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Guimarães
Sexta-feira, Novembro 22, 2024
Daniela Cardoso
Daniela Cardoso
Arqueóloga, Conservadora Restauradora, Investigadora, dirigente associativa e especializada na área da Pré-história - Arte Rupestre pós-Paleolítica do Noroeste de Portugal. É Doutorada pela Universidade de Trás os Montes e Alto Douro onde defendeu a sua tese de doutoramento sobre a arte atlântica do Monte de S. Romão (Guimarães) e é autora de inúmeras publicações a nível nacional e internacional. Ainda como investigadora participou em diversos projetos relacionados com Arqueologia, Turismo e Património.

Curiosidades sobre os lugares mais antigos de Guimarães: A Penha

Os Montes da Penha (ou de Santa Catarina), de S. Romão e do Coto de Sabroso, todos no concelho de Guimarães, são detentores de inúmeros vestígios milenares. Neste texto (parte I), irei debruçar-me especialmente sobre o emblemático Monte da Penha.

O termo Penha, surgiu no imaginário popular devido à abundância de blocos/bolas graníticas nas vertentes e principalmente no topo do monte. Pela sua posição geoestratégica, pela sua altitude que permite um amplo domínio visual, pela abundância de grutas, abrigos e nascentes que brotam do caos de blocos, este local foi eleito como um lugar sagrado e “vivenciado” pelos nossos antepassados, desde a Pré-História até à atualidade.

As comunidades que frequentaram o local e viveram nos vales em seu redor, legaram-nos um conjunto considerável de achados…

As comunidades que frequentaram o local e viveram nos vales em seu redor, legaram-nos um conjunto considerável de achados, entre eles pontas de seta em sílex, em quartzito e em xisto, cerâmica diversificada, um braçal de arqueiro, mós, machados de pedra polida e de bronze, pontas de lanças, ocre (argila colorida por um óxido que se empregava em pintura) e até mesmo adornos em ouro como por exemplo a bracelete da Cantonha, proveniente do lugar do Souto Escuro, freguesia da Costa. Grande parte destes materiais, encontram-se depositados/expostos no Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento.

Em relação às cronologias destes vestígios, é possível admitir, pelo tipo de materialidades exumadas e pelas datas de radiocarbono, que o Monte da Penha foi frequentado por populações desde a Pré-história, principalmente entre o Neo-Calcolítico e o Bronze Final, isto é, entre o IV milénio a.C. e o séc. IX a.C, ou até em momentos mais tardios, eventualmente já na Idade do Ferro, embora para este período existam poucos dados.

©Direitos Reservados

A singularidade deste cenário “natural” localizado no curso médio da bacia do Ave, os vestígios descobertos e seus contextos, encontrados especialmente em grutas e abrigos, assim como as lendas e “estórias”, passadas de geração em geração, levam-nos a percecionar este Monte como um “lugar sagrado”, carregado de simbolismo desde a Pré-história.

Esse aspeto é mais visível desde o séc. XVI através das cruzes aí implantadas, da edificação das capelas de Nossa Senhora do Carmo da Penha e de Santa Catarina; das grutas e abrigos transformados para veneração a Santo Elias e a Nossa Senhora de Lurdes; do monumento ao papa Pio IX; da “sacralização” da fonte de Santa Catarina; do emblemático Santuário da Penha, monumento de singular beleza e valia arquitetónica e religiosa e da Ronda da Lapinha, procissão anual que é considerado um evento “único” pelas suas características religiosas, sociais, culturais e antropológicas.

O Monte da Penha, que foi arborizado somente durante os séc. XIX/XX, é um espaço de lazer, piqueniques e de desporto, considerado pelos Vimaranenses como o pulmão da sua cidade. É acima de tudo um sítio emblemático do concelho de Guimarães, simbolicamente ativo desde pelo menos há 5.000 anos, guardião das nossas memórias e detentor de um vasto património natural, cultural: material e imaterial.

Para melhor complementarmos uma visita à Penha seria ainda interessante adicionar-lhe uma visita ao Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento. Esse será o lugar de excelência para se obter uma melhor compreensão do passado milenar deste Monte, através do espólio aí exposto.

© 2021 Guimarães, agora!


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