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Quinta-feira, Novembro 21, 2024
Paulo Branco
Paulo Branco
Mergulhado mais de duas décadas no urbanismo e arquitectura, acostumou-se a reflectir sobre a organização humana e os seus efeitos em muitos sítios e cidades, alguns Países, e num único planeta que reclama uma mudança profunda de comportamentos. Amante da leitura e da música, acredita (ingenuamente) que o progresso assenta no desenvolvimento cultural e espiritual do indivíduo e das sociedades esperando que um dia o trabalho seja verdadeiramente libertador e a harmonização entre pessoas e o meio artificial e natural constituam a maior fonte de equilíbrio e felicidade.

Segunda Vaga

As exorbitantes indemnizações do Tratado, às quais se alia “oportunisticamente” a Gripe Espanhola, mergulham sobretudo os vencidos da 1ª Grande Guerra numa profunda depressão, numa perigosa polarização entre o ferido orgulho nacionalista e o excitado internacionalismo de inspiração Bolchevique. “Ultranacionalistas” e “progressistas” degladiar-se-iam nas ruas das cidades, no meio dos escombros político-sociais e da crise sanitária, até ao tristemente célebre Crash bolsista de 24 de Outubro de 1929 em que aqueles poucos que, na sombra, foram instigando a confusão e o divisionismo alegremente esfregavam as mãos perante o que aí vinha.

“As cidades sempre foram o espaço de “fermentação social” pelo que quase tudo se exprimiu e decidiu nessas ágoras do pulsar civilizacional…”

No meio do caos económico, a insulsa reacção das forças democráticas e um certo negativismo instalado nas sociedades europeias abrem uma auto-estrada a totalitarismos que conduzirão a Europa a tumultos, guerras civis e mundiais; no fim, a divisão das sociedades, criará um mundo bipolarizado, uma perene guerra-fria entre os grandes vencedores do século XX – E.U.A e U.R.S.S. Parece pois que a pulsão do poder, aliada à frustração, ao histerismo, inércia e medo, presentearam o oportunismo marcando assim os grandes acontecimentos do século passado – o mais inventivo e mortífero da História. As cidades sempre foram o espaço de “fermentação social” pelo que quase tudo se exprimiu e decidiu nessas ágoras do pulsar civilizacional.

Contudo, nas últimas décadas, a “democratização tecnológica” – televisões, jornais e, sobretudo, as ditas redes sociais – vem globalizando o palco o que, por si, poderia ser positivo se tudo não passasse de uma ilusória ideia de integração ou descentralização cultural – isto se, ingenuamente, entendêssemos que informação e cultura são a mesma coisa! Mas não! Alargado o palco à livre expressão, as “redes” vociferam todos os impropérios, da crise ética e moral cívicas, em pseudo sentidos críticos dispostos a estimular radicalismos e “verdades absolutas” que acentuam divisionismos.

São pois tempos inseguros, e pouco instruídos, estes em que se batalha frivolamente a favor de uma qualquer coisa (e do seu contrário), se elevam corrécios aos panteões e se derrubam personagens históricas – porque sim, ou talvez (…) – instigando-se a intolerância e a bipolarização sempre favoráveis a populismos que, ainda que de sinais opostos, convergem na falta de consciência do outro, do bem comum ou do equilíbrio planetário. Face a uma nova crise, todos os pérfidos “ismos” estão de novo a dividir-nos, sem meios-termos, entre “índios” e “cowboys” enquanto a “oportunística pandemia” – de novo aliada ao caos como origem ou fruto do estado febril – em nada ajuda ao necessário reencontro humano e desconfinamento dos ódios.

É pois de uma Segunda Vaga que se trata; uma, porventura, ainda mais nefasta, pronúncio de desastres que já presenciamos no passado. Acordemos rapidamente para a civilidade ou muitos irão sofrer enquanto apenas uns poucos, na sombra, esfregam alegremente as mãos perante o que aí virá.

© 2020 Guimarães, agora!

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