A actualidade dos Estados Unidos da América, na era de Trump, tem tudo o que já vimos em filmes: ataques ao coração da democracia, vandalização dos locais das instituições e do culto democráticos, a arrogância do poder autocrático e pessoal, a fúria de populações desmioladas que agitam bandeiras do populismo e nacionalismo exacerbados, a mando de um qualquer tiranete, corpos humanos a serem tratados sem qualquer humanidade, despejados em câmaras frigoríficas, sem funerais dignos, por incapacidade de tratar a pandemia da Covid-19 sem qualquer preocupação.
Agora, até o presidente que repete, vezes sem conta, não querer olhar para os votos do povo, contados e recontados, afirma, sem provas, que foi roubado nas eleições. E por causa disso virou sheriff, querendo administrar a justiça da Nação pelas suas regras e convicções e não pelos votos e pela pronúncia dos eleitores ou pelas leis.
Só em regimes totalitários nos acostumaram ao poder unipessoal e oligárquico, de uns tantos ditos chefes de Estado. Em democracia, com mais ou menos votos, os representantes eleitos são-nos com toda a legitimidade, longe de acusações de fraude, improváveis no país que se diz campeão da democracia mas que permite a minorias, reinar e queimar símbolos e valores que a todos cumpre respeitar.
O que se passou, no Capitólio, a 6 de Janeiro de 2021, em plena capital dos Estados Unidos da América, tornou o filme… realidade!
De facto, o que era ficção e populismo, com origem em Hollywood, acabou nas ruas de Washington como verdade, de uma América trumpista em que poucos acreditam e que tende a esmorecer depois daquele assalto ao congresso e à câmara dos representantes, a menos que a América esteja mesmo louca. E definitivamente tenha perdido a vergonha.
Trump não deixou dúvidas e foi mais longe na prática do poder pessoal, muito mais do que Luís XIV, em França, quando proclamou “o Estado sou eu”, há mais de 300 anos.
Ele esgotou o poder que um presidente americano carrega e quase o fazia explodir impondo a sua vontade a tudo e a todos, quebrando regras, não respeitando a decisão eleitoral do povo, usando e abusando do dinheiro do erário público, tornando a Casa Branca o seu próprio lar, sem manter qualquer distância saudável entre ele e o poder.
A corrida ao Capitólio, que as imagens da TV documentam em toda a sua crueza e maldade, foi pior que a corrida ao El Dorado e às corridas registadas no início da formação da nação americana pela conquista de terras, onde cada um se tornava dono de uma área de terreno.
Numa nação como a americana, o que se viu foi mesmo um filme a sério que nem o melhor realizador imaginaria transformar em guião de cinema. O que se viu é que a multidão é cega, sem regras, e sem respeito, ataca o que é mais nobre na vida política na sociedade das nações.
Em plexo século XXI, comandados pela tecnologia e pelo saber, pela cultura e pelos valores da civilização mais caros das democracias, a tomada do Capitólio, foi como um assalto a uma diligência, por cowboys ferozes, apeados, de bandeira em punho, a quererem fazer justiça pelas próprias mãos, de cabeça cheia de ódio, liderados por um Hitler travestido de republicano, cuja voz e choro não param de escutar e que pelo poder da palavra, atira cidadãos uns contra os outros, inflamando o que era suposto ser uma sociedade organizada e civilizada.
A descoberto, o Capitólio e o que representa e simboliza, sofreu este duro ataque, sem que as forças da ordem o previssem e evitassem, a tempo e não depois.
Será que Trump – que ficará na história pelo que pior aconteceu na América nos últimos quatro anos – não se deu conta de que o poder é do povo, que os votos confirmaram a sua tripla derrota, nas eleições para os três órgãos vitais da representação do Estado e da democracia americana – Presidente, Congresso e Câmara de Representantes – o que nunca aconteceu a qualquer presidente?
Só a loucura em que viveu, na sua presidência, com a sua família, demonstra que é um homem sem regras, que vilipendia a democracia com a sua arrogância pessoal, que não tem vergonha de ficar na história como o pior presidente do seu país, vendedor de ilusões, insensível à chacina perpetrada pela pandemia, ao arrasamento dos valores que tornam a América grande, que colocou o Estado ao seu serviço, sem perceber que estava ali para representar o povo americano e não a si. E que usou o Estado para fazer negociatas para bem da sua família, deixando a América subjugada à China e à Rússia.
Os cidadãos devem começar a reagir a estes tiranos que desestabilizam o mundo e que se apossam do poder para o tornar algo pessoal.
Já é tempo de as maiorias não ficarem amorfas, acreditarem em promessas vãs e entregarem o seu poder a uns democratas que na sombra se portam como verdadeiros tiranetes.
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