André Ferreira, administrador da Endutex, na área do imobiliário e hotelaria prevê mudanças em projectos, onde se devem garantir, ainda mais a segurança sanitária. E antevê um recuo nos projectos de escritórios, trabalho e vida comuns.
GA! – Que reacção provocou o vírus Corona, na área imobiliária da Endutex?
AF – A reação natural é de receio face ao desconhecido e de tentar antecipar como os mercados e sociedade vão reagir durante e após a pandemia.
GA! – Que reflexões aporta esta crise para a economia e tecido industrial?
AF – Depois de quase uma década sem eventos marcantes, sem que os países tivessem feito nada que pusesse em causa o crescimento económico global, surge algo que nos recorda que temos de estar sempre preparados para enfrentar uma crise. Outra reflexão é perceber que o tecido empresarial nacional apresenta uma estrutura de capitais demasiado débil e que após muitos anos bons na nossa economia com um mês de crise já tem dificuldade em assegurar os compromissos básicos.
“A grande vantagem para Portugal é que no contexto europeu somos um país competitivo e temos de estar na linha da frente para agarrar esses investimentos…”
GA! – Portugal tem de retomar a força industrial, em parte perdida para a China? E para essa reindustrialização quais as áreas/ sectores de investimento a apostar e desenvolver? Que vantagens/ desvantagens trouxe ao momento actual?
AF – Não depende de Portugal essa reindustrialização. Depende dos mercados. Sabemos que não conseguimos ser competitivos em preço comparado com os países asiáticos e por isso sem mudança de paradigma não vamos conseguir competir. Penso é que essa mudança de paradigma deve e vai acontecer por dois motivos: no setor privado, exemplos como a Apple que produz 100% na China e que parou completamente a cadeia de fornecimento quando a China suspendeu a sua actividade. Acredito que vão querer ter parte da produção noutros países, ainda que mais cara, uma forma de assegurar produção contínua; na UE, se esta tiver vontade de assegurar dentro das suas fronteiras a produção de alguns produtos essenciais e não estar dependente de países terceiros numa crise como a que vivemos hoje. Essa vontade tem de se consubstanciar em aceitar pagar mais pelo que é produzido cá. A grande vantagem para Portugal é que no contexto europeu somos um país competitivo e temos de estar na linha da frente para agarrar esses investimentos.
GA! – Que paradigmas podem ser mudados no seu sector de actividade em particular?
AF – Na hotelaria teremos uma preocupação dos clientes que será a segurança sanitária. A forma como o país tem lidado e vai lidar com este problema será decisiva para esse selo especial. No imobiliário, haverá recuo de alguns conceitos mais colaborativos (coworking e coliving), algumas mudanças na forma de trabalhar (escritórios) e comprar (retalho). Veremos nestes dois segmentos uma aceleração das alternativas digitais. Acredito também que no mercado de habitação se assistirá a uma maior procura por casas em detrimento dos apartamentos, mas será momentâneo.
GA! – Quais os desafios que se avistam no horizonte?
AF – O desafio é o da retoma, com menos liquidez e com mais desemprego. Teremos de sair de uma situação depressiva que é sempre difícil. Acredito por outro lado que os bancos vão ter financiamento abundante e barato e que os empresários e seus colaboradores vão voltar cheios de vontade de trabalhar.
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