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Sexta-feira, Novembro 22, 2024
Miguel Leite
Miguel Leite
Natural de Guimarães, fisioterapeuta licenciado, com mais de 10 anos de experiência profissional, tendo já tido várias experiências profissionais (meio hospitalar, clínica, ensino especial em escolas e meio desportivo/desporto de alta competição). É também pós graduado em fisiologia do exercício e fisioterapia cardiorrespiratória. Têm outras formações complementares relacionadas com a sua profissão. Faz parte dos Bombeiros Voluntários de Guimarães, pertencendo desta forma ao atual corpo ativo da corporação vimaranense.

O Pai Natal “torceu” o pé, e agora?

A época natalícia impera por estes dias, originando uma agitação social imensa. Como é de conhecimento de todos existe uma figura simbólica e especial para grande parte da população, designada de Pai Natal. Esta figura é associada a um momento muito importante, principalmente para as crianças, que é a distribuição de prendas. Porém, o facto de o mesmo percorrer km’s e km’s no desempenho das suas funções, pode ocasionar alguns imprevistos. E se de repente o Pai Natal tivesse uma entorse do tornozelo a descer do trenó? Ou mesmo a entrar para a chaminé? Como poderíamos proceder para ajudá-lo, para que o mesmo continuasse a sua tão nobre missão na noite mais especial do ano?

A entorse da articulação tibio-társica (lesão musculosquelética muito habitual) pode acontecer por traumatismo direto ou indireto, sendo os mecanismos de lesão em inversão/externa (mais comuns) ou em eversão/interna. Os ligamentos do tornozelo (sendo o ligamento peroneo astragalino anterior normalmente o mais atingido) conferem à articulação uma estabilidade que permite à mesma uma dinâmica de movimentos segura para o indivíduo. No momento em que as componentes elásticas dos ligamentos são comprometidas, devido a um stress mecânico induzido ao ligamento e consequente incapacidade do mesmo em voltar à sua posição inicial, estamos perante uma situação patológica.

“Numa fase inicial devemos estar atentos se existe uma laxidez ligamentar prévia, existência de entorses anteriores…”

Existe uma classificação que gradua o tipo de entorse que se encontra perante nós, como sendo: grau I (existe um estiramento ligeiro ligamentar); grau II (observa-se rotura parcial ligamentar) e grau III (verifica-se rotura completa ligamentar). Numa fase inicial devemos estar atentos se existe uma laxidez ligamentar prévia (muito comum nas mulheres), existência de entorses anteriores ou se estamos perante um praticante frequente de modalidades desportivas que envolvam salto e corrida.

A presença de sintomas como incapacidade de marcha imediata, edema, hematoma com equimose (coloração escura), instabilidade articular e dificuldade em mobilizar ativamente o pé, são características que nos devem deixar alerta. Quanto maior é a agudização dos sintomas pior será o prognóstico e consequente a severidade do tipo de entorse. A realização de exames complementares de diagnóstico será importante para diferenciar a integridade das estruturas do pé; o raio-x para verificar a presença ou não de fratura óssea e a ressonância magnética para obter imagens mais exatas do nível de gravidade da estrutura ligamentar. Então, como devemos proceder?

Obviamente, que o tipo e o grau de entorse implicam gravidades clínicas diferentes, porém, podemos ter uma intervenção segura e eficaz se formos objetivos e diretos na nossa intervenção. Existem protocolos conhecidos internacionalmente (PRICE, POLICE, entre outros), que têm vindo a sofrer modificações, no entanto, a aplicação de duas canadianas para descarga parcial/total, realização de gelo local controlado, repouso orientado, imobilização dos segmentos anatómicos com uma ligadura funcional específica e elevação do membro em período noturno, parece-me ser a abordagem mais indicada entre as primeiras 24h e 72h pós lesão (fase inflamatória). A realização de um plano de Fisioterapia (tratamento conservador) será o mais indicado, sabendo que os sintomas juntamente com o grau da entorse determinarão o plano de intervenção e o tempo de recuperação.

A supervisão deste procedimento por uma equipa multidisciplinar é fundamental (desde à avaliação Médica até ao acompanhamento diário por um Fisioterapeuta). Mais uma vez e como em tantas outras lesões a prevenção assume um papel fundamental, desde logo potenciando exercícios de fortalecimento, flexibilidade e mobilidade do tornozelo, respeitando estadios de fadiga e desse modo evitar a agressão da estrutura e consequente lesão. Desta forma, e desejando que o Pai Natal consiga cumprir as suas tarefas natalícias atempadamente, fazendo desse modo a delícia dos mais jovens, certamente todos saberão ter uma intervenção base capaz de o auxiliar numa primeira fase caso o mesmo tenha uma entorse do tornozelo.

© 2020 Guimarães, agora!

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