Há uns dias, o dr. Louçã aproveitou o seu espaço de pregação ideológica na SIC Notícias para punir a deputada municipal Aline Beuvink, por ter votado sozinha contra a celebração dos 100 anos do PCP. Com uma banalidade desconcertante, grosseira e embaraçosa para um “professor”, que também integra o Conselho de Estado, o dr. Louçã recuperou um discurso de 2019 da deputada para gozar com ela e com “os milicianos da extrema-direita” que “reforçam a sua lenda de que os comunistas comem mesmo criancinhas”, como fez questão de esclarecer na sua página do Facebook. O delinquente ideológico Louçã deixou, assim, muito claro que para ele o discurso de Aline Beuvink é mais infame do que deixar milhões de pessoas morrerem à fome. Que miséria.
Cativo das suas mentiras, branqueamentos e alucinações, o dr. Louçã veio uns dias depois dizer que a Grande Fome da Ucrânia é um crime “do estalinismo”, como quem diz que não teve nada a ver com o comunismo. Qual é mistificação em que esta afirmação se baseia? Ele pega nos crimes hediondos de Estaline e sublinha que eles foram contra o ideal comunista. Pronto, demonstração bem-sucedida. Estaline nunca foi comunista, mas um desvio…um traidor da causa comunista, como o próprio afirmou em declarações à SAPO24, em 2017: “a revolução foi destruída pelo estalinismo ao longo dos anos seguintes”.
Não, dr. Louçã. O terror genocida é uma criação de Lenine. Foi Lenine que inventou o cinismo absoluto ao serviço da utopia radical. “Para a revolução não há sacrifícios grandes o suficiente”, repetiu vezes sem conta Lenine, expressando a essência genocida do comunismo. O cerne do comunismo, como apregoava Lenine (e Marx) é abolir a realidade e substituí-la por uma pseudo-realidade. Daí que Lenine não só falou como fez tudo o que disse:
Criou os Gulags, a infame Cheka, o Cominterm, o “comunismo de guerra” e o “terror vermelho” com intenção genocida.
Ordenou o confisco de todo o cereal dos Kulaks e que deixassem “os camponeses morrerem de fome”, na chamada fome Povolzhye, que matou cerca de 5 milhões de pessoas, e provocou surtos de canibalismo (sim, dr. Louçã, os comunistas comem mesmo criancinhas, pais e avós). No O Arquipélago Gulag, Aleksandr Soljenítsin diz que “aquela fome horrível levou ao canibalismo, ao consumo de crianças por seus próprios pais – a fome, que a Rússia nunca conheceu mesmo no Tempo de Dificuldades”. Recorde-se que Lenine só recorreu à NPE quando começou a escassear o cereal.
Ordenou o extermínio da consciência e do pensamento independente, a pena de morte, a supressão da imprensa livre, enforcamentos, fuzilamentos, tomada de reféns, ciladas, privação de cidadania, deportações em massa, expulsões e perseguições a contrarrevolucionários, não pelos seus comportamentos, mas apenas por serem pessoas a quem Lenine rotulava de “inimigos da classe” (o equivalente aos “milicianos da extrema direita” do dr. Louçã).
Esmagou a religião, por considerar que “adorar qualquer deus é uma necrofilia ideológica”.
Criou o trabalho escravo, como meio de acelerar a conversão para a economia socialista.
Expropriou palácios e propriedades, baptizou cidades com o seu nome, erigiu monumentos a si próprio e deixou claro que “ainda há muitas coisas no mundo que devem ser destruídas com fogo e ferro”.
Estaline já estava resumido em Lenine e com ele todos os regimes comunistas do século XX. O “estalinismo” nunca existiu. Foi uma invenção de Khrushchev atribuir a Estaline o que são as características fundamentais do comunismo, as suas falhas inatas, como revelou Aleksandr Soljenítsin. Estaline limitou-se a executar e a aperfeiçoar a teoria e práticas genocidas de Lenine. Mao Tsé-Tung viria a fazer o mesmo na China. Ainda hoje a Constituição da República Popular da China inspira-se no marxismo-leninismo e foram várias as vezes em que o Partido Comunista Chinês se gabou de ser talentoso e criativo no seu desenvolvimento do marxismo-leninismo, quando, na realidade, o que o Partido Comunista Chinês desenvolveu criativamente foi a ideologia genocida comunista. Também ali Mao Tsé-Tung provocou grandes fomes, de que quase ninguém fala, que causaram a morte a mais de 45 milhões de chineses. No livro A Grande Fome de Mao: a história da catástrofe mais devastadora da China, Frank Dikotter dedica um capítulo inteiro ao canibalismo na China. Também em Scarlet Memorial: Tales of Cannibalism in Modern China, Zheng Yi relata os numerosos casos de canibalismo na província de Guangxi: “as pessoas eram levadas a comer aqueles que morriam, canibalizavam aqueles que fugiam de outras regiões e até matavam e comiam suas próprias crianças”. Em suma, como nos lembra Stéphane Courtois, “a fome, como se sabe, desumaniza”, pelo que o mito de que “os comunistas comem criancinhas” tem mais fundamento histórico do que gostaríamos.
A verdade é que todo o comunismo que chegou ao poder, em qualquer parte do mundo, produziu as mesmas barbáries inomináveis: o grau e o nível da barbárie mudaram, mas não o resultado genocida de todos os regimes comunistas.
Porém, para o dr. Louçã (e restantes resíduos do marxismo-leninismo-trotskismo) nenhum destes regimes foi realmente comunista. Eles podem parecer comunistas, pensar e agir como comunistas e até se intitularem de comunistas, mas é pura ilusão. Eles deixam de ser comunistas no momento em que comprometem a causa revolucionária comunista. Ontem, Estaline. Hoje, Maduro. O verdadeiro comunismo, o ideal, é aquele que promete criar o paraíso na Terra, ou seja, aquele que nunca chegou ao poder.
Numa carta que enviou a Inessa Armand, Lenine rotulou Trotski de “Judas”: “Este é Trotski. Sempre o mesmo, evasivo, vigarista, apresenta-se como um esquerdista, mas auxilia a direita sempre que pode”. Era sobre Trotski, mas podia ser sobre o neoburguês Louçã.
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