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Sexta-feira, Novembro 22, 2024
Miguel Leite
Miguel Leite
Natural de Guimarães, fisioterapeuta licenciado, com mais de 10 anos de experiência profissional, tendo já tido várias experiências profissionais (meio hospitalar, clínica, ensino especial em escolas e meio desportivo/desporto de alta competição). É também pós graduado em fisiologia do exercício e fisioterapia cardiorrespiratória. Têm outras formações complementares relacionadas com a sua profissão. Faz parte dos Bombeiros Voluntários de Guimarães, pertencendo desta forma ao atual corpo ativo da corporação vimaranense.

A porção mágica

A concretização de movimento corporal obedece a um determinado controlo neuro motor, desde gestos simples até outros mais complexos, controlado por estruturas centrais que delimitam uma tarefa a executar. Muitas vezes quando esse gesto específico, e pelas mais diversas razões, não é bem executado, encontrámo-nos perante a existência de uma possível lesão. As nossas ações têm repercussões externas e visíveis é certo, mas para que isso suceda existem numa primeira fase uma série de modificações intrínsecas. Se reportarmos esta situação à estrutura designada de cartilagem, verificamos que este elemento é fundamental para que os movimentos do corpo humano possam ser realizados com harmonia pela estrutura articular. A cartilagem funciona como um “amortecedor”, protegendo a superfície óssea em termos articulares de grandes impactos inerentes às nossas atividades diárias.

A realização de atividade física ao longo do tempo, com vários graus de intensidade em diferentes condições e contextos, acarreta lesões cartilagíneas (modifica propriedades e compromete quase sempre a função articular) que apresentam uma severidade maior em termos de recuperação comparativamente a estruturas como ligamentos, tendões ou os próprios ossos, pois a cartilagem é descrita como sendo uma estrutura muito peculiar e de função única. Se observarmos a cartilagem articular constatamos que na sua composição existem células (condrócitos), água e uma estrutura de matriz macromolecular (colagénio, proteoglicanos e proteínas não colagénias e glicoproteínas). Esta não apresenta estruturas nervosas, vasculares ou componentes do sistema linfático.

“Uma característica fundamental da cartilagem articular é a capacidade de se submeter à deformação e depois se reverter à forma original…”

Encontra-se também delineada por zonas ou camadas, como sendo, zona superficial, zona intermédia, zona profunda e zona de cartilagem calcificada. Uma característica fundamental da cartilagem articular é a capacidade de se submeter à deformação e depois se reverter à forma original. Esta característica é essencial na lubrificação da articulação e na circulação do tecido fluido, principalmente devido à função de suporte de carga e porque a mesma não possui sistema linfático e suporte vascular.

Sendo a cartilagem uma superfície lisa, mais superficial comparativamente ao osso subcondral, de coloração branca e avascular, a situação inflamatória não existe se a lesão for só na mesma. Porém, quando o evento traumático atinge a cartilagem e o osso subcondral (mais profundo), os vasos sanguíneos da estrutura óssea potenciam um processo inflamatório que dá início a uma possível reparação da lesão. Apesar disso, a zona da cartilagem afetada é preenchida por fibrocartilagem que não é de todo igual à cartilagem hialina de base.

O tratamento a definir deve ter sempre em conta três grandes grupos lesionais, desde logo, perda de macromoléculas de matriz ou rotura da estrutura macromolecular sem rotura visível do tecido; rotura mecânica da cartilagem articular e rotura mecânica da cartilagem articular e osso subcondral. Importante perceber que as cargas (intensidade e tipo de pressão) aplicadas na cartilagem de forma consecutiva que abordem as estruturas anteriormente mencionadas, aparecem mais correlacionadas com a prática desportiva nos seus diferentes níveis profissionais de uma forma mais agressiva, comparativamente a indivíduos de faixas etárias mais avançadas que suportam modificações cartilaginosas devido ao envelhecimento natural e global da estrutura.

A reparação cirúrgica aparece de momento como a indicação mais efetiva em caso de lesão da cartilagem articular, mesmo existindo atualmente uma continuidade na investigação cientifica sobre qual a metodologia de tratamento (Fisioterapia, viscosuplementação com ácido hialurónico, entre outros) e qual a técnica cirúrgica mais eficaz para proporcionar ao indivíduo o resultado mais efetivo na busca de uma maior qualidade de vida.

Relativamente, ao conjunto de artefactos noticiosos diários sobre uma imensidão de soluções milagrosas e da existência de uma porção mágica, referentes a toda uma “suplementação” que “regenera” as articulações e respetiva cartilagem articular que invade diariamente os nossos sentidos, é fundamental mencionar que a cartilagem articular tem uma capacidade de regeneração limitada devido à ausência de vasos sanguíneos e à baixa potência mitogénica dos condrócitos, sendo que, quando atingida, a auto-regeneração da zona lesada não é possível.

© 2020 Guimarães, agora!

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