- Pedro Emanuel Pereira, pianista, vimaranense, tornou-se no parceiro cúmplice (e amigo) de Carlos Ferreira, clarinetista português que foi nomeado pela ECHO – European Concert Hall Organisation, – como ‘Rising Star’ para os concertos da temporada 2024-2025.
- Hoje, 9 de Maio, Dia da Europa, o pianista vimaranense, acompanha Carlos Ferreira, no concerto que será apresentado na Casa da Música, no Porto, incluído no calendário que a ECHO organizou para esta digressão pelas mais consagradas salas de concertos da União Europeia.
- Uma experiência “extraordinária” mais, enriquecedora do seu currículo de músico, enquanto pianista, e que o levará a cidades marcantes da cultura europeia, actuando perante públicos exigentes e conhecedores.
- ‘Aonde a Terra Acaba’ é o nome do seu próximo álbum que será lançado este ano. Uma marca sua enquanto pianista e compositor, um dos mais promissores da sua geração.
- Nesta entrevista, Pedro Emanuel Pereira fala apenas desta digressão que será – e tem sido – uma experiência inesquecível, composta de cerca de 20 concertos. E da sua mais recente experiência levando a música clássica a prisões portuguesas.

O que é o ‘Rising Star Tour’?
É uma iniciativa da ECHO – European Concert Hall Organisation, uma organização que junta as principais salas de concerto europeias. As salas da Fundação Calouste Gulbenkian e da Casa da Música, foram as escolhidas para estes concertos em Portugal. Depois, em Espanha, tem o Palau de la Música Catalana (Barcelona), o Barbican, em Londres (Inglaterra), a Philarmonie de Paris (França), o Musikverein in Vienna (Áustria), o Elpbphilarmonie and Laiszhalle, de Hamburgo (Alemanha) ou o Het Concertgebouw, em Amesterdão (Holanda), entre muitas outras salas. São as principais e mais emblemáticas, escolhidas pela ECHO. Todos os anos, fazem as nomeações. E o Carlos Ferreira, foi o escolhido em 2024 que na altura ainda era o clarinete principal da Orquestra Nacional de França. Ele é o único português a integrar a Orquestra, que é a principal orquestra gaulesa. O Carlos foi nomeado ‘Rising Star’ (estrela em ascensão) 2024-2025. De maneira que eu sou o pianista que toca sempre com ele, desde há muitos anos para cá. Portanto, quando o Carlos me fez este convite, fiquei muito feliz pelo privilégio de poder fazer esta tour, inserida no ‘Rising Star’. Mas também sei que acabou por ser uma escolha natural, porque já tocámos juntos há muitos, muitos anos e somos uns parceiros de palco, de uma forma genuína. Digamos que eu acabei por ser o escolhido do Carlos Ferreira para fazer esta digressão pelas principais salas europeias. Esta começou ainda no ano passado, em Budapeste. Esse foi o nosso primeiro concerto. Foi um concerto difícil porque o Carlos estava muito doente, com uma otite. Ele teve que tocar com dores no ouvido, com temperatura, mas felizmente tudo correu muito bem. O Carlos é que depois acabou por ficar afectado, porque, enfim, teve que ficar dois meses de baixa sem poder estudar.
“Neste último concerto, em Paris, recebi uma proposta para editar as minhas partituras.”
Como é actuar nas mais icónicas salas de concertos?
Nesta digressão já tocamos em salas importantes como o Wiener Konzertthaus, na Áustria, seguimos depois para Amsterdão, numa sala emblemática na Europa. Já fomos ao Palau, em Barcelona também. Vamos ainda ao Barbican, em Londres. Tocámos, também, em Colónia e mais recentemente na Philarmonie de Paris. No Reino Unido já fomos a Newcastle e a Birmingham. Ainda nos faltam alguns concertos, dos 50 concertos que vamos realizar. Tocar nestas salas é muito gratificante, porque primeiro estamos a lidar com estruturas altamente profissionais, com muitas pessoas de diferentes áreas. E é de facto muito prazeroso poder trabalhar com estas entidades, poder tocar em salas com acústicas maravilhosas, salas que soam incrivelmente bem, público também já muito conhecedor e muito frequentador de música clássica e deste tipo de concertos. A experiência tem sido maravilhosa, porque temos tido uma recepção mesmo muito, muito boa, com um feedback maravilhoso, com novos convites, novas propostas. E tem sido mesmo muito enriquecedor. Por exemplo, neste último concerto, em Paris, recebi uma proposta para editar as minhas partituras. Isto foi uma proposta por parte de uma editora importante, parisiense. Portanto, temos tido um feedback bastante interessante.

Quem é este (seu) parceiro de concertos?
Ora bem, a que se deve esta experiência com o Carlos Ferreira? O Carlos é, na minha opinião, não é só na minha, é um facto, ele é dos melhores clarinetistas da actualidade. E, orgulhosamente é português e nortenho, nascido em Paredes. O Carlos é um orgulho para Portugal, é um orgulho para todos nós. É alguém, por quem nutro, uma grande amizade, uma grande cumplicidade. E desde há muitos anos que nós tocamos juntos. O Carlos, neste momento, é o clarinetista principal da Orquestra Nacional de França, tal como eu já lhe tinha partilhado. E a partir de Agosto, ele já foi designado para ser o clarinete principal da Concertgebouw, em Amsterdão, que é considerada por muita gente a melhor orquestra do mundo. Pode-se dizer que o Carlos, aos 31 anos, atingiu o topo dos topos. Ele que já teve a oportunidade de ser nomeado noutras orquestras emblemáticas, como a Sinfónica de Londres, a Orquestra do Monte Carlo. Estamos a falar de alguém que, apesar da idade, já atingiu o topo da Europa, o topo do mundo. E para mim é um privilégio acompanhá-lo nesta digressão, poder fazer estes concertos na Europa. É, de facto, muito bom.
Como antevê o concerto na Casa da Música, hoje?
É sempre muito especial tocar em casa. E logo hoje, 9 de Maio, dia da Europa. O ano passado, tive o privilégio de abrir a nova temporada da Casa da Música. Toquei na Sala Suggia, com a Orquestra Sinfónica do Porto. Foi um ano dedicado a Portugal e aos artistas portugueses. E, para mim, ter sido o artista escolhido para o concerto de abertura da nova temporada com a Orquestra Sinfónica do Porto foi, de facto, uma honra enorme. Este ano vou regressar à Casa da Música com o Carlos Ferreira, no âmbito desta digressão do ‘Rising Star’. É uma casa com a qual eu já estou familiarizado. Salvo o erro – tenho que pensar um pouquinho – mas eu já devo ter tocado na Casa da Música umas cinco ou seis vezes. A primeira vez, com 16 anos, quando abri o ‘Ciclo de Piano’ da Casa da Música. Na altura, o Pedro Burmester ainda era o director artístico. Depois, foi um concerto em Janeiro de 2007. Um ano mais tarde, eu fui para Moscovo estudar no Conservatório Tchaikovsky. Depois disso, voltei a tocar duas vezes com a Orquestra Sinfónica do Porto. Toquei, uma vez mais, na Sala Suggia também, um recital a solo, com abertura do ciclo de piano. Para mim é sempre um privilégio regressar à Casa da Música, relativamente ao que resta de 2025, ainda tenho mais alguns concertos com o Carlos Ferreira.

As saudades de Portugal e de Guimarães…
Também, se sentem, sobretudo porque recordo e posso dizer, por interessante, – uma vez que este jornal tem este alcance, principalmente na cidade – que o Município de Guimarães nos apoiou numa primeira digressão e para a gravação do nosso disco, que saiu há uns anos atrás, em 2021. Apoiaram-nos com um montante financeiro através do programa ‘Impacta’. Portanto, acho que isto deve ser realçado, porque de facto, Guimarães é um Município que tem apoiado muito a cultura, os seus artistas, e não há muitos municípios que o façam em Portugal, e é sempre de valorizar, e eu estou muito grato por isso.
“Vou compor uma obra para piano e electrónico que vai ser inspirada nesses textos poéticos.”
Há algum calendário definido para o ano de 2025, relativamente a mais actuações?
Quanto ao que resta de 2025, sim, faltam alguns concertos importantes com o Carlos, nomeadamente o concerto no Barbican, em Londres. É uma sala emblemática, muito importante. Vou ter outros projectos a solo muito interessantes. Por exemplo, recordo que, no passado dia 21 de Abril, fiz a minha tournée pelas prisões de Portugal. Foram 10 concertos em 10 estabelecimentos prisionais portugueses. Foi uma iniciativa minha e do Miguel Leite, também ele, neste momento, vimaranense, ele vive em Guimarães. Exploramos a temática do silêncio em correlação com a clausura, e iniciámos, precisamente, numa importante e emblemática prisão portuguesa, que é o estabelecimento prisional de Caxias. É emblemático porque, Caxias recebeu vários presos políticos, e iniciámos em Caxias com a presença de figuras de Estado, nomeadamente o Presidente da República, do Primeiro-Ministro, e da Ministra da Justiça. O nosso objectivo era focarmo-nos nos presidiários e nas pessoas, porque fizemos isto para as pessoas que lá estão. Foi maravilhoso. Os reclusos têm, também, a oportunidade de escrever um texto sobre o silêncio, um texto poético, um texto criativo, e, no final dos 10 concertos, vou compor uma obra para piano e electrónico que vai ser inspirada nesses textos poéticos. Para além deste projecto, posso dizer que tenho um importante concerto no dia 31 de Outubro de 2025. Vai ser o meu primeiro recital a solo no Centro Cultural de Belém (CCB). Nunca lá toquei. Já o fiz noutras salas importantes lisboetas, mas no CCB é a primeira vez. Portanto, é um concerto importante, porque vai ser o do lançamento do meu próximo álbum, ‘Aonde a Terra Acaba’. É este o nome escolhido, que foi gravado para a uma editora internacional e que foi produzido pela Perkus Music, da qual eu me orgulho de fazer parte, juntamente com o meu querido amigo Hélder Costa, também muito conhecido na nossa cidade, por fazer muitos projectos em Guimarães. Fomos nós que produzimos o álbum, é um trabalho conjunto, que vai ser lançado por uma importante editora. E também no próximo ano, isto já em 2026, serei artista residente no mais importante festival de música contemporânea dos Estados Unidos, o Cabrillo Festival International of Contemporary Music, que se realiza em Los Angeles. Pode-se dizer que na área da composição vai ser o mais importante que eu tive até hoje. Para mim é uma honra enorme poder ser artista residente num festival tão importante como é o Cabrillo Festival.
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