Há poucas coisas piores do que lidar com pessoas narcisistas. Falecer é pior. Calcar cocó não. A marca e o cheiro a cocó são efémeros. O trilho de um narcisista na nossa vida é para sempre.
A realidade é completamente deformada e distorcida: quem tem a desventura de cair nas mãos de uma dessas criaturas pode ter a certeza de que será repetidamente violado, manipulado, enganado, ridicularizado, rebaixado (para se enaltecer e agigantar) e, inclusive, levado a acreditar que imagina coisas.
Ou que dramatiza. A violência psicológica por narcisistas é um galopante abuso verbal e emocional, projecção tóxica, sabotagem, difamação, coerção e controlo. Uma pessoa narcisista explora a outra de modo a atender às suas próprias necessidades.
A pessoa que julgava conhecer não existe. Ou existe a pequenos espaços, entre os soluços das desculpas (muito) convenientes.
A identidade do ser manipulado foi corrompida e diminuída. Primeiro, há uma idealização. É preciso ressalvar que a pessoa narcisista tende a não saber estar sozinha, por não suportar a sua própria presença, sozinha, com os seus pensamentos. É uma pinga-amor do caraças, é o que é. Ou não. A sua energia é pesada, e a sua pose é, não raras vezes, sexualizada.
Depois da fase do love-bomb, há o cair da máscara. Não é bonito. Constantemente desvalorizada, descartada várias vezes, para depois ser novamente ‘aspirada’ e atraída, num jogo extenuante e bipolar, volta a um ciclo de abuso que parece não ter escapatória.
Não é raro a vítima não perceber a bolha em que (sobre)vive. A tortura redobra: perseguição, chantagem e intimidação. Ameaças.
A pessoa narcisista é um poço sem fundo, em vários sentidos: inesgotavelmente à procura de aceitação, de elogios, de uma imagem para vender ao mundo, de dinheiro e de quem possa cumprir os seus caprichos, sem se importar com o lastro de destruição que semeia e com as pontas soltas que arrasta. A pessoa narcisista gosta de se sentar no sofá alheio. Ou na casa.
Para uma pessoa com transtorno do Narciso, um “não” é uma afronta, e um rompimento não existe se não partir de si. E se assim não for, a factura virá mais à frente. A pessoa narcisista tratará de arranjar a capa da vítima, imputando culpas, habitualmente imaginadas, à pessoa que agrediu, vilipendiou, enganou e até roubou.
O abuso narcisista é bem pior que merda.
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