- Rui Torrinha está na direcção artística do CCVF e artes performativas de A Oficina. Mais recentemente, no novo ciclo estrutural orgânico de A Oficina, iniciado em Maio de 2022, foi reposta “a singularização directiva dos programas de artes performativas, artes visuais e artes tradicionais”. Assumiu, nesse contexto e nesse momento, o cargo da direcção artística do CCVF e artes performativas.
- A sua ligação ao GUIdance remonta a 2011, na altura enquanto assistente de programação com a direcção artística de José Bastos, passando a intervir de forma mais activa na programação no pós-CEC 2012 e assumindo um papel de maior responsabilidade (direcção artística do festival) já no ano de 2016, edição em que Claudia Galhós, jornalista especializada em dança, foi convidada para escrever o jornal do festival.
O que distingue o GUIdance 2024 das edições anteriores?
Esta edição intensificou e amplificou um caminho que o festival tem vindo a construir ao longo dos anos, de fortalecimento dos públicos na relação com a dança. E abriu também geograficamente o seu mapeamento a companhias de outros continentes (África e Ásia), fazendo de Guimarães uma cidade de vivência cosmopolita, implicada nas questões do desenvolvimento civilizacional. Tivemos também um incremento no programa com novas actividades (Bailar em Casa; Bailar Fora da Casa) cuja a resposta foi muito boa. Foi uma edição com tremendo impacto relacional e emocional.
Os grupos escolhidos cumpriram as expectativas?
Diria que, a avaliar pela reacção dos públicos, a diversidade da programação foi muito bem acolhida. O que sempre procuramos propor é um contraste de olhares e de experiências que despertem um sentido crítico e não uma consensualidade ou gosto comum. Em cada momento, foi possível confirmar a proximidade das pessoas na relação com artistas e um forte interesse na discussão das obras propostas.
“A população de Guimarães está cada vez mais frequentadora do GUIdance.”
Sente que o festival já tem um público próprio, de fora de Guimarães?
Indiscutivelmente. Sentimos que a cada ano, há cada vez mais pessoas de outras partes do país e mesmo estrangeiras, que reservam uma parte do seu tempo para virem ao festival. Mas também reconhecemos que a população de Guimarães está cada vez mais frequentadora do GUIdance. As várias formas que o programa do festival foi adquirindo, tem possibilitado a descoberta de um interesse novo sobre a dança, que não apenas a de uma relação especializada.
Isso dá-lhe satisfação especial?
A satisfação que este crescimento nos dá é que este largo trabalho de equipa que fazemos desde 2011, tem vindo a ganhar um sentido cada vez maior para artistas, público e para a própria cidade, por se ver projectada nacional e internacionalmente. E também porque contribui para o estatuto de Guimarães enquanto cidade europeia de cultura. É a consolidação de uma visão que gera oportunidades e produz economia social.
África e Ásia predominantes no repertório apresentado, porquê?
Porque decidimos alargar o nosso modo de entender o mundo a partir deste lugar que habitamos e conviver de forma mais intensa e directa com as transformações em curso. Fizemo-lo como campo de exploração de outras culturas que já se começam a instalar no território onde vivemos. É uma demonstração da necessidade de contribuirmos para a formação de um novo tecido social.
O GUIdance segue um modelo já institucional, o que merece mudar?
O GUIdance está em permanente processo de transformação e crescimento. Não só dos públicos mas também do seu modelo. Será um festival em busca de uma expansão possível em direcção à cidade e ao quotidiano, onde a dança poderá fazer a diferença e ajudar a pensar os lugares e relações, dando novos significados à vida em sociedade.
Qual o balanço das actividades paralelas?
As actividades que integramos no programa, para lá dos espectáculos, têm tido um papel decisivo na forma de viver e entender este universo da dança. Porque trabalham várias naturezas como a formação, o pensamento, o cinema, a educação ou a própria dança espontânea, introduzida nesta edição. Mais do que complementares, são já centrais na procura e envolvimento dos públicos.
A mediação cultural e a aproximação às escolas satisfez?
Tem sido uma relação muito feliz e construtiva. Sempre em crescendo. E por isso temos novas ideias para propor já para a próxima edição. Entendemos ser um campo fundamental desta arte que activa o corpo e gera imaginários nas crianças. Há um dar e receber muito forte de todas as partes envolvidas e daí também a equipa da educação e mediação cultural de A Oficina ser um gerador central na criação destas dinâmicas.
“A dança será, em Guimarães, um grande agregador social e um veículo de discussão do mundo.”
O que é a dança em Guimarães, na sua perspectiva?
É o conjunto de todas as possibilidades de expressão a partir do (movimento do) corpo e também uma potência de criação de novas comunidades, sem barreiras. Acredito profundamente, que a dança será, em Guimarães, um grande agregador social e um veículo de discussão do mundo a partir deste lugar lindo que habitamos.
O mote do GUIdance 2024 era ‘A Humanidade dança em Guimarães’ foi isso que aconteceu… justifique!
Creio que pela comoção que se sentiu em muitos momentos, a humanidade foi de facto o denominador comum desta edição. Para lá de uma avaliação mais estética, poética ou até política que possamos fazer do programa, a verdade é que uma energia de fundo se levantou por cima dos olhares mais racionais e gerou um efeito de proximidade muito poderoso. Um sentimento de que aquilo que nos une é muito mais forte do que aquilo que nos separa, se formos capazes de criar contextos propiciadores à mudança que muito desejamos.
Uma palavra sobre os diálogos com os artistas e o que os justifica.
O momento das conversas é sempre muito concorrido e permite abrir janelas de relação directa entre público e artistas. São processos orgânicos de compreensão dos universos propostos que têm vindo a ser cada vez mais frequentados e participados pelas pessoas, como se tem comprovado pelo volume de afluência no final dos espectáculos. O que pensamos é que a evolução dos programas artísticos deverá prever, cada vez mais, esses momentos de contacto aberto entre todas as partes, para que o universo da criação não deixe ninguém de fora.
Comparativamente o GUIdance no Norte, é um festival… complete!
…transformador e emocionalmente forte!
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