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Sábado, Outubro 12, 2024

Palavra dada…desonrada 122 dias depois!

O “new normal” socialista ainda é o tradicional, com os mesmos vícios e a mesma “negação” de Ricardo Costa que vai resistindo a todas as tentativas de linchamento político-partidário.

Luís Soares através de um golpe palaciano, desonrou a sua palavra, de manter Ricardo Costa como presidente da Mesa da comissão política, num órgão que representava a unidade do partido. E conseguiu desfazer o apoio com que foi eleito, a roçar a unanimidade, virando contra si uma considerável margem (superior a 30%) dos conselheiros que escolheu e indicou para a sua lista, eleitos ainda no início de 2020.

Texto de: José Eduardo Guimarães

Não há dúvidas de que foi um acto de política – pouco recomendável -, o processo que levou à destituição de uma Mesa – não da última ceia de Jesus, pois esta era composta apenas por três – e que representava a unidade socialista no seu maior expoente.
Primeiro, pela forma. Luís Soares outorgou a si próprio um papel duvidoso de “dono deste PS todo” ao convocar uma reunião da comissão política para que não estava nem fadado, nem era competente à luz dos estatutos. Como se viu, o presidente da Mesa, era Ricardo Costa, que dirigiu os trabalhos de uma reunião que não convocou e que lhe cabia convocar. Mas que dirigiu, num ambiente carregado do mais puro cinismo, de ilegalidade e de transparência política duvidosa. Este vício de forma, alimentado por alguns juristas do PS, foi alegremente aceite por todos, por conveniências várias, das famílias de interesses instaladas no partido.

Depois, por a Mesa enquanto órgão da estrutura não ter cumprido os dois anos de mandato, como referem os estatutos, abreviado para escassos 122 dias, confirmando – a negada – gestão unipessoal {não limitada} de Luís Soares neste período, confirmada, reiterada e explicada também pelo ambiente provocado pela pandemia da Covid-19. De facto, a normalidade plena no PS Guimarães só não foi plena porque Luís Soares – presidente da comissão política – nunca fez o que lhe competia: indicar os elementos do secretariado, para serem eleitos, ainda a pandemia não estava decretada, evitando as críticas de gestão unipessoal do partido – a crítica que serviu de desculpa, de pés de barro, que, afinal, haveria de justificar a demissão de dois secretários – para fazer cair, em tese juridicamente insustentável, Ricardo Costa – que tal como Jesus tinha na sua mesa duas espécies de apóstolos, que escolheram o melhor período para abalar a paz social do partido, um desígnio que satisfazia a estratégia ligada às eleições da Federação Distrital do PS. E que não se consumou.

Certamente por desconhecimento dos estatutos – coisa chata e só ao alcance de uns tantos – o certo é que, apesar de avisados, os conselheiros fizeram pouca atenção à legalidade institucional que não é coisa de somenos importância num contexto democrático e de transparência política. E num partido de tradição democrática.
Sem ondas, mas ainda com a explicação de Ricardo Costa que lembrou tais factos, a verdade é que que a reunião decorreu ao jeito de um bailado dramático, mais parecido com o lago dos cínicos, do que com o conhecido bailado do russo Tchaikovsky.

Ricardo Costa voltou a ter dignidade na hora da sua substituição: dirigiu os trabalhos, reconfortando a sua legitimidade de presidente da Mesa; presidindo de forma limpa, indiferente ao que lhe haviam feito, sem acusar desgaste ou nervosismo, evidenciando um fair play fora do normal.
De facto, é assim o PS/Guimarães, pós Magalhães e companhia, cuja geração de ouro, se recorda por saudosismo e por contra-ponto, à que hoje, esfrangalhada, ensimesmada, se auto-flagela, em concursos de popularidade internos, à sombra de projectos políticos mais fulanizados do que ideológicos, construídos à base do carreirismo, da fidelidade – que não lealdade – aos chefes, arregimentados em sindicatos de voto, e cristalizados em meia dúzia de ideias – tipo palpites – acerca do desenvolvimento de Guimarães, casuisticamente consideradas e apresentadas em avulso, com nomes pomposos.

José João Torrinha tornou-se num “caçador” da unidade perdida. © Direitos Reservados

Ontem à noite, a ilusão de que tudo se resolvia – transmutando Ricardo Costa em João Torrinha – acabou, como ressaca dolorosa, para alguns que ainda não se encontraram com a realidade do dia seguinte, com uma comissão política cuja divisão o agora presidente da Mesa não nega, nem esconde. E que apesar de todas as facadas que lhe vão dando nas costas, Ricardo Costa aparece mais reforçado no seu estatuto, por cada vingança que façam, querendo-o fora de palcos ou sem “tremendismo” político, impactante.
No anfiteatro da Universidade do Minho, o PS não aprendeu com erros recentes, pois, que a renovação da Mesa – que dirige as reuniões plenárias – teve apenas uma alteração de fachada, ou se quiserem mudou as portas de madeira para portas de vidro, porque as lideranças que resultaram desta conjuntura são todas, cada vez, mais frágeis, insustentáveis, dependentes.

“O camarada Domingos Bragança é o melhor colocado e preparado para os combates que estão pela frente…”

A unidade que resultou da eleição de Luís Soares – que foi eleito por larga maioria, com o beneplácito da tendência de Ricardo Costa, que deu carta branca ao actual presidente da comissão política para dirigir o partido como entendesse – ainda que não de forma unipessoal. Ninguém percebeu – ou fez de conta que não viu – que essa unidade se quebrou e não foi restaurada porquanto Luís Soares conseguiu o milagre de ter contra si 32,8% de uma comissão política – que lhe era cegamente favorável na data da eleição. Amanhã os 32,8% podem até chegar a 41,4% quando forem substituídos os conselheiros que transitam para o secretariado.
A liderança de Domingos Bragança também emergiu como consensual, tendo alguém afirmado que “o camarada Domingos Bragança é o melhor colocado e preparado para os combates que estão pela frente” como defenderam Ricardo Costa e Paulo Silva.

Quando se sabe – apesar dos discursos terem apontado o contrário – que o PS assenta a sua construção política numa liderança global tridimensional – tendências de Luís Soares, Ricardo Costa e Domingos Bragança; e ninguém sabe qual será o futuro a curto prazo, mesmo que Luís Soares demonstre – o que sempre fez – que em nome do partido, quer ter algo a dizer sobre as escolhas autárquicas, a liderança municipal e tudo o mais. Será curioso perceber como conseguirá manter activo e dinamizado o seu sindicato de voto que ontem à noite também surpreendeu muita gente. E que deixou uns a olhar para outros sem qualquer afinidade pessoal. Muitos militantes indicados por si, eram autênticos “ilustres desconhecidos”, não apenas pela sua fraca participação na vida do partido, apesar de um histórico de inscrição com alguns anos, como pelo conhecimento mútuo, de alguém do mesmo partido. O próprio Domingos Bragança, habituado a ver o mundo do PS como o universo dos presidentes de Junta, terá olhado – deu tempo para isso – para tanta gente, sem veia renovadora, e com visão clientelista do PS e da responsabilidade de governação municipal.

Por isso, a eleição de uma nova Mesa é apenas uma máscara – igual às que são utilizadas para tratamento do acne ou pontos negros – que só aparentemente lava algumas feridas, deixadas pela clivagem entre Luís Soares e Ricardo Costa; e muito menos é rastilho para restaurar a grande unidade de que o PS dá mostras – após refregas domésticas pela luta do poder. E que José João Torrinha quer protagonizar ao estilo do grande apaziguador. Ilude-se quem pensa que, tudo está bem, quando acaba bem. O PS de Guimarães nunca ficou tão vulnerável aos interesses domésticos e exteriores quanto está hoje.

E ontem, a comissão política não deixou de consagrar o mais obsoleto e inqualificável método, de mudança de protagonistas.
Na verdade, todos assistiram alegremente – mesmo os juridicamente mais bem informados – ao golpe palaciano, de mudança de actores num órgão, cuja legitimidade decorrente da vontade dos militantes – e sinal de unidade para além da divergência – acabou quebrada pela demissão de dois “secretários” da mesa, “incomodados” pelo desempenho do presidente, no pleno exercício de funções e na procura da normalidade institucional nesse período da Covid-19. “Foram eles – Marta Coutada e Rafael Duarte – que se tornaram na arma de arremesso de Luís Soares contra Ricardo Costa”, segundo um conselheiro do partido.

Conclui-se facilmente que a palavra dada por Luís Soares apenas foi “honrada” durante 122 dias, o que é muito pouco para um líder que quer perdurar no tempo e para a eternidade apesar do seu tempo de validade se tornar cada vez mais curto.

© 2020 Guimarães, agora!

3 COMENTÁRIOS

  1. Vários elementos do PS., Hoje insralados no poder , estão com mêdo de o perder.
    Não são verdadeiros políticos , não estão na política para defender as pessoas , estão apenas preocupados em defender com unhas e dentes , sem olhar a meios , os lugares que hoje ocupam e estão interessados e preocupados em continuar a subir .
    Não são políticos , são apenas interesseiros e desumanos. ( Estou a ver apenas uma cambada de cobardes ) .

  2. O Luís Soares enganou-me totalmente , ele e a cambada que o rodeia , são autênticos covardes.É pena porque quem vai pagar as favas é o povo Vimaranense !!!

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