O 25 de Novembro não é apenas uma data no calendário. É o dia em que Portugal decidiu, de forma clara, que queria viver em liberdade, e que nenhum extremismo, de esquerda ou de direita, teria o direito de capturar o país. É o dia em que o país escolheu a democracia em vez de uma deriva ideológica, a liberdade em vez do autoritarismo, a responsabilidade em vez do radicalismo.
Para mim, o 25 de Novembro é um lembrete de que a liberdade é profundamente frágil e que nunca está definitivamente conquistada.
Houve uma altura em que Portugal esteve perto de a perder. Hoje, muitos acreditam que isso não volta a acontecer. Eu não acredito nessa ilusão. A história não se repete da mesma forma, mas repete-se no espírito, e hoje vemos sinais que não podemos ignorar.
Vemos a normalização crescente de discursos autoritários. Vemos um populismo que transforma adversários em inimigos e que despreza a moderação. Vemos ataques à independência da justiça, disfarçados de “vontade popular”. Vemos partidos que tratam a democracia como um obstáculo em vez de um valor. Vemos a tentação constante de procurar “salvadores”, “homens fortes” e “atalhos fáceis”.
E vemos, também, uma deriva autoritária à vista de todos – uma direita que se aproxima perigosamente de discursos iliberais, e uma extrema-direita que fala de liberdade com a mesma facilidade com que elogia figuras que nunca acreditaram nela. Que transforma a frustração em combustível político e que trata princípios democráticos como detalhes descartáveis e que não hesita em colocar a liberdade em segundo plano sempre que dá jeito à narrativa.
O 25 de Novembro ensinou-nos que a liberdade pode ser ameaçada por quem diz defendê-la. Hoje, o perigo não está nos tanques nas ruas. Está no discurso que os precede:
- na erosão lenta da confiança nas instituições;
- na ideia de que a justiça só serve quando absolve os nossos;
- na narrativa de que a democracia é fraca;
- na tentação de substituir o Estado de Direito pela vontade de um líder – autoproclamado salvador.
“E já vimos países europeus a recuar: Hungria, Polónia (no passado), Eslováquia – democracias que foram sendo minadas a partir de dentro.”
A história não avança sempre para a frente. Pode andar para trás. E já vimos países europeus a recuar: Hungria, Polónia (no passado), Eslováquia – democracias que foram sendo minadas a partir de dentro, não por revoluções mas por um desgaste contínuo e silencioso. E Portugal não é imune.
É por isso que o 25 de Novembro não deve ser só celebrado. Deve ser lembrado como um aviso.
Porque a liberdade não se perde num dia. Perde-se nas pequenas cedências. Nos silêncios cúmplices. Nos discursos que pareciam inofensivos. Nos votos dados “só desta vez”. Nos líderes que prometem força, mas entregam fragilidade democrática.
A força de um país não está nos comandantes; está nos cidadãos livres. Hoje, celebrar o 25 de Novembro é defender exatamente isto:
- que a justiça seja independente;
- que a democracia não seja instrumentalizada;
- que o espaço público não seja ocupado pelo ódio;
- que a liberdade individual não seja negociada;
- que o populismo não dite o futuro;
- e que nenhum extremismo capture o que a democracia levou décadas a construir.
Se há algo que esta data me lembra é que a liberdade só sobrevive quando há pessoas dispostas a defendê-la. E defender a liberdade, em 2025, significa dizer claramente que autoritarismo, populismo e deriva iliberal não são “opções políticas”: são ameaças reais, e cada vez mais presentes.
O 25 de Novembro foi a vitória de Portugal sobre a tentação totalitária – uma tentação que vinha da extrema-esquerda. E a melhor forma de honrar esse dia é garantir que nunca mais teremos de repetir essa vitória.
Porque a liberdade não morre de repente. Morre quando deixamos de reparar que está a ser atacada.
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