Coincidência escrever este texto na véspera do dia 25 de Abril, em 1974, dia da Liberdade, antes dia anónimo e triste, igualmente sinal de um quotidiano amordaçado e condicionado, agora motivo de comemoração e balanço. Sempre, dia aconselhável à memória e leitura actualizada do que significa e projecta.
E mais coincidência é, porque, pensando-se escrever sobre o “tempo” como consequência – em contraponto ao “tempo” feito balanço do último texto – visibiliza-se este dia 25 de Abril como exemplo maior deste “tempo” feito balanço e consequência: fundamental olhar para a História, ler e conhecer, analisar e interpretar criticamente para nunca deixar de memorizar e sempre lembrar de onde partimos e o quanto ganhamos e arriscamos; fundamental ser consequente (e coerente) com as posições e opções que formulamos, mesmo não isentas de risco, ou melhor, regra geral, transportando sempre riscos (porque nunca representando a utopia da solução ideal e perfeita).
Correndo o risco de uma focalização demasiado tendenciosa (em função do tema escolhido), ser consequente é talvez uma das lições maiores do 25 de Abril: assumir o risco da liberdade e da democracia, caminhando sobre um sistema que, sabia-se (e, hoje, ainda mais se sabe) imperfeito e incompleto. Mas, de todos os sistemas conhecidos, aquele tão menos imperfeito!
Hoje, o “mundo” está carente de consequência. Ou seja, de assunção de ideias, projectos e opções. De resposta a desafios emergentes no campo social e político, ambiental e económico, da reformulação de modos de vida e de formas de partilha e relação. E precisa de decisão ponderada e assertiva. Desejavelmente, o mais certeira possível. Realisticamente, não isenta de riscos e críticas.
Todavia, neste balanço que, tantas vezes, nos faz abrandar e, no extremo, parar; que, tantas vezes, faz o político – aquele que gere a “coisa pública” – vacilar e hesitar, hoje, constata-se mais ainda que o tempo exige resposta e caminho, isto é, consequência. E aceitação do risco.
Por isso, é preciso ser consequente com os projectos, as ideias e as opções que se tomam e não anunciar os mesmos projectos, ideias e opções para recolher os “louros da boa ideia” e, depois, abrandar ou não concretizar para evitar dificuldades, erros ou críticas. E também é preciso ser consequente com a coerência desses mesmos projectos, ideias e opções, não os amputando ou adulterando na gestão casuística da espuma dos dias, em função das críticas e comentários quotidianamente emergentes.
Sabendo que a probabilidade da solução final ser ideal e unânime é ínfima, ser esmagadoramente tida como excelente é menor e que, o mais provável, é ser tributária de ajustes e acertos, revisão e demonstrativa do quanto mais “há para fazer”. Como alguém diria “é a lei da vida”. Mas também o seu desafio e encanto: poder sempre evoluir, corrigindo e melhorando, aproximando todos e tudo da realidade que todos desejam e exigem.
Na verdade, ao autor deste texto persiste, com insistência, a convicção de que o maior problema associado a tantos projectos, ideias e opções não é a respectiva qualidade e justeza. Simplesmente, é a sua deturpação a meio caminho, divagação errática, alteração ou recuo que, longe de significar (como desejavelmente pode e deve acontecer) mudança caso sustentada e justificada, se revela presente para resolver os problemas, as críticas, o “ruído” do momento que, reconhece-se, perturba mas nada acrescenta.
Tudo isto não significa que ser consequente não possa se traduzir em paragem do processo, em interrogação ou “questionamento”, revisão e alteração (seja em que dimensão for). Se tal se revelar necessário e justificado (em função de boa e coerente argumentação e constatação), tal deve acontecer, obrigatória e desejavelmente. O que não pode acontecer é o disfarce da decisão tomada, a mitigação das consequências, a argumentação artificial e subliminar, a valorização do acessório apenas e tão só para não ter que “dar a face”; o que será inadmissível é a reinvenção da verdade, encapsulando-a em nome do conforto da justificação e prejuízo da (boa) leitura e compreensão que, qualquer cidadão, tem direito!
Se o “tempo” feito balanço é fundamental, ser consequente é vital. Será assim que se garantirá coerência ao que se estuda, projecta e faz. E, só assim, se poderá chegar ao fim e, verdadeiramente, estar munido de instrumentos para avaliar, monitorizar e melhor gerir, reforçando as coisas boas, corrigindo as coisas menos boas.
Reclama-se estudo sobre a História para projectar o futuro; exige-se tempo de concretização para testar e avaliar; deseja-se assertividade na gestão, correcção e transformação. É tempo de reclamar, exigir, desejar consequência ao “acto político” em si mesmo, ou seja, a gestão da “coisa pública” que a todos diz respeito. E, porque a todos diz respeito, exige inevitavelmente compromisso e equilíbrio. E aceitação da diferença! (tema a desenvolver futuramente…)
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