As férias grandes terminaram e as crianças e jovens voltam às suas rotinas escolares.
Alguns vão ficar na escola as horas normais, outros entrarão bem cedo na escola e sairão bem tarde, alguns ficarão na escola mais horas do que os seus pais nos empregos.
E esta perspetiva é aceite pelos decisores políticos e pela sociedade como um comportamento aceitável. Os pais são obrigados a recorrer às horas extra na escola para poderem trabalhar em empregos precários que não respeitam as 8 horas de trabalho, em empregos mal pagos que não permitem que os seus filhos frequentem atividades fora da escola que são incomportáveis para o orçamento familiar, empregos que ficam longe da escola e das suas casas, porque o mercado de habitação não permite viver perto do emprego.
A vida corrida que é imposta aos pais e consequentemente às crianças, obriga a que as opções sejam aquelas que a escola oferece.
Opções muitas vezes desiguais, porque nem todas as crianças usufruem das mesmas atividades lúdicas e enriquecedoras, porque as escolas onde entra frio ou calor não é atrativa para a criatividade dos professores e técnicos, porque uma escola sem biblioteca, em 2022, não pode ser o melhor lugar para se subir nos rankings de leitura e os meninos vão invariavelmente continuar agarrados às tecnologias.
E depois das férias grandes os alunos voltaram para a escola que não tem Pavilhão Desportivo que garanta a tão apregoada e necessária prática do desporto, e podemos ver num documento oficial, da Câmara Municipal de Guimarães, sobre a descrição para a inauguração das obras da Escola EB 2/3 João de Meira que “No ano lectivo 2010/2011 a escola foi requalificada, faltando ainda concluir a intervenção nos espaços respeitantes à biblioteca, ao pavilhão gimnodesportivo e auditório”.
Mas cá se continua a dizer que tudo corre bem nesta abertura do ano lectivo, que há obras previstas. Esperemos é que não se esqueçam de espaços essenciais e que as salas sejam amplas e possam ser arejadas.
Dizia eu que as férias grandes terminaram e as meninas e meninos voltaram à escola, sem professores a algumas disciplinas, sem o número de assistentes operacionais ideal, sem as funcionárias das cantinas em lugares efetivos e livres da precariedade de um emprego que se extingue em julho e volta a surgir em setembro.
Dá-se início ao novo ano lectivo com um Ministro da Educação a culpar os professores doentes de algo que é só culpa das políticas do governo de que já faz parte há vários anos enquanto Secretário de Estado.
Os profissionais da escola pública souberam acompanhar os seus alunos e não os abandonaram durante uma pandemia que ninguém imaginava viver.
Aprenderam rapidamente a mexer em tecnologias que quase ninguém usava, disponibilizaram os seus telefones pessoais, atenderam os pais e encarregados de educação preocupados, corrigiram trabalhos sem fim que eram feitos à distância, mas que garantiam que não se perdiam conteúdos, deram a cara na televisão debaixo das críticas mordazes, porém mantiveram-se ao lado dos seus alunos cumprindo com os seus compromissos de professores.
Mas são estes profissionais que andam anos a fio de malas às costas, a pagar duas rendas, a ver os filhos e os cônjuges aos fins de semana, que passam a maior parte do seu dia na estrada a correr de escola em escola para completar horários, que se vêm mergulhados em mais burocracia do que pedagogia, que não são respeitados na sua autonomia, que um dia são confrontados com a mudança das regras, ao fim de uma dezena de anos ou mais de trabalho e, afinal, ainda não é desta que ficam efetivos, que assistem à passagem dos anos e não vêm o fim à carreira, são estes os que não desistem e quase pagam para trabalhar.
São estes todos que fazem falta hoje aos nossos alunos, são estes todos que fazem falta à escola pública para que se mantenha de pé e com qualidade, para que o ensino continue a ser para todas as crianças e jovens, tendencialmente gratuito, com garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar.
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