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Domingo, Outubro 6, 2024

Emídio Guerreiro: “Guimarães merece um novo projecto mobilizador da comunidade e isso já não está na mão do PS”

Economia

  • Tem a vida mais diversificada, dos homens e mulheres vimaranenses, que se dedicaram – ou vingaram – no universo da política, em Guimarães e no país;
  • Tem sobrevivido às mudanças – de líderes, sobretudo – que se operaram no seu PSD e apesar das queixas de veto, em alguns tempos, Emídio Guerreiro continua a privilegiar São Bento e arredores, à vida empresarial ou ao exercício da psicologia como profissão;
  • É, desde o início da época democrática, quem mais experiência ganhou na gestão pública e política, exercendo funções diversas, sujeitando-se a eleições e participando em vários processo eleitorais, no coração do furacão. A direcção da campanha, nas eleições europeias, apoiando Sebastião Bugalho, foi a mais recente e mais envolvente campanha em que participou;
  • O seu pensamento político não se esgota numa entrevista mas Emídio Guerreiro fala da sua actualidade, ainda que acentuando a versão do “deputado regional” que na lei não existe embora faça parte do diálogo e da teoria política quando a proximidade com o cidadão também é trunfo em qualquer eleição;
  • Nesta entrevista aborda questões do interesse de Guimarães, das pessoas, do seu partido e da crise de identidade do PS e das ambições que podem fazer de 2025 outro ano do PSD.
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Sendo deputado da Nação, o que é que o deputado do distrito pode influenciar pelo seu circulo eleitoral na Assembleia da República (AR)?

Há vários níveis de intervenção, quer a propor iniciativas legislativas que incidam no território quer no âmbito da discussão de iniciativas oriundas de outros grupos parlamentares ou do Governo. Por regra no Grupo Parlamentar do PSD (GP/PSD) os deputados são envolvidos nos processos de decisão, sobretudo no que respeita aos seus círculos eleitorais.

Alguma vez foi instado a exercer magistratura de influência em matérias respeitantes a Guimarães?

Sim, embora o pudesse ter sido mais vezes, mas o poder socialista em Guimarães não tem essa cultura de mobilizar agentes políticos de outros partidos, mesmo aqueles que afirmam vontade de ajudar. Já no que respeita a matérias da sociedade civil e empresarial as coisas funcionam de forma diferente e existe uma cultura permanente de colaboração.

50 anos depois do 25 de Abril e quase tantos após a aprovação da Constituição, de algumas revisões, o sistema eleitoral mantém-se. Porquê?

Tem sido difícil para não dizer impossível criar consensos de dois terços dos deputados para se fazer uma reforma profunda na lei eleitoral. Sem isso não há reforma. Mesmo com a actual Constituição é possível, por exemplo, reduzir o número de deputados para 180 e nem isso se consegue pois os partidos mais pequenos não o aceitam.

O que mudaria? Este modelo não precisa de ser aperfeiçoado?

Na minha opinião o sistema misto, com círculos uninominais e um círculo nacional seria uma resposta mais adequada para reforçar a ligação entre os eleitores e os eleitos.

“Existe um misto de preocupações entre as que são as propostas do partido e as ambições das terras.”

Concorda que os deputados eleitos nos distritos se identificam mais com o partido do que com as ambições das suas terras?

A Constituição diz que não há deputados regionais, mas apenas deputados nacionais. Mas apesar disso todos os partidos e os seus deputados têm agendas distritais. Não concordo com a afirmação feita na pergunta. Existe um misto de preocupações entre as que são as propostas do partido e as ambições das terras. Um deputado que não valoriza os anseios do seu círculo eleitoral por regra não é reconduzido no cargo. E bem!

Sente-se mais ligado ao PSD – pela carreira – do que às causas de Guimarães, por exemplo?

Neste mandato é a primeira vez que não fui proposto pelo PSD de Guimarães. Sou deputado a convite do presidente Luís Montenegro e nessa sequência fui eleito presidente do conselho de administração da Assembleia da República. Mas, e sempre em articulação com o deputado Ricardo Araújo, continuo a acompanhar os temas de Guimarães e do distrito. Respondendo, apesar das novas circunstâncias, estou ligado às causas de Guimarães e do distrito.

O que espera do Governo da Aliança Democrática (AD) com a liderança de Luís Montenegro?

Aquilo que temos visto: Um Governo reformista e de acção. Um Governo focado em resolver os problemas das pessoas. Um Governo focado em cumprir o seu programa. Um Governo determinado em superar as dificuldades políticas.

Que posição tem sobre pedidos concretos apresentados pela Câmara ao Governo?

Tudo que seja positivo para as populações e exequível deve ser acompanhado e feito.

No caso mais recente, acha que o Governo da AD deve dar continuidade aos projectos apresentados e aprovados pelo Governo anterior?

Os projectos aprovados são realidades concretas e para serem revertidos carecem de uma avaliação. Veja-se o modelo de gestão da saúde, das ULS, que será alvo de uma avaliação para se perceber se dela resultam, de facto, melhorias nos cuidados prestados às pessoas. Os projectos apresentados eram usados pelo Governo anterior como veículos de propaganda. E nesses casos não me parece que devam ter continuidade.

Emídio Guerreiro tem conjugado a sua vida política local com a nacional. © GA!

A pretensão do Campus de Justiça é justa?

Sim e vem melhorar o serviço prestado pela Justiça aos cidadãos.

Que soluções apresentaria para ligar, ainda mais, Portugal à Europa, para além da rodoviária: – a do PFN – Plano Ferroviário Nacional com ligação ao Porto e depois à rede de Alta Velocidade; a de uma ligação directa a Braga por caminho-de-ferro?

A ligação a Braga mais que nos ligar à Europa melhora a mobilidade dos cidadãos dentro do distrito. A Alta Velocidade não se compadece com a criação de múltiplas paragens. Para usufruir deste transporte temos sempre que nos deslocar até ele.

Já agora, o que tem a dizer sobre a Recomendação do PS para a implementação do PRF – onde foi incluída essa ligação rápida Braga/Guimarães?

É um dos expoentes maiores da hipocrisia política em que o PS, de Pedro Nuno Santos, mergulhou. Nos últimos oito anos nada fizeram para se avançar nesta matéria. Bem pelo contrário. Agora estando na oposição há apenas três meses vêm propor a sua execução. Acresce a esta hipocrisia o facto de Pedro Nuno Santos ter sido o titular da pasta das Infraestruturas durante anos e nada ter feito. Este caso é mesmo um daqueles que deve envergonhar a classe política. 

O que destacaria do programa do Governo que possa beneficiar Guimarães?

Mais que beneficiar a cidade A ou B, a grande aposta deste Governo é alterar a vida das pessoas para melhor. As alterações dos impostos que pretendemos fazer e que a oposição não deixa é um dos melhores exemplos. As medidas para os jovens são importantes para que eles possam, se assim o desejarem, permanecer em Portugal a desenvolver o seu projecto de vida e de família. Recordo que dois terços dos jovens licenciados estão a trabalhar fora de Portugal e isso não se pode manter.

“Somos um concelho caro para se viver e para se investir.”

Sente que Guimarães tal como mais algumas cidades não são contempladas com tantos investimentos como outras?

Os investimentos estão muito alicerçados nos projectos comunitários. E nesse campo depende muito mais da pro-actividade das políticas municipais que dos governos. O Governo cria as condições e os municípios agarram ou não. Nesse campo Guimarães tem perdido para outros territórios. E ajuda a explicar a perda de população e a redução do dinamismo económico. Somos um concelho caro para se viver e para se investir. Estamos acomodados com mais de três décadas de Governo socialista que tem vindo a perder energia e foco.

Dada a importância das cidades no desenvolvimento das comunidades – reconhecida em vários fóruns e países – o que justifica que o Estado mantenha a mesma visão sobretudo no que toca à repartição de investimentos?

Volto a dizer, quem define a política de cidade é o Município. Se este não se posiciona no sítio certo é a sua responsabilidade. Não esqueçamos que o PS governa a cidade e o Município desde 1989. E que nos últimos 29 anos, o PS governou o país durante 22. O insucesso, o falhanço municipal apenas se pode centrar nas decisões de Santa Clara… Recordo que mesmo em 2012, apesar da troika, o Governo de Passos Coelho manteve inalterável os apoios a Guimarães Capital Europeia da Cultura. E penso que está por fazer o debate sobre a dimensão do legado desse mega evento, nomeadamente na dimensão socio-económica.

Como analisa a situação do PSD Guimarães tendo em conta os dois últimos resultados eleitorais?

O PSD de Guimarães está a preparar o seu programa e as suas equipas para disputarem as eleições de 2025 para as vencer. Sabendo que não é fácil, acredito que existem boas perspectivas e condições para o fazer.

Da autarquia ao Governo, Emídio Guerreiro afirmou-se no PSD. © GA!

Acha que será em 2025 que o PSD/CDS ganharão a presidência da CMG?

Acredito que sim. O esgotamento do projecto socialista é notório nos grandes indicadores: perda de população, perda de atracção para investimentos de empresas, saída de vimaranenses para outros municípios, o nepotismo reinante na Câmara são condições que podem ajudar se o PSD apresentar um projecto político inovador e mobilizador. Acredito que isso vai acontecer.

Contudo, a situação interna do PSD ainda não ‘sarou as feridas’ com a não convocação de André Coelho Lima para as listas de deputados. Concorda?

O PSD tem reunido com regularidade os seus militantes e não existem feridas. Está unido e coeso. Fazer esta pergunta a quem foi vetado pelos órgãos nacionais do partido em 1999, 2002 e 2022 acaba por ser um pouco caricato. As escolhas são feitas pelos órgãos competentes. Podemos concordar mais ou menos com elas mas não devemos colocar o interesse colectivo em segundo plano. Se assim fosse eu teria saído da actividade política em 1999 e como é sabido não só conclui o meu mandato de então na vereação como sou deputado municipal desde 2001 e estive envolvido em todas as candidaturas autárquicas ajudando todos os candidatos. É assim se verdadeiramente fazemos parte de uma equipa.

A situação interna no PS poderá ajudar à almejada conquista da Câmara de Guimarães?

Mais do que ajudar o PSD, a situação interna do PS traduz na prática o que já disse acima: o seu projecto político está esgotado. E Guimarães merece um novo projecto mobilizador da comunidade e isso já não está na mão do PS que está enredado em si mesmo.

© 2024 Guimarães, agora!


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