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Sábado, Outubro 12, 2024
José Eduardo Guimarães
José Eduardo Guimarães
Da imprensa local (Notícias de Guimarães, Toural e Expresso do Ave), à regional (Correio do Minho), da desportiva (Off-Side, O Jogo) à nacional (Público, ANOP e Lusa), do jornal à agência, sempre com a mesma vontade de contar histórias, ouvir pessoas, escrever e fotografar, numa paixão infindável pelo jornalismo, de qualidade (que dá mais trabalho), eis o resultado de um percurso também como director mas sempre com o mesmo espírito de jornalista… 30 anos de jornalismo que falam por si!

Passar ao lado!

Os portugueses gostam de ir em contra-mão, mesmo em situações de catástrofe.

Já foi assim quando numa situação de emergência recente, poucos aceitaram que a factura dos governos de Sócrates iria chegar aos nossos bolsos, e a herança onerosa daí resultante, obrigava o governo de Passos Coelho à imposição de regras restritivas a um bem-estar mais gordo e que terminou num grande aumento de impostos. E que essa herança se perpetuaria no futuro, desde então.

Apesar do alívio que os governos de Costa engendraram, com políticas desviantes de austeridade – transferindo para os combustíveis a austeridade que ainda hoje se mantêm, quando na Europa o preço da gasolina e gasóleo baixavam – e cobrindo-as com medidas de protecção social, a verdade é que os portugueses nunca aceitarem bem viver em austeridade imposta pela troika e pela UE e FMI, ignorando a nossa situação financeira e económica, que aos poucos se foi aliviando, com o seu e nosso esforço. E o esforço das empresas – dos trabalhadores e empresários.

É evidente que um mal, não dura para sempre, importando por isso, ter consciência da realidade, até para que as dificuldades não se cubram com mel, indo para além do que é necessário e suficiente.

Veio o Novo Banco, a confirmação da falência do grupo BES, a reprivatização da TAP e outras situações mais, que deixam a nossa dívida a subir, sem que ninguém esvazie esse balão…

Com uma conjuntura favorável, de aumentos de exportações, de juros baixos, de desinvestimentos em áreas essenciais como a saúde e educação, com os portugueses a pagarem religiosamente os seus impostos, eis que a factura se agrava por decisões dos gestores do país – que mandando sempre culpas de uns para outros – nos enterram cada vez mais cometendo erros atrás de erros. Veio o Novo Banco, a confirmação da falência do grupo BES, a reprivatização da TAP e outras situações mais, que deixam a nossa dívida a subir, sem que ninguém esvazie esse balão, de poupanças e recursos que os portugueses são obrigados a dar, para alguém se safar dos erros que comete.

Os portugueses deixaram-se iludir e começaram a acreditar que o pior já tinha passado. E aceitaram que a austeridade pura mudasse de nome, fosse aliviada num lado e transferida para outro.

O certo é que continuamos a viver com a crise, dos bancos e dos enormes passivos acumulados e permitidos por gestores de gabarito, a quem conferimos medalhas e condecorações. Pagamos empréstimos à UE e ao FMI mas voltamos a pedir emprestado a outras entidades.

Na altura, saíram para a rua os sempre mais protegidos: professores e funcionários da administração, ou seja, várias classes que vivem do Estado, representados por sindicatos seus amigos. Agora, assolou-nos outra crise: a de uma pandemia que um vírus demasiado infeccioso abalou o mundo inteiro nos manda mudar de vida e ter regras próprias para evitar o seu contágio massivo.

As tv’s, jornais e rádios, inundaram-se de políticos de todos os tipos e categorias para quem a saúde pública era uma treta. Armados em especialistas de coisa nenhuma, montaram gabinetes, estruturas subalternas, compraram o que não era preciso. E deixaram os médicos e cientistas na prateleira. O pior é que este espectáculo público ficou-nos caro porque o contágio continua a aumentar e nenhuma das soluções, medidas e mezinhas com origem no saber da classe política teve efeito. Pelo contrário, os números não desmentem, a cada dia que passa sobem, nós batemos palmas, andamos como baratas tontas a ser inundados por desinformação, por gente que utilizou clubes de futebol para decidir sim ou não, escolheu modalidades desportivas para negar e aceitar competições e espectáculos, privilegiou regiões com equipamentos de saúde, comprados à pressa, distinguiu cidadãos no uso de máscara e deixou o SNS à beira de um ataque de nervos.

Quem se riu foi o vírus que infectou a cabeça desta gente que se divertiu à grande a propor soluções, a retrair comportamentos de pára e arranca, incitando ao uso de lixívia para matar o bicho, num carnaval de gente mascarada e armada com vestes que supostamente impediam o tal vírus de nos entrar boca dentro dentro e alojar-se nos pulmões, deixando sequelas graves na saúde de todos, afectando a economia, enriquecendo uns, empobrecendo outros.

Estamos, pois, numa guerra com o vírus que alegremente não sabemos como ganhar. Por decisões e comportamentos inadequados. Armados em especialistas, perspectivamos uma segunda vaga – supostamente de despedida – mas que está a ser pior que a primeira, quisemos desconfinar sem confinar totalmente, deixamos que o nosso corporativismo falasse mais alto, deitamos rios de dinheiro ao lixo. E não salvamos nada: nem o nosso estilo de vida, nem a nossa cultura, arrasamos a economia, estamos pensando que o dinheiro do Estado vai chegar para tudo e para todos, esquecendo que a factura vem aí, mais uma, porque a UE já percebeu que ou se gasta bem ou não se vai gastar. E, acabamos todos a perceber, que os nossos decisores políticos resolvem a Covid-19 e as suas implicações, dando mais dinheiro, a este e àquele.

Porém, o vírus não se deixa comprar por dinheiro, tenha ele a cor que tenha. A vacina já há muito se sabe que não é uma mezinha que se transforma em produto seguro, não basta juntar várias substâncias, num copo, remexendo e misturando esses líquidos que nos hão-de entrar no corpo. Nós, os humanos, não podemos ser tratados como cobaias. Não devemos ser mais carne para canhão. E o tempo tem hora marcada, não se atrasa nem adianta.

Todos sabemos que para repor os padrões de vida, de Janeiro de 2020, é preciso tempo, paciência, não podemos tornar-nos todos esquizofrénicos, pedindo para hoje o que só pode ser dado daqui por um ano.

Está em causa a sobrevivência da espécie. Sejamos sensatos e esperemos e rezemos para que quem toma decisões em nosso nome, tenha a lucidez bastante para saber o que faz porque a história vai julgar de forma implacável todos e cada um dos seus actos. Mesmo a sua vaidade.

E nós cidadãos, individualmente, façamos o que que devemos fazer, não ir em conversas, tomar cuidado com os nossos actos, e assumirmos, de facto e de direito, o poder que temos, não nos dividindo.

Hoje, quem saiu à rua foram os homens e mulheres da restauração, na defesa dos seus interesses particulares e corporativos. Em cada crise há sempre alguém que diz não e assumindo claramente a defesa dos seus interesses, sabendo que ninguém assume a defesa dos interesses de todos.

A restauração não pode salvar-se sem que os portugueses se salvem. Ninguém pode ter um negócio se não tiver clientes. Há quem pense que podemos morrer todos mais ricos. Mas a verdade é que caminhamos para ser todos mais pobres.

Por isso, não podemos iludir as grandes questões. E a imediata é controlar o contágio custe o que custar. Estamos a viver apenas uma crise sanitária, já provamos que temos arte para vencer a crise económica – se ninguém nos assaltar.

Ver o poder na rua, ceder a este ou aquele interesse, não ajuda a combater o vírus. Há mitos que devem acabar porque o vírus ataca a todos, de forma directa ou indirecta. Tenhamos um rumo e não sigamos por impulso um caminho qualquer.

© 2020 Guimarães, agora!

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