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Sexta-feira, Março 29, 2024

Ricardo Costa dignificou o que é ser vimaranense

Ricardo Costa opôs-se ao aparelho do PS arrancando uma estrondosa vitória com 60,98% dos votos numa secção que acabou por não o desejar na presidência da Federação do distrito socialista. Perdeu de cabeça erguida enquanto que outros ganharam de cabeça baixa.

Texto de: José Eduardo Guimarães

O regozijo pela derrota do “amigo” e companheiro de partido que se via no sorriso de Luís Soares quando deixava a sede do PS, no largo do Toural, cerca das 2 horas da madrugada de Domingo, escondia um incómodo: o de que o actual presidente da comissão política perdeu parte considerável da sua base de apoio.
Estavam inscritos 1392 militantes, votaram 1015, na que fica para a história como a mais ampla participação dos militantes socialistas de Guimarães. Ricardo Costa obteve 619, Joaquim Barreto 388, sete foram votos nulos e um votou em branco.

O largo do Toural ganhou animação a partir das 14h. O estacionamento começou a ficar caótico porque a praça de táxis, eram inundada pelos “uber’s” socialistas que descarregavam militantes para votar. A fila engrossava, de gente, com máscara a esconder o rosto mas a não observar a distância social. Um militante que já tinha votado não entendia o poder unipessoal de Luís Soares de “não respeitar os militantes” na escolha do local mais adequado para a votação. O presidente da comissão política refugiou-se na sede, indiferente às agruras que os militantes sofriam durante a votação. E não ouviu nem os reparos nem as críticas que lhe eram feitas.

Um “socialista de há longo tempo”, que veio de uma freguesia, fora da cidade, sentado na esplanada do café, onde funcionava a “secretaria” da candidatura de Ricardo Costa, afirmava, já depois de votar: “ele {Luís Soares} é rancoroso, quis fazer mal a alguém, ao marcar as eleições para a sede”. E dizia sem medo “ele já fez a cama dele”, e como quem não poupa nas palavras “quando a cama é boa, eles não a largam”.

O homem cumprimentou Ricardo Costa e foi à sua vida. Ao longo da tarde, ouviram-se mais histórias. “Vim de propósito de Viana para votar em ti”, dizia um ex-autarca virado para Ricardo Costa que lhe sugeriu “liga à tua filha, para vir votar”. Deixava também o desabafo “a pressão que sofri, para votar no outro!”
O calor sentia-se e já depois das 15h, a fila de votantes, é dividida em duas e engrossa até ao limite do início da rua de Camões.

E entre os que aguardavam na fila para votar, os que chegavam à entrada da sede, estavam outros que se aglomeravam conversando. Uns exprimiam a sua indignação contra a escolha do local e a organização da votação nestas circunstâncias. Muitos deixaram de votar ao verem tanta gente aglomerada. E partiram. Não faltava, porém, quem mostrasse cansaço com os dirigentes que ocupam os cargos na nomenclatura socialista. Ouvia-se “é preciso dar lugar aos novos”, para além de histórias marcantes sobre comportamentos indignos de alguns militantes que se julgam mais donos do PS do que outros.

Um eleitor socialista, sentava-se a meu lado, e dizia “deixei um protesto escrito por não ver respeitadas as condições sanitárias neste processo de votação e pela falta de respeito para com os militantes obrigando-os a este desconforto”.
E não faltaram as explicações “ele {Luís Soares} só não quis outro sítio por causa de Barcelos” que optou por mudar a votação, “da sede para um pavilhão municipal, respeitando as pessoas”. E confissões de que “nem todos os elementos do secretariado estavam de acordo com esta decisão do presidente da comissão política local”.
Mas a votação seguiu e até às 22 horas, em nenhum momento a fila de votantes se desvaneceu, engrossando, diminuindo. A porta fechou com um militante de Airão a chegar, um minuto depois do fecho, sem poder votar.

Contar votos com o telemóvel…

Enquanto Luís Soares permanecia no seu bunker, cá fora Ricardo Costa e seus apoiantes, começam a fazer contas. Primeiro, somando os votos das concelhias com menor representação. Barreto ia à frente, com cem votos, depois sentia-se que o resultado de Barcelos podia ser outro, contrariando expectativas criadas em Ricardo Costa. Apesar de lá ter ganho, o número de votantes baixou e foi inferior ao esperado, beneficiando Barreto.
A certa altura, Ricardo Costa sentia que com os votos dos militantes de Guimarães podia ser eleito presidente da Federação se houvesse “uma solidariedade vimaranense” que mostrou que, afinal, no reino socialista, a expressão “duas caras” tem significado.

“Ricardo Costa escondia a sua desilusão ao ver que os seus pares o impediram de ir mais longe. E a raiva que até podia sentir mas que nunca extravasou, de dentro para fora…”

Apesar de ganhar em Guimarães contra tudo e contra todos, os 60,98% dos votos não chegaram. Barreto beneficiava dos votos da sua “coreia” onde Ricardo Costa ainda teve 17 votos.
Ricardo Costa escondia a sua desilusão ao ver que os seus pares o impediram de ir mais longe. E a raiva que até podia sentir mas que nunca extravasou, de dentro para fora.

Reconhecia-se, entretanto, o seu feito: o de abanar a secção de Guimarães e pôr o distrito de Braga em movimento.
Reconfortou-se, já era Domingo, com a vitória em Guimarães algo que poucos conseguiriam porque teve contra si um movimento “contra” enorme, de companheiros de partido da sua secção, de vereadores e presidente da Câmara, do seu “amigo” presidente da concelhia, de deputados eleitos para a Assembleia da República, de inúmeros militantes que vivem à sombra do PS tendo “emprego” em empresas e cooperativas municipais, e que são escolhidos como assessores políticos dos vereadores actuais.

Enfim, este movimento “contra” todo o “apparatchik” socialista e seus influencers, muitos dos quais preferiram engolir um sapo votando Barreto do que premiando o mérito do seu companheiro, de secção. Mas há um facto indesmentível com uma nuance, muito forte: esta “traição” não foi bem vista pela sociedade vimaranense, que apreciava ver um dos seus e dos “nossos” na presidência de um partido, pelo bem contra o mal, por Guimarães contra Cabeceiras. Ricardo Costa pode olhar para todos com a cara bem levantada mas eles não o poderão fazer da mesma forma, a não ser por pura hipocrisia.

São já demais os sinais de como Braga se juntou a Barreto para impedir que um vimaranense não chegasse ao topo da hierarquia regional do partido. E como outros vimaranenses ajudaram nesta tarefa de falta de bairrismo e de solidariedade política.
Ricardo Costa teve certamente o voto de militantes livres, que não dependem nem do orçamento, nem do Município na sua vida normal, que sentiram que era a hora de mudar a Federação do distrito, deixando que Guimarães tivesse um dos seus, num cargo importante a nível regional.

Luís Soares e muitos outros militantes socialistas, lavaram as mãos, tal como Pilatos, do seu voto em Joaquim Barreto, tendo como “desculpa” a palavra dada, como sendo honrada mas desonrada em tantas outras ocasiões. E se esta honrada palavra era apenas um compromisso pessoal do próprio presidente da comissão política e do presidente da Câmara, a verdade é que transmitiram, como um vírus, esta posição pessoal a quase quatrocentos militantes, que seguiram a ordem dos chefes e a vontade dos Deuses.

Mesmo contra estes pesos pesados, Ricardo Costa foi à luta e saltando para cima do ringue, desafiou todos com uma campanha quase imaculada, com novas, frescas e abertas ideias, que não eram apenas para consumo socialista. E foi ganhando apoios, fora de Guimarães, uns atrás de outros, sem controlar a honradez da palavra de outros, que à última hora, podem ter reduzido o seu apoio, por interferência de terceiros, já desligados da política e com processos em Tribunal às costas.

Muitos não entenderam porque é que José Sócrates alegadamente terá influenciado este processo, quando em Lisboa e em Barcelos conversou com dirigentes locais do PS, na semana antes da votação. Não faltou quem visse aqui uma “mãozinha” de interferência que pode justificar a votação menos expressiva no concelho barcelense.

© 2020 Guimarães, agora!

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