Guimarães Home Fashion Week aposta em mercados com poder de compra
O Guimarães Home Fashion Week (GHFW) já vai na quarta edição. Apoiada pelo Portugal 2020 (programa Compete) e com ajudas do AICEP, Câmara Municipal de Guimarães e Banco Santander tem sido sempre organizado pela Associação Home From Portugal.
O cenário e palco desta mostra é a Pousada da Costa, como sempre. Um local com um cenário “intimista” que deslumbra visitantes e compradores, dos diversos países que ao longo dos anos se fazem representar, e que fica lotada durante quatro dias: os seus quartos são ocupados por cada um das empresas presentes e até os seus corredores e salas, incluindo a varanda do Frei Jerónimo, se vestem com as cores dos têxteis-lar nacionais. A data continua a ser a ideal e é a que os compradores e expositores consideram a mais adequada: a meio do ano e em meados de Junho.
Não fora a colocação dos expositores, identificadores do nome de cada empresa – e porventura substituídos por outros suportes – e o cenário podia ser mais belo e idílico, com a entrada de cada quarto a parecer mais um lar com jardim do que um stand de exposições.
Seja como for, a verdade é que os visitantes e compradores não se fizeram rogados e entraram, porta dentro para conhecerem novos produtos, novas cores, métodos de fabrico mais amigos do ambiente, e matérias primas naturais a incorporarem o tecido com que é feito o lençol de cama, a almofada, o robe e um gama vasta de artigos. João Mendes e Maria Alberta Canizes são os promotores desta acção comercial que sentem “estar mais consolidada e sedimentada” e com a qual os fabricantes portugueses podem contar na sua conquista dos mercados externos.
Maria Alberta Canizes, ex-técnica do ICEP que mantém uma ligação umbilical ao têxtil-lar e em particular ao de Guimarães e sua região, sente que “GHFW já está no calendário dos compradores internacionais que procuram produtos de excelência”, que escolhem inovação e não cópias, que preferem as criações e o design português e se sentem satisfeitas por poderem vender um bom produto. O GMFW é, nos termos da regulamentação aplicada, um evento em que só podem participar as PME’s pelo que deixa de fora empresas como a Lameirinho e a Mundotêxtil, nomes sonantes do sector.
Contudo, a representação local e nacional do sector nesta iniciativa, composta por 53 empresas – 36 são do concelho de Guimarães, seis do Vale do Ave e as restantes (11) do território nacional, formam um leque da melhor oferta a clientes que chegaram de países que ficam, por norma, fora da expansão internacional das empresas. Austrália, Nova Zelândia, Brasil, Japão, América do Norte, Coreia do Sul, China, Rússia e outros mercados (com maior poder de compra) alguns emergentes estiveram nesta edição com um total de 320 compradores, o que é um recorde nas quatro edições do certame. Em 2016 apenas 60 compradores vieram a Guimarães, em 2017 já foram 172, em 2018 passaram a 263. Acrescem nesta representação jornalistas da “press profissional”, o que dá um alcance enorme à propagação da indústria do têxtil-lar, ao nome de Guimarães e à projecção do pais. Mesmo contando que a cobertura se faz por áreas de território quase correspondentes a continentes.
Porventura, esta terá sido a edição que mais agradou às empresas expositoras, que comungam da ideia de que houve mais gente a procurar comprar do que em edições anteriores, representam novos mercados – ainda que mais distantes. E que esperam, no futuro, pequenas correcções sobretudo no contingente de compradores a convidar. Maria Alberta Canizes concorda porque a Home From Portugal também não deseja ter “clientes a fazer número”.
O Secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias também passou pela Pousada da Costa, visitando todos e cada um dos quartos onde as empresas colocaram os seus produtos. Classificou o GHFW como “uma feira diferente, de um sector que acompanho em particular porque exporta uma parte significativa da sua produção, um sector onde Portugal é distintivo, através de uma oferta variada e de qualidade e onde todos devemos continuar a diferenciar”. Congratulou-se com o facto de “este ser o ano em que mais compradores visitaram as nossas empresas” e deixou Guimarães “com a convicção que 2019 será seguramente melhor do que 2018 e com um crescimento moderado, num contexto de incerteza e de desaceleração da economia”.
Antes já o presidente do ICEP tinha almoçado com a organização do certame. E Ricardo Costa fez a representação da Câmara deixando a nota de que este evento “tem repercussões importantes na economia, nas empresas e no turismo por os cientes que cá estiveram terem gostado da cidade, da sua história, e ficarem a conhecer que Guimarães é a capital do Têxtil-lar”.
Lasa tem o produto mais ecológico do mercado
A novidade já tinha sido apresentada em Londres, há uma semana, e segue agora para Tóquio. “Natura” é feito com algodão reciclado e orgânico e com um tingimento à base de produtos naturais, em apenas seis cores, e aplica-se a tudo o que é têxtil, desde a roupa de cama, aos felpos, colchas e almofadas.
A Lasa mostrou na GHFW, “Natura” uma gama de produtos apresentado como “o mais ecológico do mercado”.
Casimiro Lemos reconhece que esta ideia desenvolvida na Lasa – com contributos de alguns clientes – torna este produto a “flagshop” que por via de uma campanha de marketing, seguindo “a ideia de que nos têxteis podemos cuidar e defender o ambiente”, vai agora percorrer o mundo dos clientes da empresa.
A aceitação foi muito boa em Londres e também no GHFW pelo que a Lasa espera grandes resultados com este produto. O director comercial da empresa realçou a importância do Guimarães Home Fashion Week e da estratégia utilizada para “trazer a Guimarães clientes de mercados interessantes” e de mercados mais longínquos. A Lasa, contudo, já se expande para Singapura Austrália, Coreia do Sul e Japão.
Duas moscovitas com Guimarães no coração – Gostaram do que viram sobre o têxtil-lar
“Foi muito útil e foi uma boa ideia organizarem este evento num antigo mosteiro onde podemos contactar com uma vasta gama de produtos e com os melhores fabricantes de Têxtil-Lar” – declarou Olesya Popova sobre o Guimarães Home Fashion Week, durante uma entrevista de 12’ com um chá e um café pelo meio.
Olesya que viajou até Portugal com Anna Bykova, ambas “managers” da Togas, uma empresa com predominância no comércio de retalho do têxtil-lar na Rússia, gostou do que viu e sentiu não apenas na Pousada da Costa e na cidade, mas durante a curta estadia aqui na região.
As duas moscovitas já tinham estado em Guimarães, em 2015, e ainda se recordam da animação da Feira Afonsina mas agora decidiram viajar, organizando elas próprias a viagem e registando o que pretendiam ver.
Na Pousada de Guimarães, Olesya e Anna conheceram o têxtil-lar português e vimaranense e gostaram do que viram: a qualidade do produto, as suas cores, o design, a matéria prima. Tudo num local apenas, de forma calma. Adoraram o conceito do Guimarães Home Fashion Week e a sua apresentação nos quartos da Pousada, ou seja, com os produtos no seu devido lugar e num cenário real. O que é da cama, na cama, o que é do banho, no banho.
Mas Olesya sentiu-se inspirada por esta exposição (exibition), pois, “permitiu-me criar novas ideias e sonhar com o que fui vendo”, deixando entender que se apaixonou pelo têxtil-lar nacional. É que a variedade de peças, as múltiplas cores que se estampam em lençóis e fronhas de cama, em toalhas de banho, e nas peças de cozinha, fazem mesmo sonhar com a casa ideal. E adorou ver mostras diferentes e comparar, organizando assim uma colecção própria que idealizou e pode vir a comprar. A “purchasing manager” da Togas valeu-se de um inglês fluente ao contrário de outros colegas russos que apenas dominavam a sua língua mãe, tal como a sua colega.
Se Olesya gostou da gama de têxtil-lar que viu também adorou a cidade sobre a qual tinha ainda a recordação de 2015 – da feira Afonsina que viu animar o burgo vimaranense.
Em jeito de um tu-cá, tu-lá sobre o que sabia de Guimarães, Olesha parecia ter tudo na ponta da língua. Sabia onde estava, logo o nome da cidade, o importante da história – foi aqui que nasceu D. Afonso Henriques, “our native king”, e aqui tinha nascido Portugal, que Guimarães era a capital portuguesa do têxtil-lar e uma cidade bonita, e de que por cá se fazem coisas boas e bonitas.
O que iria pensar em termos de negócios quando chegasse à Russia? Olesya não o deixou claro apenas que a Togas tinha interesse em fornecer aos seus clientes produtos mais especiais, gostou do que se fazia por aqui e rejeitou logo quem faz cópias – os chineses – que não inspiram nem motivam.
A juntar ao melhor que viu, levou a simpatia de Maria Helena Ferreira – a agente que conhecem – dos portugueses (melhor as gentes do Norte do que as de Lisboa), a educação dos fabricantes, o sol, a gastronomia, o vinho (as batatas disse a Anna) e até o “luxo” de alguns produtos que viu nos diversos “lares” da Pousada. Também visitou algumas fábricas, perto do Porto e admite voltar nas próximas edições porque Portugal ficou-lhes no coração: Guimarães com o têxtil-lar e Alcobaça com as porcelanas.
E deixou, para o final, o maior dos elogios: “aqui sentimo-nos como em casa, sentimos a amizade de todos, e vivemos em família”. Foi, claro, uma óptima combinação entre “o trabalho e o resto”.
GHFW traz clientes de mercados mais distantes
Paulo Pacheco, é um “comercial” experiente na Têxteis JFAlmeida onde dirige o departamento de exportação.
Conhecedor de todos os eventos e exposições, do género, também é de opinião que “o Guimarães Home Fashion Week (GHFW) tem dado passos importantes na sua afirmação”. Recorda-se ainda da primeira edição e agora “já aparecem por cá um lote de clientes muito interessante”.
O único senão que aponta à organização é ter organizado visitas às fábricas em dia de Sexta-feira e Sábado, quando as fábricas não laboram a 100% e a laboração está parada ou em vias de parar. Outros reparos, ficam no ar porque este GHFW tem de apertar um pouco mais o critério de seleção de clientes, poucos já o fizeram em edições anteriores.
Gostou da ideia de convidar clientes de mercados mais distantes, da Coreia, Japão e América.
Sobre os produtos que a JFA mostrou, Paulo Pacheco referiu que a aposta continua em produtos mais “sustentable”, amigos do ambiente, inovadores e que incorporem matérias-primas tradicionais com outros produtos naturais, os algodões replicados e orgânicos entre outros.
Reiterou que o processo de produção do têxtil-lar continua a tornar-se mais amigo do ambiente, mesmo agora com a redução de consumos de água e de energia eléctrica.
Sobre a utilização de “fibras”, admitem que podem contribuir para produtos mais inovadores mas o preço que resulta da sua utilização é superior ao normal, pelo que se interroga: “como podemos ser amigos do ambiente e a que preço?”
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