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Quinta-feira, Novembro 21, 2024
Álvaro Oliveira
Álvaro Oliveira
Sou alguém que escreve por gostar de escrever. Quem escreve não pode censurar o que cria e não pode pensar que alguém o fará. Mesmo que o pense não pode deixar que esse limite o condicione. Senão: Nada feito. Como dizia Alves Redol “A diferença entre um escritor e um aprendiz, ou um medíocre, é que naquele nunca a paixão se faz retórica.” Sou alguém que gosta de descobrir e gosta de se descobrir. E pensar. E refletir. E escrever aquilo que penso e aquilo que reflito.

Eleições do Vitória

Hoje vou falar sobre as eleições do Vitória. Calma! Não vou falar sobre os candidatos, as listas candidatas ou mesmo o resultado das eleições. Vou falar do acto eleitoral que ocorreu no dia 20 de Julho de 2019 e que decorreu no Pavilhão da Unidade Vimaranense. Pela primeira vez presidi a uma mesa eleitoral (na mesa nº2), se bem que também tenha estado na mesa nº1 e nº3, o que me permitiu apreciar numa outra perspetiva os eleitores vitorianos. Assim, durante 11 horas (das 8 às 19 horas), com as merecidas pausas pelo meio, assisti ao desfile dos mais variados sócios que se deslocaram às urnas depositar o seu voto.

Numa das pausas, em conversa com um amigo meu que também presidia a uma mesa, perguntou-me se já tinha reparado no ar compenetradíssimo dos eleitores nas filas de voto, com um ar solene, parecendo que carregavam em si a responsabilidade do destino do clube do seu coração. E sim, tinham-na e têm-na… De facto, estar nas mesas de voto permite visualizar e contactar (ainda que por breves segundos) com o mais variado tipo de pessoas, uma mescla de comportamentos, alguns singulares outros muito comuns que atingem o universo vitoriano. Das mais comuns era a tentativa de recusa de exibição do cartão de cidadão para votar (regulamentarmente obrigatório), alegando que o seu cartão de cidadão era o cartão de sócio do Vitória. A história mudava quando se apelava ao bom senso e que sem a respetiva exibição do cartão de cidadão não lhe era permitido votar.

Aí, a contragosto, lá se exibia o cartão e exercia o seu direito de voto. Mas assisti a muito mais. Desde a noiva que foi votar bem cedo, antes de ir ao cabeleireiro e ir para Ovar, casar, àquele sócio que interrompeu as suas férias no Algarve para votar e de novo regressar às suas férias. De pessoas com dificuldades de locomoção a irem amparadas por familiares ou amigos (houve um vitoriano que não conseguia subir as escadas do pavilhão e como tal, exerceu o direito de voto fora), avós acompanhados pelos netos, pais com filhos, marido e mulher com números seguidos de sócio, o casal que se conheceu na bancada do D. Afonso Henriques e se apaixonou para a vida.

Tive o privilégio de entregar o boletim de voto a muitos vitorianos anónimos, mas também a um dos candidatos à Presidência do Vitória, o Dr. Miguel Pinto Lisboa, que viria a vencer as eleições e tornar-se o 23º Presidente do Vitória Sport Clube. Do rescaldo importa refletir no seguinte: será que esta vontade de votar nas eleições do Vitória é a mesma que votar para outras eleições para o país? Será que aquela noiva faria o mesmo se fosse para votar para o Presidente da República? Será que aquele vitoriano que interrompeu as férias no Algarve, faria o mesmo para votar nas europeias? Será que aqueles vitorianos que se deslocaram de canadianas em sérias dificuldades, com a mesma convicção e sacrifício votariam nas legislativas? E o casal que se conhecer na bancada, abdicava de passar um belo dia solarengo de Julho na praia, para votar nas Autárquicas? Não sabemos. Sabemos é que naquele dia 20 de Julho os vitorianos puseram de lado esses motivos de abstinência e não deixaram que ninguém decidisse por eles.

© 2019 Guimarães, agora!

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