A Cidade e a Arquitectura são espelhos da Civilização!
À semelhança do Coliseu, das Pirâmides, do Pártenon, assim hoje acontece com o Maracanã, o Louvre (de Pei) ou a Sagrada Família de Gaudi – a cidade e a arquitectura muito nos informam do nível de organização política, do desenvolvimento tecnológico, económico e social da vida quotidiana – se a conhecermos na totalidade…
Se a ciência, a filosofia, as artes em geral nos revelam da capacidade cognitiva, ontológica – não necessáriamente do todo, talvez apenas de alguns heróis – a cidade, na globalidade, e o meio natural são sinais expressivos da acção do ser humano, extraordinário e comum, do tempo, dos seus contrastes e paradoxos.
Muito se fala do declínio ocidental, da crise de valores, dos excessos poluentes de uma sociedade de consumo esvaziada, refugiada no individualismo (ou nas redes-sociais), distraída do bem comum ; vivemos tempos de crises, de (novos) movimentos migratórios, de ressurgimento de sistemas ideológicos (?) que julgávamos extintos. E se tudo parece aceitável, espectável, as denominadas massas parecem embaladas pela TV, resignadas no mal menor ou encolerizadas em extremismos epidérmicos. A sociedade, em si, parece virtual, joguete de informação/desinformação, expressando o frágil sentido comunitário nos “futebóis” – no gáudio da vitória ou na agitação agressiva; a Catedral contemporânea é, em parte, o espectáculo das multidões rigidamente conduzidas aos estádios ou em fuga das cargas policiais…
Para alguns impõe-se repor a ordem, reprimir o excesso de liberdades ; para outros, importa sim educar, (in)formar, cultivar…motivar!
Portugal é privilegiado pelo clima, pelas frentes marítimas; com recursos naturais e tradições inestimáveis, uma posição geoestratégica invejável e uma vocação universalista, este País hesita em restituir-se ao seu desígnio histórico – só possível com desígnios superiores, empenho colectivo e criatividade apoiados numa maior literacia, consciência do social e…do outro. Enquanto isso, no laxismo e na promoção económica (turistificada), vai-se expulsando os autóctones dos seus ecossistemas perdendo-se no processo o que atraiu, em primeira instância, os expulsores – desorganiza-se o social, derrete-se o património, material e imaterial, em micro e macro escalas, num território “litoralizado”, mal planeado, que todos os anos se lamenta em imensas fogueiras florestais.
Perguntar-se-á: mas estas matérias não serão mais do foro de políticos, sociólogos, “comentadores”, decisores…? Tem sido, mas enquanto nós, pessoas comuns – entorpecidos pela “fofoca TV” e futebóis – não passarmos a reflectir lucidamente sobre este mundo, esta Europa, este País, estas cidades, adicionando a uma visão do planeamento (do futuro colectivo) a noção cultivada de políticas de desenvolvimento espacial, social, económico e cultural, estaremos a demitir-nos da responsabilidade de cidadãos, refastelando-nos no sofá da inercia ou exibindo meros instintos primários.
© 2019 Guimarães, agora!