Num mundo cada vez mais consciente das interações delicadas entre o homem e o meio ambiente, a sustentabilidade torna-se não apenas uma escolha, mas uma necessidade. No cerne desta discussão global encontra-se a questão vital da água potável. A água, esse líquido precioso que sustenta a vida em todas as suas formas, é um recurso cuja gestão responsável se torna imperativa. Enquanto nos deparamos com desafios climáticos e fenómenos extremos, como a seca que assola o Algarve, a importância da sustentabilidade hídrica atinge um novo patamar de urgência.
Em Guimarães e Vizela, a empresa responsável pelo abastecimento de água e gestão de resíduos é a Vimágua. A Vimágua é uma empresa pública de capitais públicos. O Relatório e Contas de 2023 da Vimágua afirma que houve um desperdício, ou como eles chamam “Água não faturada”, de quase um terço da água que a empresa capta (29,42%).
Este é um sinal claro de que a gestão eficiente dos recursos hídricos ainda está longe de ser uma realidade em algumas regiões.
A Vimágua, como entidade gestora, tem a responsabilidade vital de garantir um abastecimento de água eficiente e sustentável para as comunidades que serve. Desperdiçar um terço da água captada é mais do que uma falha operacional, é um ato de irresponsabilidade ambiental e uma afronta às crescentes preocupações com a escassez de água.
Enquanto a região do Algarve enfrenta uma fase de seca severa, a situação ganha contornos mais preocupantes. A água é um recurso precioso e escasso, e o desperdício não pode ser tolerado, especialmente quando outras partes do país enfrentam desafios hídricos significativos.
A empresa em questão é uma empresa que tem lucro. E a partir desta informação cresce a minha curiosidade. Se considerarmos a significativa porção de água desperdiçada anualmente – cerca de 30%, conforme indicado nos relatórios recentes da Vimágua desde, pelo menos, 2020 – surge uma série de questões intrigantes: Se esses volumes de água fossem utilizados de maneira eficiente, poderia a empresa potencialmente aumentar os seus lucros? Em caso afirmativo, dada a natureza pública da empresa, poderíamos antecipar uma redução nas taxas impostas aos residentes de Guimarães e Vizela para serviços de água e resíduos? Este cenário ganha ainda mais destaque quando percebemos que nos anos de 2021, 2022 e 2023, a quantidade de água desperdiçada equivale aproximadamente ao consumo anual conjunto dos habitantes dessas localidades. Este paradoxo levanta questões cruciais sobre o impacto financeiro, ético e ambiental das práticas de gestão de recursos hídricos, assim como a gestão de recursos públicos por entidades públicas.
A relação entre o desperdício de água pela Vimágua e a seca no Algarve pode não parecer direta, mas há uma preocupação assente na importância da água desperdiçada para o futuro.
Em tempos de escassez, cada gota de água conta, e as entidades responsáveis pelo seu fornecimento devem assumir um papel proativo na preservação desse recurso vital.
Urge que a Vimágua reavalie e otimize os seus processos de gestão hídrica. Isso inclui a identificação e correção das razões que levam a estes desperdícios. Como pode haver promoção de uma cultura de responsabilidade hídrica para os consumidores quando são as próprias entidades que têm os piores comportamentos?
O desperdício de água pela Vimágua não é apenas um problema local, é uma advertência para todos nós sobre a urgência de repensar e reformar os nossos métodos de gestão hídrica.
Num mundo onde a água é um recurso tão valioso, a ineficiência no seu uso não pode ser tolerada, especialmente quando outras regiões enfrentam as consequências da seca.
© 2024 Guimarães, agora!
Partilhe a sua opinião nos comentários em baixo!
Siga-nos no Facebook, Twitter e Instagram!
Quer falar connosco? Envie um email para geral@guimaraesagora.pt.