Guimarães é muito mais do que a cidade onde “nasceu Portugal”. É o espelho de uma identidade feita de resistência, memória e transformação. Ao acolher as VI Jornadas Históricas, Guimarães não presta apenas homenagem ao seu passado – desafia-nos a refletir sobre o presente e o futuro. Porque a História não é estática. E a cultura não é um museu: é uma matéria viva, que molda quem somos, como agimos e o que escolhemos proteger.
Nestes dias de conferências, visitas e conversas, ouvimos falar de documentos antigos, linhagens, costumes e revoluções. Mas seria um erro pensar que isto diz respeito apenas a académicos. Toda a gente que vive em Guimarães, que herda uma casa da família, que mantém uma tradição local, que educa um filho com valores, que luta por justiça ou que defende o espaço público – está a escrever História. Em minúsculas, talvez, mas com impacto real.
Na QUOR, onde trabalhamos todos os dias com questões de sucessões, propriedade, família, conflitos e identidade legal, percebemos uma verdade simples: o Direito não vive à margem da cultura. Ele nasce nela. Cresce com ela. E corrói-se quando a cultura é desprezada. Muitos dos conflitos que assistimos nas famílias, nas empresas ou entre vizinhos têm menos a ver com leis mal escritas – e mais com raízes mal cuidadas. Desconhece-se a origem de um bem, a vontade de um antepassado, a função de um direito, o valor de um dever. Quando a História se apaga, os problemas multiplicam-se.
“É por isso que a cultura jurídica e a cultura histórica não devem viver separadas.”
E isto não é apenas uma metáfora. Um terreno herdado sem registo, um imóvel transmitido sem escritura, uma memória familiar esquecida pode hoje transformar-se num processo judicial, numa multa das Finanças ou numa partilha que destrói relações. É por isso que a cultura jurídica e a cultura histórica não devem viver separadas. Ambas servem para organizar a vida, prevenir o conflito e permitir que a comunidade respire com equilíbrio.
As Jornadas Históricas são um momento raro de pausa – para escutar o que os séculos nos têm a dizer. E talvez uma das lições mais urgentes seja esta: o que herdamos não é apenas material. Herdamos responsabilidades. Herdamos a tarefa de fazer melhor do que quem veio antes. Herdamos a liberdade que alguém conquistou com sacrifício. Herdamos o dever de construir com justiça aquilo que chamamos de comunidade.
Quando o presente esquece o passado, perde-se rumo. Mas quando o passado inspira o presente, nasce futuro.
Guimarães lembra-nos, mais uma vez, que a identidade não se impõe – constrói-se. Que a justiça não se exige – pratica-se. E que o Direito, quando está vivo, não é uma arma nem uma desculpa: é uma forma de cuidar.
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