Os vereadores do PSD e CDS/PP, incomodaram deveras o presidente da Câmara Municipal, com os assuntos candentes da actualidade: o espectáculo de Nilton, Ana Garcia Martins e Hugo Sousa, no pavilhão Multiusos.
Se o trio de humoristas, capitaneados por Nilton, deixaram 964 pessoas a rir, no espectáculo que decorreu, Sábado, à noite, no Multiusos, os vereadores do PSD e CDS/PP irritaram quanto baste Domingos Bragança por “dizer uma coisa e fazer outra”, na reunião quinzenal do executivo camarário, a propósito das alterações de critério com que são promovidos espectáculos culturais e outras manifestações públicas.
Antes, no Facebook a questão já havia pegado fogo numa contenda que indignava os vimaranenses, que, por uma fotografia, cimentaram a sua indignação, repulsa e tristeza por em Guimarães, se dar uma mão à Covid-19 com espectáculos alegadamente bastante participados.
Domingos Bragança sentiu o efeito das críticas e logo reagiu com um comunicado a suspender actividades culturais até à próxima reunião da Comissão de Protecção Civil que se realiza Terça-feira (13 Outubro), o que na prática se limitou a suspender uma sessão de cinema do CineClube de Guimarães, no Domingo, à noite, no CC Vila Flor.
Bruno Fernandes (PSD) reavivou o assunto e veio lembrar que “num momento em Guimarães e o país batem recordes de infecções”, da Covid-19, o espectáculo de Nilton destrói a lógica do discurso oficial, em que o presidente lança uma campanha pública “Aqui as Batalhas são para vencer”, com anúncios e cartazes na via pública e publicidade em órgãos de comunicação social local – escolhidos a dedo – que não abrange o universo editorial de Guimarães. E mesmo o apelo público ao uso da máscara e o apertar da malha que anunciou, com a ideia de que o combate ao vírus é “para levar a sério”, acaba, contudo, por esbater-se e esbarrar com “o critério que usou até aqui”.
Ao permitir que num dos equipamentos culturais do Município se realizasse “um evento com cerca de mil pessoas, numa sala fechada”, o vereador do PSD diz que na Penha – ao não se realizar a missa campal – a autarquia quis dar um sinal de que não se aglomerassem pessoas. E deixa transparecer que Domingos Bragança se rege por “um discurso que não bate com a prática”. Bruno Fernandes afirma que “a Câmara tem de saber o que quer, porque é que mudou de critério” e questiona mesmo se a gestão municipal baseia as suas decisões no que se escreve nas redes sociais. Ou, pelo contrário, “nas convicções dos seus representantes e naquilo que é delineado”. E se “estão sujeitas ao escrutínio das redes sociais para se tornarem definitivas?”.
O vereador do PSD elogiou a postura do governo de António Costa que “não altera o seu caminho” e aceita as críticas que lhe são feitas, por manter as suas decisões, não defendendo nem lobbies, nem sectores.
Criticou por isso “a postura e gestão ziguezagueante” da Câmara e do presidente, por não ter “a postura pedagógica que desafiou aos vereadores da oposição para terem, fazendo mais um reunião por videoconferência”.
Sem poupar nas palavras, o vereador do PSD sustentou que “na gestão da pandemia não pode aceitar esta falta de critérios e de rumo, tem de haver coerência e o exemplo vem de cima”. E atribuiu claramente a Domingos Bragança, toda “a responsabilidade e à Câmara, pois, não lhe tem faltado o apoio da oposição para implementar as medidas necessárias”.
“Mas – advertiu Bruno Fernandes – essa tolerância tem um limite, pois é manifesta a incompetência na gestão de um problema desta dimensão”, apelando a que o presidente da Câmara “assuma de uma vez por todas o gabinete de crise e faça uma gestão coerente e empenhada de modo a acompanhar diariamente esta problemática da pandemia, senão vão acontecer mais erros…”
Bragança: “não está certo reunir mil pessoas num pavilhão”
“No trabalho que estamos a fazer, o que temos tido é coerência, modéstia e liderança” – defendeu o presidente da Câmara para enfatizar que “a comunicação é aquela que queremos fazer para que os cidadãos se sintam co-responsáveis, envolvidos de uma forma clara”.
“O presidente da Câmara é responsável por tudo e eu assumo isso do ponto de vista político…”
Domingos Bragança declarou: “o presidente da Câmara é responsável por tudo e eu assumo isso do ponto de vista político.” Defendendo-se de uma intervenção mais musculada e efectiva no tecido empresarial municipal, repetiu que “empresas e cooperativas municipais têm independência gestionária e eu não ando atrás de quem tem responsabilidades nesses órgãos”, Bragança contou como, no Domingo, às 11horas, foi surpreendido com os relatos do Facebook, nada meigos para a administração municipal em face de uma fotografia que não escondia o aglomerado de pessoas que foram ver o espectáculo mas não dava conta do não respeito pelas regras estabelecidas pela DGS para a realização dos espectáculos.
“Esta imagem foi terrível”, disse sobre a fotografia que ilustrava a presença de público no Multiusos. E acrescentou: “diria mesmo destrutiva do que estamos a fazer em Guimarães”. Depois de ouvir os responsáveis da Tempo Livre, o presidente da Câmara afirmou que soube que o espectáculo respeitou o quadro legal existente mas não deixou de classificar o espectáculo como desintegrado do que “o presidente e a Câmara têm estado a fazer, de pedagogia e de intervenção na sociedade, de modo a alertar os cidadãos para um comportamento mais responsável”.
“Não faz sentido dar esta imagem, que é destrutiva, quando estamos a exigir equipas multidisciplinares ao governo, através das autoridades de saúde, a estabelecer regras nas escolas, a pedir aos cidadãos que tenham o máximo de cautela e de prudência, de modo a fazer este caminho com o menor número de perdas possíveis” – atalhou.
Em jeito de resposta a Bruno Fernandes, o presidente da Câmara disse que “as redes sociais não importam para nada”, desvalorizando o impacto sobre esta matéria que foi despoletado no Facebook com a repercussão que se conhece. Mas o que mais preocupou Bragança foi “esta imagem ter passado para a sociedade, uma imagem que não dá para compreender se houve separação e distanciamento entre pessoas”. Sem contemplações, afirmou que “não está certo” querer “reunir hoje mil pessoas num pavilhão”, mesmo cumprindo a lei.
Depois deste episódio, Domingos Bragança, diz que vai tornar “impositivo” o que é recomendado, e de forma selectiva, com o parecer da delegação de saúde, serão autorizados ou não actividades culturais nos equipamentos municipais, o que pode deixar a vereadora da Cultura, à beira de um ataque de nervos, dada a agenda de iniciativas que já foram anunciadas até ao fim do ano.
Esta postura mais exigente, visa reprimir o que se passou que “é inconsequente e incoerente com o que tenho comunicado aos vimaranenses sobre a pandemia” referindo ainda que “não tem sido favorável a Guimarães”, pois, com a repetida subida de casos de infecção, “o número é já demasiado alto” anunciando que em Guimarães as autoridades de saúde terão de fazer o mesmo que fizeram na Área Metropolitana de Lisboa, criando equipas multidisciplinares, de combate à Covid-19.
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