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Guimarães
Terça-feira, Abril 23, 2024
Álvaro Oliveira
Álvaro Oliveira
Sou alguém que escreve por gostar de escrever. Quem escreve não pode censurar o que cria e não pode pensar que alguém o fará. Mesmo que o pense não pode deixar que esse limite o condicione. Senão: Nada feito. Como dizia Alves Redol “A diferença entre um escritor e um aprendiz, ou um medíocre, é que naquele nunca a paixão se faz retórica.” Sou alguém que gosta de descobrir e gosta de se descobrir. E pensar. E refletir. E escrever aquilo que penso e aquilo que reflito.

Perspetiva de cidade

Havia um anúncio comercial da Lego nos anos 90 muito bem conseguido. O anúncio consistia num menino num palanque a fazer-se de político e a dizer mais ou menos isto: “Eu prometo construir casas, prometo construir muitas esquadras, carros da polícia e bombeiros. Prometo ainda construir estradas, pontes e viadutos. E depois… destruo tudo!!!”.

Vem isto a propósito da nova moda de se expressar o que cada um entende como devia ser a cidade de Guimarães, criticando as linhas e orientações do que tem sido a política camarária. Geralmente, isto acontece em períodos pré-eleitorais, quando se pretende conduzir ou orientar o pensamento do eleitor para uma perspetiva. O que isto tem de original e genuíno é que é fora da caixa eleitoral. Ora, como qualquer vimaranense, também tenho uma ideia para o entendimento como Guimarães se deve desenvolver. E, tal como as outras, vale o que vale, vou expô-la, criticando aquilo que acho que está mal, aquilo que está bem e aquilo que acho que devia ser. Tomemos como o centro de Guimarães desde o Centro Histórico e um raio de 500 metros à sua volta. Deve haver poucas cidades no Mundo que no seu Centro tenham 1 Hospital, 1 Estádio de Futebol, 2 pavilhões desportivos, 1 complexo desportivo, 1 Shopping de grandes dimensões, 1 Estação de comboios, 1 Universidade, 2 tribunais, 2 Repartições de Finanças, 2 Universidades, 3 Escolas secundárias, 1 Quartel dos Bombeiros, etc., enfim, um sem-fim de equipamentos. Se há alguns dos equipamentos que fazem sentido, outros são um absoluto atrofio para a cidade. Um estrangulamento para todos e que não permitem que a cidade se expanda a outras zonas, pois serão mais pobres. Daí que perceba a intenção do executivo camarário querer desanuviar o centro de alguns desses equipamentos. Assim, se se quer criar uma cidade judiciária, faz sentido que essa cidade seja criada fora do centro, para criar uma outra centralidade e não se percebe como se cria um bicho de 7 cabeças com isso. Qual é o mal de se mudar, por exemplo, a Segurança Social para as Taipas, o Centro de Emprego para Pevidém, uma Repartição de Finanças para Urgezes? É o comodismo de ter tudo juntinho? O que é preciso é criar boas condições de acesso a esses equipamentos, boas estradas, bons passeios, bons meios de transporte públicos rápidos e eficazes. Quando há mais ou menos 30 anos existiam grandes fábricas fecharam no centro da cidade, toda a gente achou que ia ser o fim do mundo em cuecas, pois a cidade ia perder vida. Hoje, se dissermos que a Fábrica do Cavalinho vai reabrir, todos achariam isso uma anedota. Para redimensionar a cidade e a expandir temos de abandonar estes arquétipos para outros que se ajustem ao nosso ideal de cidade. A minha ideia para a minha cidade é, como qualquer outra, a minha ideia. Não sou um expert em planeamento urbanístico, nem coisa que se pareça, por isso, como disse acima, a minha opinião vale o que vale. Sempre tive a ideia que Guimarães tem o dever de se expandir para as freguesias, fazendo com que aquelas sejam parte integrante da cidade. Isto é, devem-se criar acessos fáceis às vilas de Guimarães como uma continuidade natural da cidade. Guimarães vive neste atrofio de estar de costas voltadas para as suas próprias vilas vivendo como espartilhada numa circular urbana e ligações únicas por estradas nacionais. Dizer na Câmara a frase Avenida com 3 faixas de rodagem de cada lado, é como invocar uma doença ou o demónio. Aqui, nesta Câmara, gosta-se é de “estradinhas” estreitas e poluentes. Outra coisa que me faz espécie é o divórcio absoluto de Guimarães com o rio Ave. Qualquer cidade ganha outra vida se der vida ao rio da sua cidade. O que era Amarante sem o Tâmega? O que valia Mirandela sem o Tua? Porque é que as margens do Ave não podem ser como é aproveitado nas Taipas? Como é que há 50 anos atrás criaram aquele belíssimo parque nas Taipas junto ao rio e não fizeram sequelas do mesmo ao longo da sua margem para que todos disfrutassem num longo passeio, criando uma outra centralidade? Quando recentemente o Vitória apresentou um projeto para criar um novo complexo desportivo em Silvares, demonstrou essa vontade de criar uma nova vida à zona ribeirinha. Creio que foi uma excelente escolha de onde se poderá tirar dividendos a médio prazo em termos urbanísticos, seja com zonas de lazer, seja com habitações. Em resumo, se depois não gostar do meu desenho para a minha cidade… destruo tudo.

© 2019 Guimarães, agora!

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