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Segunda-feira, Outubro 7, 2024
Alberto Martins
Alberto Martins
Alberto Martins, 41 anos é empresário e licenciado em gestão. Actualmente é ainda presidente da junta de freguesia da Vila de São Torcato desde 2017, tendo já sido tesoureiro desde 2005 até 2017. Trabalhou e colaborou com diversas empresas, de onde se destaca a empresa Coming Future e a empresa JF Economista Internacionais.

A Indústria que grita por ajuda

Por estes dias assistimos à apresentação de números da nossa economia totalmente desfasados da realidade que somos confrontados. Pela primeira vez em muitos anos deparei-me com fila no Centro de Emprego de Guimarães, fazendo-me recuar mais de duas décadas, para um período crítico, que ficou conhecido por crise do Vale do Ave. Neste momento o Vale do Ave e principalmente concelhos como Guimarães, Felgueiras e Barcelos, vivem situações extremamente complicadas, com realidades assentes em indústrias poucos diversificadas, onde os setores têxtil e do calçado são totalmente predominantes.

Chamo à atenção particularmente, para a dificuldade enorme que o setor do calçado vive, com falta de encomendas, devoluções e cancelamentos de última hora e com a falha nos canais de abastecimento de materiais e componentes. A tudo isto assistimos a uma subida dos custos dos fatores de produção, muito alavancados nos preços da energia e no rolo compressor da máquina fiscal que suga até ao tutano as PME’S, que constituem, como se sabe, grande parte do nosso tecido empresarial.

Vivemos ainda as sequelas da pandemia, não na sua vertente de saúde pública, mas na terrível “coincidência” do início do pagamento dos créditos que o Estado concedeu às empresas nessa altura, agravado pelo aumento exponencial das taxas de juro, tornando-se um verdadeiro calvário e fim de linha para algumas delas. Este conjunto de fatores tem como consequência a necessidade imediata de recurso a layoff, com redução ou suspensão dos contratos de trabalho e em casos extremos a despedimentos coletivos ou até insolvências.

Para espanto de todos, ainda esta semana, assistimos à apresentação de medidas de apoio ao setor mais pujante do país, o turismo. É certo que neste momento é a nossa ‘galinha dos ovos de ouro’, mas é a indústria transformadora que cria valor acrescentado e crescimento sustentado. Mais uma vez saliento, que em especial o setor do calçado, devido às suas especificidades, manufaturação e técnicas onde somos dos melhores do mundo, tem um potencial de criar riqueza no país como poucos setores. Nesta área somos realmente muito bons!

Não é aceitável, a falta de medidas de apoio à indústria, resumindo-se em formação em tempos de layoff.

Contudo, a visão de uma qualquer janela de um gabinete da capital, totalmente desligada da realidade do país e em especial desta região (Vale do Ave em particular), não permite a quem nos governa, perceber que tem de intervir já, sem demoras, porque amanhã já será tarde demais. Não é aceitável, a falta de medidas de apoio à indústria, resumindo-se em formação em tempos de layoff. Prefere-se pagar apoios e subsídios de desemprego, a manter empresas a laborar e postos de trabalho, agindo em antecipação e na salvaguarda destas PME’S.

A famosa bazuca, nada mais é para a economia, que um banquete de investimento no próprio estado, deixando a economia (com exceção do turismo) apodrecer e caminhar para mais uma crise profunda. Exigem-se medidas como linhas especiais de financiamento a taxas reduzidas ou zero no apoio à compra de componentes e matérias-primas e no apoio à tesouraria, apoio ao investimento e modernização (sem o terror do PT2020), retomar um layoff simplificado para evitar as falências e os despedimentos coletivos em massa, reduzir a carga fiscal sobre a energia, eletricidade, gás, combustíveis (um dos maiores custos fixos das indústrias) e criar um gabinete de acompanhamento setorial de apoio direto.

Aqui, nas margens do rio Ave, a dependência da indústria têxtil e do calçado é de tal forma vincada, quer no emprego, quer na criação de riqueza, que se as ajudas não vieram rapidamente e em força, caminharemos tristemente para uma segunda crise do Vale do Ave, com todas as repercussões económicas e sociais que conhecemos.

Eu tenho um orgulho enorme, nos trabalhadores, nas empresas e empresários que diariamente continuam a lutar pela sobrevivência de muitas empresas, algumas, já quase seculares.

Tenho orgulho na qualidade dos produtos que apresentamos e na excelência da nossa mão-de-obra e nem o setor têxtil nem o calçado precisam de mendigar nada, apenas que o poder central perceba que é hora de pensar na indústria e a apoiar, numa fase complicada de quem tanto deu e continua a dar ao Vale do Ave e a Portugal.

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