A liderança executiva do gabinete de crise, criado pela Câmara, foi a arma escolhida pela oposição – CDU, PSD e CDS para a tornar no facto político, da Assembleia Municipal que decorreu Sexta-feira (15 de Maio), à noite. Domingos Bragança defendeu a opção da Câmara e a bancada do PS e do Bloco de Esquerda passaram ao lado da questão.
Na primeira Assembleia Municipal, por vídeo-conferência, ficou claro que esta ferramenta tecnológica, não é boa para debates, tipo parlamentares, em órgãos deliberativos do poder local. Por mérito, de alguns deputados, a sessão não passou incógnita na vida política local porque o que se poderia apelidar de uma sessão morna, pelo formato e pela distância dos deputados, isolados em suas casas ou na sede da Junta de Freguesia, tornou-se numa sessão quente, em termos políticos e sujeita a várias leituras.
Desde logo, pelos temas constantes da agenda, depois pela persistência em abordar a liderança executiva do gabinete de crise, entregue a António Cunha, ex-reitor e professor da Universidade do Minho e não ao presidente da Câmara – Domingos Bragança – ou ao vereador da divisão de desenvolvimento económico, em sucessivos períodos e pontos da ordem de trabalhos.
Mariana Silva (CDU) foi a primeira a questionar a exclusão de Ricardo Costa, de um papel mais activo, “num gabinete de crise (da Câmara) que não inclui o seu vereador do desenvolvimento económico, o mais conhecido das empresas instaladas no concelho, nem se compreende quais sejam as suas funções naquele gabinete”. Mais tarde, a deputada da CDU deixava uma crítica implícita ao trabalho do gabinete, com uma subtil afirmação de “o que foi feito foram workshops e algumas informações que passaram através das notícias”…
Depois foi Emídio Guerreiro, a instar Domingos Bragança, sobre a sua liderança efectiva, não apenas neste gabinete como no comando da resposta municipal à crise da Covid-19. “Esperávamos que o senhor fosse o rosto destas lideranças”. Não uma liderança qualquer mas “uma liderança forte e produtiva que desejávamos ter visto… no presidente da Câmara, alguém que liderasse… e antecipasse as situações, que agisse e não reagisse”.
Também, Paulo Peixoto (CDS) quis saber porque “não é o vereador Ricardo Costa, o responsável pelo gabinete de crise?”. Sem pôr em causa António Cunha, o seu perfil, currículo ou competência, o deputado do CDS, reconheceu-lhe “mérito no meio académico mas está longe, da proximidade do tecido económico, das empresas”, deixando clara a questão: “porque é António Cunha não é o vereador do pelouro económico ou porque o vereador Ricardo Costa não é o responsável pelo gabinete de crise?”.
Sem a ajuda do grupo parlamentar do PS – que não usou qualquer figura regimental para suster o ímpeto da oposição – Domingos Bragança esteve sempre só nas respostas à oposição, o que não deixa de ser estranho face ao silêncio sepulcral do grupo parlamentar do PS – cheio de oponentes de Ricardo Costa à liderança da Federação Distrital de Braga, facto que feriu a tradicional solidariedade socialista, ausente neste contexto, de combate político.
O presidente da Câmara tentou até acentuar as contradições da oposição – “ora dão para baixo, ora dão para cima” – repetindo, vezes sem conta, que o gabinete de crise, está bem entregue a António Cunha que “é uma pessoa excepcional, com conhecimentos excepcionais, com ligações ao mundo empresarial, e da ligação da ciência com as empresas, tem boas relações com o governo”. E atacou os deputados da CDU, CDS e PSD de quererem apenas “criar um incidente político… defendendo que o senhor vereador Ricardo Costa era o melhor para o gabinete de crise, que o senhor presidente da Câmara era o melhor para o gabinete de crise…”
Numa tentativa de estancar esta ferida política, na qual a oposição carregou sem dó, Domingos Bragança, lembrou que “para os grandes desígnios”, Guimarães foi sempre buscar alguém, de fora. E lembrou o caso da Capital Europeia da Cultura, de 2012, um exemplo que não foi o mais adequado, porque Cristina Azevedo, presidiu à Fundação Cidade de Guimarães – entidade independente do poder municipal, com autonomia administrativa e financeira, e que foi nomeada pelo governo de José Sócrates para esta função. Lembrou-se também do contributo dado à Capital Verde, por José Mendes, também professor da UM, justificando que em nenhum daqueles exemplos os vereadores quer da Cultura, quer do Ambiente lideravam as comissões executivas. “Aqui, neste caso, também não foi o vereador do desenvolvimento económico” – reafirmou.
Deixando transparecer alguma irritação pela incompreensão da oposição para a nomeação de António Cunha para o gabinete de crise, Bragança passou ao ataque e questionou a oposição, dando as respostas: “…mas o senhor vereador Ricardo Costa deixou as funções de vereador do desenvolvimento económico? Não! Ele, lidera a divisão económica?…Lidera. Ele lidera o Guimarães Marca?…Lidera”.
E reafirmando a coesão política e funcional da sua vereação, o presidente da Câmara, reforçou ainda que Ricardo Costa também lidera “as políticas públicas e empresariais” do Município, “obviamente em consonância comigo”. Insistiu, para defender a indicação de António Cunha para o gabinete de crise que “hoje, é fundamental esta ligação da ciência, das políticas comunitárias, do governo, com as empresas”. E incitou os deputados da oposição, a perguntarem “aos empresários se estão satisfeitos comigo… e dirão que é exactamente assim…” Não resistiu a valorizar o seu “gabinete de crise”, como um modelo a copiar por outros Municípios, sem os identificar.
“Os workshops são importantes para reflectirmos no que tem de ser feito. E as respostas para agora? É aí que o PSD gostava que o senhor tivesse sido mais rápido, mais presente…”
Depois desta intervenção do presidente da Câmara, os deputados que haviam suscitado críticas voltaram a usar da palavra. Paulo Peixoto (CDS), atribuiu a Bragança algumas contradições na defesa do perfil técnico de António Cunha que corrobora mas não o perfil político; Emídio Guerreiro lembrou que “o gabinete de crise não é uma fundação com uma missão específica de realizar o evento A ou B. Um gabinete de crise é para tomar decisões de imediato, reagir em função da crise, era isso que nós queríamos que fosse o gabinete de crise”. Indo mais além, Emídio Guerreiro admitiu concordar com o presidente da Câmara “se o senhor nos dissesse que convidaria o Professor António Cunha para preparar um plano estratégico a médio e longo prazo, na área económica e do desenvolvimento. Dava-lhe os parabéns mas nós estamos a falar de um gabinete para responder à pandemia, com consequências imediatas, já para amanhã”. E continuou: “os workshops são importantes para reflectirmos no que tem de ser feito. E as respostas para agora? É aí que o PSD gostava que o senhor tivesse sido mais rápido, mais presente”. E concluiu: “Esta minha intervenção é para o estimular a ser mais rápido…”
Já quando se discutia, a proposta de isenção de impostos e licenças para os estabelecimentos da restauração, Rui Armindo Freitas (PSD), insistiu com o caso do gabinete de crise, agora num contexto de que o seu partido defende “no que toca à promoção dos negócios e à atractividade da população” um papel de promotor de uma economia forte e diversificada para resistir a choques. Disse, em jeito de alerta, que há “urgência na tomada de medidas no âmbito do Quadrilátero Urbano que o gabinete de crise criado deverá não ser só para reflexões mas sim para tomada concreta de decisões e de medidas para não sermos apanhados pela realidade”. E em nota de rodapé, lá ficou registado que “não deixamos de mostrar estranheza que o gabinete de crise não seja liderado pela figura cimeira do Município ou pelo vereador que lidera os dossiers económicos locais, que deverá ser quem, no executivo, melhor conhece a realidade do concelho”.
O presidente da Câmara reiterou a convicção de que “o gabinete de crise podia ser alargado aos Municípios do Quadrilátero Urbano ou aos concelhos das suas franjas, podemos ser parceiros do desenvolvimento regional”. E não resistiu a elogiar, mais uma vez, António Cunha, pela sua personalidade e prestígio nacional e internacional, e o facto de o gabinete de crise “estar a ser replicado por outros”. E concluiu: “quando alguém quer replicar, é porque nós vamos à frente!”
Ver também opinião de José Eduardo Guimarães
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