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Guimarães
Terça-feira, Abril 30, 2024
Alberto Martins
Alberto Martins
Alberto Martins, 41 anos é empresário e licenciado em gestão. Actualmente é ainda presidente da junta de freguesia da Vila de São Torcato desde 2017, tendo já sido tesoureiro desde 2005 até 2017. Trabalhou e colaborou com diversas empresas, de onde se destaca a empresa Coming Future e a empresa JF Economista Internacionais.

Couros, o Património Mundial e o Património esquecido (Corredoura – São Torcato)

Foi com enorme orgulho e regozijo que todos os vimaranenses receberam a notícia, que a ‘Zona de Couros’ foi classificada como Património Mundial pela UNESCO. A votação realizada na 45ª sessão do comité do Património Mundial, no dia 19 de Setembro, confirmou a inscrição da Zona de Couros como área classificada. Desta forma, a área Património Mundial de Guimarães, tem agora o dobro da área classificada em 2001. A junção do Centro Histórico de Guimarães e a Zona de Couros ocupa 38,4 hectares repleta de história e também de árduo trabalho.

Uma palavra de especial apreço ao Município na pessoa do seu presidente Dr. Domingos Bragança, pelo trabalho meritoso e que levou a esta distinção.

Esta distinção potência o turismo e ajuda a preservar um legado histórico industrial.

Por estas ruas estreitas e empedradas, passaram anos de trabalho, que foram uma das principais bases industriais de Guimarães. Esta distinção potência o turismo e ajuda a preservar um legado histórico industrial, único do concelho de Guimarães e da região. Permitiu ainda a recuperação do antigo património onde a pele era curtida e de outras instalações, que são verdadeiros cofres intemporais, de uma memória muito importante para todos os vimaranenses.

Este é portanto o Património Mundial que todos conhecemos e que foi devidamente distinguido pela UNESCO.

Contudo existe um outro património, que no meu ponto de vista, não foi devidamente valorizado, não está devidamente aproveitado, nem sequer merece uma qualquer referência, dentro desta enorme conquista para Guimarães e para os vimaranenses.

Como é referenciado em diversas obras, nomeadamente no livro da Elisabete Pinto “CURTIDORES E SURRADORES DE S. SEBASTIÃO – GUIMARÃES (1865-1923) A DIFÍCIL SOBREVIVÊNCIA DE UMA INDÚSTRIA INSALUBRE NO MEIO URBANO” a rua da Corredoura, na Vila de São Torcato foi um dos principais pólos de curtumes e que alimentava também a Zona de Couros. Daqui, em particular da rua da Corredoura (Corredoura significa rua de gado), saiam grandes quantidades de peles que eram curtidas nos tanques aqui existentes ou nos do centro da cidade. Em São Torcato, no lugar da Corredoura, persiste ainda a memória das antigas manufaturas instaladas em casas onde igualmente se desenvolviam atividades agrícolas. A.L. de Carvalho, o autor que mais escreveu sobre a atividade dos curtidores e surradores, deixou a informação nos seus mesteres de Guimarães do encerramento da última fábrica nesta zona do concelho, na alusão que faz ao Júlio do Marco que dizia que “até a pele do diabo curtia, se ele se deixasse apanhar”.

Aqui, utilizava-se o sumagre nas operações da curtimenta e as mulheres eram chamadas a participar nas atividades, ostentando a denominação de «pilhadeiras». Na publicação comemorativa da Exposição Industrial e Agrícola Concelhia realizada em 1923, o célebre livro Guimarães, O Labor da Grei, consta uma importante análise ao sector dos curtumes. O autor fez a seguinte observação: “esta indústria é das mais importantes, pois ocupa o segundo lugar na atividade fabril do concelho, está representada por 36 fábricas de serviço manual e duas mecânicas com os maquinismos mais perfeitos e modernos”.

Acrescentou que a indústria “está localizada no bairro sul da cidade, denominado rua de Couros, e na freguesia rural de São Torcato, no Lugar da Corredoura, empregando-se nos diferentes serviços aproximadamente 300 pessoas”. Naquele certame, a secção de «Couros Curtidos e Aparelhados e Peles de Fantasia» apareceu representada pelos expositores que tinham as suas fábricas na cidade, apenas compareceu um industrial da Corredoura, na freguesia de São Torcato. Estes dados não só comprovam a importância para a zona de couros de São Torcato, como atestam o forte dinamismo e interdependência industrial.

Aqui ainda se encontram dezenas de tanques que guardam memórias das mulheres “pilhadeiras”, mas cada vez são menos o que se podem observar… Era fundamental, uma articulação, agora que a Zona de Couros foi classificada como Património Mundial pela UNESCO, que programas de ação permitissem salvar o património que ainda existe, as memórias e os testemunhos dos poucos que ainda se recordam daqueles tempos duríssimos, onde a rua da Corredoura era apenas sinónimo de mau cheiro e de homens, mas sobretudo de grandes mulheres, com calos e galochas pelo joelho.

Parabéns a Guimarães por este enorme feito, aguardando que seja possível, beber de uma das fontes desta orgulhosa classificação.

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