Sempre considerei essencial enquadrar o planeamento em lúcidos diagnósticos das fragilidades, potencial de superação e aptidão dos sítios promovendo-se assim um mais conscientemente progresso e inovação. Muitos dos objectivos traçados passam por estancar feridas do ecossistema; na verdade o Vale do Ave, como outros territórios de mão-de-obra pouco especializada, foi improvisando face à exposição e dependência externa ajustando-se, dia a dia, a oportunidades e pequenas bombas de oxigénio que, assegurando empregabilidade, quase tudo justificaram.
Excluindo situações pontuais (…), quase toda a “província” – de uma manifesta incapacidade cooperativa – foi ao longo de décadas gerindo as ancestrais limitações socioeconómicas em gritantes desorganizações urbanas e paisagísticas ou, em alternativa, abandonando-se a uma desertificação sem um vislumbre de desígnio motivacional, um caminho que apontasse um futuro mais equitativo e consonante com a mediania europeia.
“A Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030” é, de algum modo, uma novidade que parece estabelecer uma estratégia para o difícil campeonato que se nos depara – o de uma “Primeira Divisão Europeia” que nos admite, com alguma desconfiança, a lutar pela permanência em condicionante “fair play financeiro”.
O Plano de António Costa Silva, pecando por tardio e, naturalmente, impotente face a desperdícios e iniquidades do passado, pode ainda assim ser um novo passo numa caminhada colectiva mais metódica e estruturada, uma espécie de medicina preventiva que prescreve uma alimentação mais saudável a um sistema adoentado, subsídio-dependente e de mera gestão de urgência hospitalar.
Num corpo que se quer robustecido, propõe-se mais ferrovia, maior qualificação da população e transição digital, melhor saúde, mais Estado social, reconversão e reindustrialização, transição energética, coesão do território, agricultura e floresta, melhor mobilidade, cultura, turismo e comércio.
“Como se escapa de interesses instalados e que equidade territorial se garante num País demasiado habituado a divisões?”
A questão é: como implementar um qualquer Plano sem concertação nacional, como se escapa de interesses instalados e que equidade territorial se garante num País demasiado habituado a divisões? Partidos, alguns académicos e comentadores, uma vez mais irão deter a (quase) exclusividade do debate ficando o futuro do País privado da opinião do grosso dos cidadãos que, quase invariavelmente, se demitem da participação.
É este o tempo das Regiões, dos Distritos, dos Concelhos e dos sítios (deste norte) – sobretudo dos demográfica e economicamente deprimidos (…) – integrarem o debate na consciência do bem comum e estabelecerem saudáveis sinergias para uma maior justiça e equidade no investimento público; seja no estender da alta velocidade ao norte peninsular, no abrir mais os portos aéreos e marítimos ao mundo, na valorização dos recursos energéticos, humanos e naturais e, não menos importante, na eventual reactivação de sectores que há algumas décadas atrás alguém decidiu que não precisávamos.
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