A intenção manifestada – mais uma vez – pelo Município de fazer coabitar uma rua para carros (a sul) e outra para peões (a norte), em toda a extensão da Alameda de S. Dâmaso e no Toural e de transformar a rua de Santo António, apenas numa artéria pedonal, num verdadeiro jardim comercial, é uma oportunidade que vale ouro no desenvolvimento da cidade e do seu coração. A perda evidente de vivacidade (nocturna e diurna) e “músculo” com o fecho de lojas de marcas, de encerramento de agências bancárias, com a crise que chegou aos consultórios médicos, e cafés com identidade histórica e patrimonial como o “Oriental” e o “Toural” – visíveis ainda nos anos 60, para além dos moradores que preferiram os apartamentos às casas tradicionais das cidades mais habitadas, tornou o centro de Guimarães apenas um sítio para a fotografia. Esta (nova) oportunidade virá acrescentar ao investimento que o Município já fez no alojamento de carros em parques de estacionamento estruturantes e no que vai fazer no arranjo e requalificação de ruas históricas como a de D. João I e já fez em Camões, e vai fazer na Caldeirôa, são mais valias que ilustraram por certo o ar de uma cidade em ebulição e transformação – sem perder as qualidades que a distinguem. Nem apostar em megalomanias.
“É isto que importa ter em mente, Guimarães não se pode banalizar em capelinhas e os homens e mulheres que dirigem a cidade não podem temer por ousar e arrojar…”
Com o dinamismo da iniciativa privada que tem em carteira projectos de alguma dimensão, à volta do centro histórico, – e dos quais se espera que não sejam só “mais cimento”, o que era até hoje um torrão amorfo e sem dinâmica, feio e adulterado pelo tempo, libertará Guimarães e pode fazer dar um salto de enorme dimensão quando este ciclo de desenvolvimento se completar. É isto que importa ter em mente, Guimarães não se pode banalizar em capelinhas e os homens e mulheres que dirigem a cidade não podem temer por ousar e arrojar, fazer e complementar quem anda para a frente e arrisca, mostrando visão e estratégia, vincando o desenvolvimento e o crescimento, não se colocando no papel de banais servidores da causa pública. Os cidadãos não esperam que os seus governantes apenas governem a cidade para o voto, certo e fácil. Também gostam de ver ousadia – que não desperdício – de ver que quem olha pela cidade sabe o que faz e está à altura das circunstâncias e dos desafios.
Não podemos andar todos, sempre a ver, o que Braga e Famalicão fazem, sobe pena de ao olhar para trás e descontando a mais valia da cidade histórica e patrimonial, afinal, percebermos que na fila já não estamos em primeiro mas com o quarto e o quinto à nossa ilharga. E tudo porque vivemos de acusações mútuas. A hora é de decisão e menos de reflexão porque o diagnóstico já foi feito e o estudo já está preparado. E devemos contar com a arquitectura e com a engenharia para resolver o que não podemos. Nem sabemos. Todos gostamos que Guimarães seja um presépio – que nos trás lindas recordações. Mas desejamos que o Menino Jesus, S. José e Maria, estejam vivos, comunguem connosco a vida diária de um centro, outrora praça comercial das mais importantes do país, animada pelo vai-e-vém de pessoas, pelos serviços, pela actividade bancária, por uma consulta no médico. Não nos podemos contemplar apenas e ver ao espelho, há que acabar com esta rotina, apenas dando às pessoas o que hoje se entrega aos carros. Ocupar casas e edifícios com pessoas e serviços, fazer com que o comércio revitalize a cidade, que haja novas oportunidades de negócio, que o Natal comercial esteja ao nível de uma cidade urbana europeia e não seja uma mera festa de aldeia, que as iluminações tenham sentido e não sejam motivo de propaganda.
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