O plano do serviço de transportes públicos, que PS e PSD/CDS-PP aprovaram, por unanimidade, pela sua qualidade e ambição, deixou a classe política radiante, em Março. Hoje, conhecidos os candidatos à concessão, as dúvidas ficaram no ar sobre se o Município vai ter o parceiro ideal para implementar este serviço público, com os objectivos definidos… e por metade do preço base.
A unanimidade conseguida pelo plano de transportes apresentado e aprovado em Março, foi agora quebrada pelos vereadores do PSD e CDS/PP que torceram o nariz às respostas dadas pelos candidatos à concessão. Ainda para mais quando este concurso não teve o interesse e participação da ARRIVA e da TRANSDEV – duas empresas de peso e prestígio no serviço público de transportes de passageiros e que operam na região com as carreiras inter-urbanas, à volta de Guimarães.
Os vereadores da Coligação Juntos por Guimarães, abstiveram-se na votação que aprovou, apenas com os votos dos vereadores do PS, não apenas a classificação da lista de eventuais concessionários dos novos TUG, como a sua ordem em que a empresa vimaranense Vale do Ave, Transportes, Ldª, com sede em Serzedelo, está em primeiro lugar.
Se o receio inicial, da parte da Câmara – e do PS – era de que o concurso pudesse ficar vazio – por ausência de concorrentes -, agora o que preocupa a gestão municipal e cria dúvidas na oposição, é se a empresa Vale do Ave, Transportes pode corresponder à ambição deste serviço, ainda para mais quando concorreu com um preço, de mais de 50% inferior à base do concurso.
Ou seja, depois de se ter situado em 35 e depois em 30 milhões de euros, no âmbito dos estudos preparatórios da equipa do professor Álvaro Costa, o valor do investimento municipal para ter um serviço de transportes de qualidade, amigo do ambiente e com uma frota moderna, a proposta de mais de metade do preço deixou desconfiados – e com dúvidas – os vereadores da oposição, um desconforto que deixa o PS sozinho na defesa de uma matéria onde a unanimidade se quebra e pode ser extensível aos partidos com assento na Assembleia Municipal.
A estranheza dos vereadores do PSD e CDS/PP
António Monteiro de Castro foi quem anunciou que a Coligação Juntos por Guimarães iria abster-se na votação. E apontou as razões:
- Porque razão os principais operadores (ARRIVA e TRANSDEV) não concorreram?
- Que razões tinha a ARRIVA para não se ter interessado pelo concurso?
- Que tendo em conta o preço base inicial de 30.905.319€ – que não terá entusiasmado os operadores se venha a obter um preço de metade, isto é de 15.105.706€.
E historiou o processo, realçando que os “transportes públicos de passageiros, mereceu sempre uma atenção especial pela sua importância a nível económico, social, ambiental e do território”. Monteiro de Castro sublinhou ainda que “o sucesso deste projecto contribuiria para transformar o Município, tornando-o mais solidário, acentuando a coesão do território, tornando-o mais limpo e mais sustentável”. Foi, pois, com base nestes pressupostos que a coligação PSD e CDS/PP através dos seus vereadores sempre votaram favoravelmente todas as propostas.
O presidente da Câmara, perante as dúvidas da oposição, e o desconforto que a quebra de unanimidade política sobre um assunto que tornou bandeira do seu segundo mandato, não escondeu a preocupação e ansiedade que o concurso deixou, numa corrida em que ainda ninguém percebeu porque é que a ARRIVA e a TRANSDEV não tentaram sequer uma proposta. A ARRIVA é a actual detentora da concessão, e não foi a jogo para defender a sua posição no mercado dos transportes púbicos de passageiros na cidade, que foi sempre quase um monopólio da João Carlos Soares e depois do consórcio de vários operadores para passar agora para a ARRIVA.
Domingos Bragança afirma que a Vale do Ave, Transportes tem agora de mostrar não apenas porque consegue cumprir o plano de transportes traçado, com a mesma ambição e qualidade com que foi definido, “poupando” ao Município um pouco mais de 15 milhões de euros, em 10 anos, como sustentará o seu negócio, num cenário de crise, e com forte concorrência do automóvel e com a responsabilidade de alargar a frota e o circuito de transportes.
O assunto voltará novamente à Câmara Municipal, com a posição do júri que analisará a resposta da empresa vimaranense às questões do caderno de encargos.
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