João Almeida, administrador da JFA
O director do núcleo de fiação e tinturaria da JFA acompanha, há quase dez anos, o salto da empresa de têxteis para os mercados externos. E isso inclui o nascimento de fios inovadores e amigos do ambiente.
João Almeida é um homem ocupado. Sobe e desce as escadas da empresa rapidamente nos intervalos entre reuniões e recebe chamadas durante a conversa com o Guimarães, agora!. Nota-se que há um planeamento rigoroso no seu dia-a-dia. O jovem de 29 anos é o director do núcleo “responsável pela fiação e tinturaria” da J.F. Almeida (JFA), empresa do sector têxtil para o lar sediada em Moreira de Cónegos. A sua jornada no negócio de família começou há nove anos, logo depois de ter terminado a licenciatura em Gestão de Empresas. Mais tarde, reforçaria valências e conhecimentos com a pós-graduação em Finanças.
O escritório onde nos recebe é amplo e predominantemente branco, há blocos, canetas e uma calculadora na mesa. Mas também saltam à vista toques coloridos em cada canto. Cones de fios que parecem reluzir, peças de roupa em cabides ao fundo da sala – a decoração espelha o trabalho (e o sucesso). “Os fios e a tinturaria representam 20% do volume de facturação geral”, explica, acrescentando que a percentagem equivale a “quase 10 milhões de euros”. Os irmãos de João também dirigem os restantes núcleos (tecelagem e logística, para além do suporte à marca Mi Casa Es Tu Casa). O negócio já lhes corre nas veias. Juntos, procuram adaptar a empresa às necessidades do mercado actual, mas sem nunca esquecer quando tudo começou: 1979. A data assinala-se no largo painel que se ergue nas costas de João.
“Antigamente, esta empresa fazia um bocado de serviço de tinturaria, mas acabámos por ficar com excendentário de produção”, relembra. “Depois, começámos a importar fio e tínhamos aqui tudo. Assim, vendíamos o produto final ao cliente.” Mas não é só de importações que se tece esta história: procura-se vender “lá fora”. Até porque, como João aponta, “o mercado nacional estava cheio e saturado”. “Procurámos outros mercados e fizemos feiras. Já passámos por Espanha, Itália, França, Letónia e Lituânia.” Só que a JFA, apesar “dos produtos de qualidade”, só apresentava “fios com cor”, para além dos concorrentes Turquia ou China, com preços “muito competitivos”.
Para atingir o objectivo de levar a marca a outros prados, a JFA adquiriu o know-how da Arco Têxtil e uma máquina de Space Dye (cuja tecnologia de tingimento pode ir até seis cores), que teve os dias contados: “Parti a máquina toda e comprei uma nova.” Em 2014, regista-se a marca Papilio, que consiste num fio multicolorido. Mas, para aliciar potenciais clientes, foi necessário dar outro passo: não bastava mostrar cones com fios, mas sim peças finais. “Juntei-me ao estilista Luís de Carvalho porque os clientes não sabiam como o Papilio ficava na máquina e no tecido”, refere.
Hoje, a venda de fios para terceiros representa cerca de 6,5 milhões de euros na facturação do grupo empresarial – apesar de este ser “um nicho de mercado”. “É um produto com imensas mais-valias, para além de ser muito mais complexo de se produzir. Não é qualquer um que o faz.”
Moda também é sustentabilidade
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O investimento tecnológico da JFA reflecte-se “na maquinaria bem avançada”. “Também estamos a avançar na automação, se bem que, neste tipo de mercado, entra mais a semi-automação.” Depois dos dados referidos na apresentação da segunda fase do programa Indústria 4.0, que apontam para uma maturidade digital em apenas 25% das empresas portuguesas, importa questionar: em que pé se encontra a JFA nesta “revolução digital”? “Estaremos, certamente, nesses 25%”, assegura. E o mesmo se passa internamente. “Vamos acabar com a ‘papelada’. Comprámos um programa de 70 mil euros para simplificar processos logísticos ou de facturação, por exemplo”, explica o business manager.
E se a redução da utilização de papel por parte da empresa reflecte as práticas ambientais que têm sido postas em curso um pouco por todo o lado, a moda segue o mesmo caminho. O fio 360 JFA dá a volta ao desperdício de matéria-prima: este é um produto que aproveita “os desperdícios da tecelagem”.
Depois, transforma-se em fio. É composto por 90% algodão e 10% poliéster totalmente reciclados e assenta “na base da economia circular”. “Há uma necessidade de sustentabilidade, também, e o cliente procura evitar o desperdício”, explica. “É uma tendência millennial de procura de produtos mais ‘verdes’”. Para João, a questão ambiental aliada à moda está a deixar a sua marca no panorama têxtil nacional: “Toda a gente procura isso em Portugal.” E a fiação da JFA “tem certificados a nível ambiental”, colocando a empresa “num bom patamar”. No que diz respeito aos costumes da clientela, é a “internacional que adopta mais este pensamento ecológico.”
A moda vai ao encontro das demandas do consumidor (e do planeta), sem nunca esquecer o conforto. O problema pode ser o preço, mas, insiste João, “é um produto de nicho”. Tal como o iHeatex, um projecto comparticipado pelo Portugal 2020 que aposta nos felpos que “aquecem e secam rapidamente”. É um produto “que pode custar mais 70% ou 80% que o normal e não é para grandes superfícies”, indica. E porquê? “É um produto de conforto diferente. A toalha de banho seca rapidamente, o robe aquece.” O director daquele núcleo da JFA não tem dúvidas: “Se trabalharmos para os básicos, não vamos conseguir competir com o Bangladesh, Índia ou Paquistão. Temos de propor ao mercado algo particular.” Os produtos iHeatex, ainda em fase de desenvolvimento, têm uma bateria incorporada (que se quer mais pequena) e fios condutores. Por isso, existe uma parceria com o CITEVE (Centro Tecnológico Têxtil e Vestuário) e o CeNTI (Centre of Nanotechnology and Smart Materials).
Para o futuro, João aponta um grande objectivo, que dá continuidade ao que tem sido feito até agora: “procurar novos mercados”, como o da América do Sul. Para além disso, importa reforçar o europeu, que tem apresentado algumas dificuldades. “O consumo de felpo baixou e muito por causa de problemas políticos e sociais. O Brexit, por exemplo. Ou então a greve dos coletes amarelos, em França. Como é que se vende quando as lojas em Paris estão fechadas ao Sábado?” Os obstáculos não o demovem: o objectivo é abrir mais portas e olhar o futuro de frente.
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