à Protecção Civil de Guimarães, enviando para análise àquelas entidades os documentos com as regras de segurança que iam ser aplicadas nas sessões do “Stand Up Sessions”, ou seja dois documentos com 63 e 14 páginas onde se vertiam as normas para a realização de eventos e o plano de contingência próprio. Igual procedimento terá sido adoptado pela “A Oficina” em relação aos seus espectáculos.
STAND-UP SESSIONS | MULTIUSOS DE GUIMARÃES | 10.outubro.2020
Quer “A Oficina” quer o Multiusos, são equipamentos versáteis, bem construídos, com múltiplas possibilidades de entrada e saída e que permitem a melhor organização em cada espectáculo.
Em comum, também, têm uma gestão eficiente que não foi posta em causa até ao momento desde que abriram as suas portas, com um quadro de pessoal que executa os planos de segurança com eficácia.
E são liderados por pessoas responsáveis e que até agora não mostraram qualquer incompetência no desempenho dos cargos. Adelina Pinto, é vereadora da Cultura e responsável pelo que se passa em Vila Flor, tem sido adepta fervorosa da retoma das actividades culturais, não dando sinais de o fazer sem os cuidados necessários; Amadeu Portilha, já foi vereador, e na Tempo Livre tem uma função onde aplica os inúmeros conhecimentos que adquiriu na organização e gestão de eventos.
Neste quadro, quer a actividade cultural no Palácio Vila Flor, quer a que agora se retoma no Multiusos, são uma tentativa de voltar à normalidade, aceite pelas entidades que governam o país e as cidades, decorrem de procedimentos de segurança que são aplicados à risca, sem qualquer atitude negligenciável. E que os cidadãos respeitam, como respeitaram.
O exagero à volta de uma fotografia indica várias coisas. Uma, é de que estamos perante uma sociedade avessa a escrutinar a actividade pública e os comportamentos dos seus agentes políticos, bastas vezes medrosos que se deixam influenciar e alimentam até juízos negativos que são feitos mais à base de presunção do que evidências claras.
Outra é que o estardalhaço feito à base de um rumor fotográfico introduziu um facto político novo, na vida política local: a oposição pode estar à beira de se divorciar de um poder que apoiou sempre, evitando o incómodo, até agora, de dizer que o rei vai nú; de que os seus actores são mais “espertos” e percebem onde podem fazer mossa no couraçado socialista que já mostra alguns “rombos” ao fim de 31 anos de poder consecutivo, desde 1989. E não por mérito da oposição mas por demérito de uma liderança repartida, tripartida e partida em ambições pessoais e não de grupo, onde os “melhores” são ameaçados pelos mais “fracos”.
“Hoje voltaria a ver o espectáculo porque me senti segura, bem como todos que estavam no Multiusos…”
Bárbara Freitas, professora, assistiu ao espectáculo. “Senti-me ali mais segura do que no supermercado” – revela a Guimarães, agora!, enaltecendo o rigoroso cumprimento das regras pelo pessoal da organização e pelo público. “Hoje – afirma – voltaria a ver o espectáculo porque me senti segura, bem como todos que estavam no Multiusos”. Não viu ninguém insatisfeita com as regras definidas, à saída tudo foi ordenado e as pessoas seguiram as recomendações dos seguranças, sem ajuntamentos, nem cruzamentos, ou contactos interpessoais. Diz Bárbara que “estive distante da pessoa com quem vivo” e que “voltaria a repetir porque também em termos da desinfecção, tudo correu com normalidade”. Sublinha, por fim, que “não vi ninguém sem máscara e quando alguém punha a mão na cara, era logo alertado para não a tirar”.
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