A Associação Artística Vimaranense deu forma a um Festival que tende a afirmar-se pela sua qualidade e algum ineditismo, tendo como palco a cidade e os seus recantos.
E a tornar-se num expoente da produção cultural do movimento associativo. Sem tiques de profissionalismo, o Festival de Canto Lírico de Guimarães deixa no ar virtudes que são apanágio dos bons exemplos da cultura que se faz, como o envolvimento e a participação da comunidade, de modo informal mas com resultados evidentes na qualidade do espectáculo.
O Festival de Canto Lírico, não prescindindo, nem podendo prescindir de apoios oficiais, nomeadamente da Câmara Municipal, é um bom exemplo de que há mais vida na cultura associativa do que aquela que é oferecida pela estrutura municipal.
Francisco Teixeira, director artístico do Festival, admite proceder à alteração dos aspectos que obrigaram os espectadores a correr de um lado para o outro, dos diversos palcos de actuação dos artistas convidados, apenas por uma questão de horários.
📸 Direitos Reservados
Qual o balanço que se faz desta edição do Festival?
O balanço foi extraordinariamente positivo. O nosso balanço depende, sobretudo, de dois critérios: do envolvimento comunitário e cívico e da qualidade artística, estética e cultural do programa.
Ora, o que o nosso processo e a realização do próprio evento revelou foi quer o envolvimento de dezenas de pessoas na concepção e organização do festival, quer a valorização das comunidades locais, que nos vinham falar, espantadas, por levarmos música, beleza e envolvimento comunitários aos sítios mais inusitados de Guimarães, alguns deles quase abandonados, e por onde nunca tinha passado nada.
Também revelamos uma “cidade” desconhecida, valorizando uma memória e patrimónios decisivos para a Guimarães dos séculos XVIII, XIX e XX, a Guimarães industrial, as casas e vielas dos seus operários, os mapas dos seus esforços, vidas e cultura, que foram decisivas para a Guimarães que somos hoje.
“Tivemos muito público, que criou um remoinho de corridas e passeios de pessoas, algumas perdidas que só se encontraram por via da música.”
Claro que também tivemos muito público, que criou um remoinho de corridas e passeios de pessoas, algumas perdidas que só se encontraram por via da música, que vinha de todos os lados.
Claro que também tivemos espectáculos de alto nível artístico, operático e dramático no CCVF. Sempre com imenso público. Mas o mais importante para nós é a criação de uma comunidade que se fortificou com este festival. Não somos uma fábrica ou uma empresa de eventos culturais. Somos uma comunidade. E essa comunidade saiu profundamente reforçada.
Como foi a experiência de realizar pequenos concertos, em locais diferentes de uma cidade escondida?
Do ponto de vista logístico foi um “pesadelo”. Mas que, simultaneamente, ajudou a criar um fortíssimo espírito de grupo na ASMAV, nos seus associados e colaboradores, que, às dezenas, se entusiasmaram profundamente com este projecto e que nos alegrou a todos profundamente. Não podemos esquecer um importante apoio logístico da Câmara, e particularmente do técnico que nos acompanhou, o David Costa, de uma entrega e profissionalismo inexcedíveis.
O tempo ajudou… e se o sol fosse substituído pela chuva?
Mas não choveu. “A sorte protege os audazes”.
Qual é a avaliação do programa escolhido? Ajustou-se ao conceito e necessidades? Correspondeu ao desejado?
O “programa” musical e dramático mostrou-se adequado. As peças do “Nessum dorma” foram escolhidas entre o repertório clássico que fosse capaz de mobilizar a atenção e emoção das pessoas, mesmo nos momentos e locais mais estranhos. O “tema do mar”, que organizava a dimensão cénica, contrastando com a dura urbanidade operária criou um contraste esteticamente impactante.
E a audiência foi a esperada?
Foi melhor. No “Nessum dorma”, no Sábado, de tarde, tivemos dezenas, talvez centenas, de pessoas, literalmente a correrem de um lado para o outro, extasiadas e entusiasmadas.
Foi uma festa magnífica. No Sábado à noite, no CCVF, no concerto “Dois homens e uma orquestra”, tivemos dois dos principais solistas portugueses, com um programa de árias e temas operáticos universais, num concerto que foi unanimemente considerado entusiasmante, alegre e de superior qualidade interpretativa.
No Domingo à noite, com a “A Nave dos Diabos”, uma ópera contemporânea do Atelier de Ópera de Setúbal, com música e encenação do Jorge Salgueiro, tivemos menos público, mas com dois terços do CCVF, nas suas actuais limitações.
Foi uma Ópera com uma linguagem mais densa e exigente que o espectáculo do dia anterior, mas que compôs um programa que deve ser para todos, para as pessoas mais e menos habituadas às linguagens musicais operáticas.
Certamente que o público também era composto por gente fora de Guimarães!
Sim. Tivemos muita gente do Porto, de Braga, de Famalicão, de Leiria e de Setúbal, de onde veio a “A Nave dos Diabos”. Podemos assinalar com este rigor estas origens porque uma parte significativa destas pessoas são amigos da ASMAV, conhecem o trabalho do Jorge Salgueiro e, claro, conhecem bem Guimarães, o CCVF e a sua produção cultural.
O modelo do evento pode ser repetido ou revisto? O que há para avaliar?
Claro que há coisas para avaliar e melhorar e corrigir. Fá-lo-emos. Em conjunto.
Há quem diga com razão que o tempo não deu para ver todos os espectáculos. Será um dos aspectos a rever no futuro?
Sim, é uma crítica justa. Com mais dinheiro faríamos melhor. Mas, curiosamente, até o limite de tempo do “Nessum dorma”, da Rua D. João I a Couros, “correu bem”. Não deixou de nos causar uma certa comoção ver as pessoas literalmente a correr a cidade baixa, para poderem ver e ouvir o que nunca viram nem ouviram. A “graça” é para corrigir, mas foi mesmo emocionante.
© 2021 Guimarães, agora!
Partilhe a sua opinião nos comentários em baixo!
Siga-nos no Facebook, Twitter e Instagram!
Quer falar connosco? Envie um email para geral@guimaraesagora.pt.
Fantástico!
Fiquei a conhecer cantos e recantos de Guimarães que não imaginava existir, mesmo nascida e criada em Guimarães!Entao com aquela sonoridade…. foi maravilhoso!
O tempo foi realmente pouco , não consegui ver Td que desejava, mas mesmo assim foi uma surpresa fantástica!
O Nessun Dorma foi fantástico. No entanto foi-me impossível assistir às dezanove interpretações. Se considerarmos que uma pessoa estaria quatro minutos a assistir a cada ária, mais um ou dois minutos para de deslocar para o ponto seguinte, chegar-se-à à conclusão de que, na melhor das hipóteses, se conseguiria assistir a cerca de metade das árias.
Sugiro que, em futuros eventos deste tipo, se distribua um croquis com setas a indicar o percurso. Quem não conhecia Guimarães andou um pouco perdido. De qualquer forma a organização foi excelente.
O concerto “Dois homens e uma orquestra” e a ópera “A Nave dos Diabos”, pela Companhia de Ópera de Setúbal, foram de elevada qualidade.
Guimarães e a organização do III Festival do Canto Lírico estão de parabéns.
Foram espectáculos soberbos, inovadores, de muita beleza estética!
À organização dou os meus parabéns! Há arestas a limar? Claro que sim. A disposição dos cantores por essas ruas maravilhosas e que muitos não conheciam, teria que ser mais próxima… o mapa era essencial para ajudar o público a lá chegar..
No compto geral, os três eventos foram magníficos, a organização eficiente, e como alguém disse, as ajudas financeiras são essenciais para este tipo de eventos!
Muito obrigada ao Dr.Teixeira e à Dra
Eva , que foram incansáveis, para que tudo corresse o melhor possível!
Orgulho-me de ter estado como participante nessa cidade maravilhosa, e ao maestro Jorge Salgueiro que nos levou em mais uma viagem ao mundo dos sonhos…